O café originalmente na Etiópia era sub-bosque. À medida que os tratos aumentavam essa prática foi sendo abandonada até produções a pleno sol. Esse caminho foi percorrido rapidamente no Brasil. As experiências na década de 1930/40 foram abandonadas. Na Colômbia levou mais tempo e a Costa Rica praticamente abandonou a prática. Persiste na Guatemala e mais em El Salvador, mas com médias de produções baixas.
Agora outra vez. Há alguns anos em prosa com Dr. Ângelo P. Camargo discutimos a arborização, sombra móvel, evapotranspiração, mobilização de nutrientes, horizontes diferentes de extração de água. Isso mais o medo da geada levou-me a plantar Grevilea no meio de alguns talhões, no espaçamento de 20 x 20 ou seja 25 árvores por hectare mais pinus nos quebra ventos nos carreadores.
Após nove anos tenho, como disse, suspeita fundada do sucesso. Suspeita também autorizada pelo entusiasmo do meu administrador. É difícil comparar com exatidão produção com testemunhos pois são dispares em variedades, ano e espaçamento. Apesar disso a impressão ou suspeita é favorável. A maturação é mais lenta e uniforme. O aspecto é muito melhor e as capinas menores. Nas altas temperaturas deste ano o desenvolvimento das plantas foi melhor. A variação de safra também menor. A matéria orgânica no solo comprovadamente maior. Sem sol no solo, mais folhas das árvores.
A questão do sombreamento e agora a arborização das lavouras de café é antiga. Sendo originário de áreas florestadas na Etiópia, o café sombreado sempre teve suas razões e adeptos. As experiências nesse sentido no Brasil foram desalentadoras e a idéia praticamente abandonada.
Novas versões tomavam corpo. A mais difundida, o quebra vento, hoje é totalmente aceita. Novas práticas de manejo, espaçamento e variedades levavam a novos conceitos de prática, hoje a arborização. Deve ser levada em consideração que as novas descobertas sobre aquecimento, via radiação, levam à arborização como solução. Solo, ar menos quentes, calor absorvidos pela cobertura. Demanda menor de água, quando agravada por vento. São argumentos novos, mas interessantes.
Trago aqui meu testemunho, ou melhor, suspeita de que a arborização deve ser mais estudada. Experiências em minha Fazenda Jamaica, em Ribeirão Claro/PR, apontam para seu sucesso. O Paraná tem uma condição especial que aumenta a viabilidade do café arborizado: é o drama da geada. Não resta dúvida que cafezais assim protegidos são menos afetados. Na geada de 1942 a fazenda Monte Belo, de meu avô, também em Ribeirão Claro/PR, colheu razoável safra debaixo dos cedrinhos plantados como quebra vento.
Foto 1: Fazenda Jamaica: sombreamento e quebra vento, importantes no café e em todas as lavouras, inclusive grãos.
Resta agora o teste da geada. O qual não tenho a menor ansiedade. E também anotações mais precisas para que nossa suspeita seja mais consubstanciada.
Nesse entretempo e com muita humildade posso dizer que vale a pena.
Artigo originalmente publicado na DBO Agrotecnologia, publicado no CaféPoint, com autorização da editoria da revista.