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Caminhando pelos cafezais floridos: compreendendo as transformações do mercado

POR ENSEI NETO

ESPAÇO ABERTO

EM 02/02/2010

6 MIN DE LEITURA

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O mar não está pra peixe!

A partir desta premissa, foi escrito um dos livros que se tornou referencia para o pensamento estratégico nos últimos anos, A Estratégia do Oceano Azul, de W. Chan Kim, cujo principal argumento é o de que o planejamento de negócios deve ser estabelecido de acordo com a cor do oceano que você está ou pretende estar. É feita uma alusão do grau de competição a partir da coloração das águas: o oceano tem água azul porque as chances de confronto são muito baixas, enquanto que águas vermelhas indicam um ambiente hostil, tingidas pelo sangue dos vencidos.

Diversos artigos tem sido escritos sobre a difícil situação que a cafeicultura no Brasil está passando, o endividamento dos produtores, dos valores de comercialização que estão abaixo dos custos de produção e, é claro, do implacável aumento dos custos em geral.

Por outro lado, outros tantos artigos vem abordando para onde escorrem os lucros da cadeia comercial do café, buscando um vilão para a estória. E aqui ocorre uma interessante constatação: o chororô lembra um coral a muitas vozes! Assim como os produtores, a indústria brasileira também vem debatendo-se com o aumento de custos e uma guerra acirrada centrada na ocupação de espaços do mercado pelos competidores, que resulta em margens por vezes negativas, ou, num português claro, prejuízos. Do lado dos exportadores, a escassez de crédito, a volatilidade das cotações via as bolsas de negócios, principalmente a CSCE/NYSE e os custos operacionais galopantemente crescentes dá o tom da voz que faltava ao coral.

É quando ouvimos um outro coral cantando vibrantemente animado: produtores que esbanjam otimismo ao anunciar investimentos na adoção de novas tecnologias de produção, exportadores que acreditam na expansão dos mercados e nichos em que atuam, torrefadores que exibem novos e inovadores produtos, e redes que anunciam que é o momento de expansão via crescimento orgânico, que quer dizer "através de um maior movimento dos negócios". As canções deste coral são como "Odes à Alegria".

Mas, afinal, o que se passa?

Na realidade, as transformações do mundo e dos mercados vem ganhando cada vez maior velocidade, lembrando por vezes a famosa "Lei da Informática", que diz que a capacidade de processamento dos chips deve dobrar a cada 6 meses. Se isso ocorre, todo o segmento acompanha, como capacidade de memória, qualidade de vídeo e etecetera e tal. Como exemplo, um computador de dez anos atrás tinha memória de 2Gb, 25% da capacidade de um pendrive bastante comum hoje, de 8 Gb!

Empresas consideradas poderosas como a Pan Am, que aparecia no lendário filme 2001 - Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick fazendo vôos interplanetários, e a Editora Bloch, que teve a revista e a TV Manchete sucumbiram por não acompanharem as mudanças do mercado.

Há alguns anos, durante a famosa Crise Asiática, diversas corporações coreanas sumiram do mapa, deixando outras como Hyundai em delicada situação. Hoje os carros que estampam um "H" estilizado num emblema oval fazem sensação do mercado, tendo virado sonho de consumo. Incrível, não?

A língua japonesa possui 3 diferentes formas de escrita, dois de natureza fonética (representam sons), Hiragana e Katagana, e um constituído de ideogramas, que são os Kanjis. O ideograma, que tem, digamos, um desenho muito mais complexo, representa um conceito completo, assim como os numero arábicos "5" ou "10". Talvez não se saiba pronunciar, mas a idéia é compreendida.

A palavra Crise corresponde a um kanji composto, formado por dois outros, que significam, respectivamente, Risco e Oportunidade.

Em geral, nos momentos de crise, interessantes respostas podem ser encontradas, muitas vezes temperadas com grande criatividade. É quando nos vemos forçados a rever modelos, comparar desempenhos e procurar equivalências. Grandes empresas que estavam à beira da falência ressurgiram exuberantes depois de se prepararem para uma provável venda. É que para se vender qualquer coisa com valor, inicialmente tem de fazer uma rigorosa contabilidade, encontrar o que se tem de melhor para ser ressaltado e o que existe de pouco eficiente e bom para ser melhorado. E, muitas vezes, com todas essas lições de casa feitas, inicia-se a recuperação e encontro dos caminhos do sucesso. É o clássico caso "de um limão, fazer uma limonada".

Recentemente fiz uma viagem ao Peru para uma série de treinamentos, através do CQI - Coffee Quality Institute, ligado a SCAA - Specialty Coffee Association of America, bem como para realizar inspeções para certificação de laboratórios de avaliação de café pela SCAA. De qualquer forma, era uma viagem há muito desejada, pois, como se sabe, o Peru é o pais que lidera no fornecimento de cafés certificados Orgânicos e Fair Trade. Conhecer o que estava sendo feito diretamente com os produtores foi um grande aprendizado.

Por sorte, tive a oportunidade de participar de um importante encontro de cooperativas de café em Lima, coordenada pela organização Café Peru - Central de Café e Cacau de Peru, para falar justamente sobre tendências de mercado. Cooperativas de todo o país se fizeram presentes, juntamente com seus produtores.


Foto 1. Treinamento de Produtores. Ensei Neto

Um dos momentos que mais me marcou foi durante o almoço, quando um produtor da região chamada Selva Central veio me cumprimentar e me agradeceu pelos ensinamentos. Ele, de aparência marcada pelo escaldante sol daquela área, disse que tinha algo como 2 hectares de café, que ele pouco havia frequentado escola, mas que seu filho estava participando de um curso para aprender a provar café, porque assim ele poderia preparar e vender melhor a produção deles. Impressionante, não!

O esforço que as cooperativas peruanas, cujos produtores tem área média em torno de 3 hectares de café, estão promovendo passa pela difusão de boas práticas administrativas e sobre a importância na produção voltada para a qualidade. Adicionalmente, estão constituindo bons laboratórios para avaliação de café para o suporte junto aos produtores. Porém, o ponto alto é, sem dúvida, o esforço para ensinar os filhos dos produtores a provar café, no caso seguindo os protocolos da SCAA, para que tenham maior conhecimento dos cafés que produzem. Tive a oportunidade de fazer um pequeno treinamento com alguns desses jovens na Cooperativa de Perene, na Selva Central, e posso dizer que foi uma experiência inesquecível, principalmente pelo interesse que todos demonstraram para reconhecer as características sensoriais dos cafés, alguns de produção de suas propriedades.


Foto2. Cooperativa de Perene. Ensei Neto

Pode-se observar que as atividades e atitudes das entidades e produtores peruanos é a de que estão compreendendo as mudanças que o mercado está impondo e, dessa forma, se preparando para serem excelentes oponentes. Há um ditado japonês que diz "Numa batalha, que o meu oponente esteja em sua melhor forma!". Vencer adversários muito bem preparados tem sabor especial!

No Brasil, muitas cooperativas vem desempenhando papel semelhante, promovendo difusão de conhecimento através de seus encontros, dias de campo e cursos de áreas administrativas e técnicas. Conhecimento é o que leva ao domínio, pois há na Economia um conceito, baseado na chamada Assimetria da Informação, de que quem possui mais informação e conhecimento consegue capturar mais valor. Uma transação comercial se torna mais equilibrada quando os lados envolvidos conhecem perfeitamente as características do produto e, principalmente, as necessidades e objetivos de cada parte. Ao adicionar um bom trabalho de coordenação, onde exista uma visão uníssona das organizações envolvidas, o resultado esperado só pode ser o Sucesso.

É visível o esforço de muitas cooperativas e associações brasileiras em, promover o treinamento de seus produtores nos assuntos da qualidade do produto, investindo, também, na instalação de completos laboratórios para avaliar a qualidade dos cafés de forma precisa e, assim, juntamente com um bem treinado grupo de profissionais da área comercial, capturarem mais valor nos lotes de café comercializados.

Sim, temos também muitos casos de sucesso no Brasil e certamente na medida que mais cooperativas e associações se mobilizarem com esse foco, sensibilizando os produtores igualmente, o coro que canta de forma vibrante e alegre ficará muito maior.

ENSEI NETO

Especialista em Cafés Especiais.
Consultor em Qualidade e Marketing, Planejamento Estratégico e Desenvolvimento de Produtos & Novos Mercados.
Juiz Certificado SCAA e Q Grader Licenciado.

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ENSEI NETO

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 04/02/2010

Prezado José Casimiro,

O relato que fiz nada mais é do que uma das realidades que a cafeicultura está passando.
O Programa de Certificação de Café de Minas Gerais também vem atendendo pequenos produtores. Estou acompanhando um grupo cuja área média é de 3 ha e um dos produtores que considero emblemático é o Sr. Sebastião da Cunha, de Patrocínio, que tem 2 ha em plena produção.

Pequena propriedade tocada por ele e seu filho, mais a nora durante a colheita, é considerado um produtor de referência pelo esmero, por cumprir as exigências do programa e por registrar tudo o que faz.

Modesto, mas eficiente.

Está animado com a certificação, pois assim conseguirá diferenciais pela qualidade no Programa de Cafés Sustentáveis da ABIC.E, também, diz que nunca ficou tão entusiasmado em produzir café.

Certamente o escritório da EMATER de Patrocínio poderá lhe esclarecer mais sobre esse programa e seus produtores.

Como disse, realmente "o mar não está para peixe". Muitos problemas são os mesmos, independente da região ou país.

O que pretendi abordar é que a união dos produtores sob lideranças atentas às mudanças do mercado podem garantir maior competitividade.

Organização e foco.

É isso!

Grande abraço

Ensei Neto
ELIANE DE ANDRADE C. NOGUEIRA

SÃO SEBASTIÃO DA GRAMA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 03/02/2010

Caro Ensei Neto, tenho maior respeito pelo Sr., pelo seu conhecimento em relação a cafés especiais e concordo plenamente com que o Sr. disse.Aqui na nossa região , onde se colhe cafés especialíssimos, fazendas estão se aprimorando na colheita de cafés especiais, treinando os funcionarios , melhorando equipamentos,identificando talhões e etc... Estamos também vendendo nosso produto para empresas voltadas para esse tipo de mercado.Mas, meu caro Ensei,a cafeicultura não vive somente de cafés especiais , isto é apenas uma parte do mercado, o que precisamos urgentemente é de uma política para cafeicultura para dar renda para o produtor,inclusive agregando mais valor ao café especial, que na minha opinião ainda está muito baixo, tendo como exemplo a ILLY que pagou para os lotes em média 360,00 a saca , levando-se em conta que são cafés de bebida excelente,e peneira alta, com custo para preparo e outros gastos como transporte , emfim...A cafeicultura precisa urgentemente se estruturar à partir de verdadeiras lideranças para que possamos produzir e ter renda, gerando empregos ,certificando nossas propriedades ,enfim, socioambientalmente corretos, mas, vamos lutar e se preciso for, enfrentar todas as pessoas que com interesses contrários aos nossos ,estão fazendo o setor ficar na miséria.NÃO VAMOS ACEITAR MAIS ISTO, CHEGA!!!!!vAMOS APOIAR A SINCAL E DEFENDER NOSSO INTERESSES!!!!
JOSÉ CASIMIRO PIMENTA

CARMO DO RIO CLARO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 02/02/2010

Fico me perguntando:

- se esse sr. ENSEI UEJO NETO fosse cafeicultor brasileiro e produzisse em uma área de 3 ha,

= se vivesse as dificuldades de investimentos e retornos do mesmos nessa cafeicultura de preços aviltantes durante anos,

- se sentisse as dificuldades de não poder estabelecer um preço justo para o seu produto (A HYUNDAI CERTAMENTE NÃO VENDE SEUS PRODUTOS A PREÇOS ABAIXOS DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO),

- se tivesse que cumprir todas as exigências irracionais relacionadas ao meio ambiente e ao trabalhador rural,

- Se no final de uma safra constatasse que continua com dívidas.

Será que continuaria a pensar de acordo com esse seu artigo?

RESPONDAM-ME, SE PUDEREM......

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