Saímos da safra de 2006/07 com as lavouras preparadas para produzir bastante café na safra seguinte, algo em torno de 10 milhões de sacas ou até mais, pois tivemos dois anos com muitas chuvas, que ocorreram de forma bem distribuídas, favorecendo muito as lavouras.
A queda da safra 2007/08 foi proveniente do abortamento de flores e frutos devido à estiagem ocorrida no período de floração e pós-florada e do rendimento do café maduro para pilado. No ano anterior, safra 2006/07, o rendimento de café maduro para pilado foi 14% maior que na safra 2007/08. A queda no rendimento não foi provocada por falta de água durante o período de granação, mas pela desuniformidade de maturação provocada por floradas espaçadas e tardias, ocasionando, inclusive, atraso na colheita de aproximadamente 20 dias.
Podemos afirmar que a safra 2007/08 foi, na verdade, favorecida, pois a maioria das áreas irrigadas dispunha de água para irrigação, as represas estavam cheias devido às chuvas dos anos anteriores.
Para a safra 2008/09 a situação climática foi semelhante a ocorrida em 2007/08, mas com um agravante: a maioria das represas secaram, e mesmo quem tinha irrigação viu a lavoura ser consumida pela estiagem. Além disto, o potencial produtivo inicial da safra 2008/09 foi bastante inferior ao da 2007/08. O máximo que poderíamos esperar para a safra 2008/09 era uma safra igual à anterior, caso não houvesse outro período de estiagem. Dois novos fatores se agregaram à atual safra:
Primeiro, na expectativa de colher uma boa safra em 2008/09, os produtores de conilon se endividaram, investindo em irrigação, novos plantios e na compra de secadores, máquinas e implementos agrícolas. Com a frustração da safra, as dívidas se acumularam. O segundo fator que também está afetando a produção é o grande aumento nos preços dos insumos, principalmente adubo.
Os solos nos quais é cultivado o café conilon são normalmente pobres em nutrientes. Podemos generalizar e dizer que o café conilon só produz bem à base de adubos químicos, sem os quais não se podem esperar boas produtividades. O que se ouve dizer é que quem fez quatro adubações nos anos anteriores agora vai fazer três ou duas, apenas. Outros, uma ou nenhuma.
A projeção é uma redução acima de 40% no uso de adubo no café conilon para esta safra. Mesmo que chova bem no restante do período, a produção da safra 2008/09 já está praticamente definida. Pode ocorrer ainda uma produção inferior a 6,5 milhões de sacas, caso haja mais problemas climáticos até a colheita.
Para a safra 2009/10 as coisas começaram ruins. Praticamente não houve crescimento dos ramos até 10 de novembro nas áreas sem irrigação e nas áreas com irrigação deficiente. Nas áreas bem irrigadas, que são poucas, o crescimento foi reduzido, afetado pelas altas temperaturas ocorridas neste período. O crescimento dos ramos até 15 de novembro representa 40% da produção de café da safra 2009/10. A seca neste período comprometeu aproximadamente 70% do crescimento dos ramos.
Com as chuvas de novembro pode haver um crescimento compensatório, reduzindo as perdas para 45%. Desse modo, a safra 2009/10 terá perdido 18% de sua produção de agosto a novembro de 2008. Se associarmos o efeito da redução de 40% na adubação no ano agrícola 2008/09, podemos acrescentar mais uma redução de 25%. Para um potencial de produção das lavouras de conilon capixabas de 12 milhões de sacas, a produção esperada até agora (novembro de 2008) para a safra 2009/10 seriam de no máximo 7,4 milhões de sacas.
Se houver um aumento expressivo do preço do café conilon a partir de setembro de 2009, como esperamos, se as condições climáticas forem favoráveis e se houver uma política de armazenamento de água para irrigação, só teremos safra de conilon próxima de 10 milhões de sacas em 2012.
O Espírito Santo vai perder entre as safras 2007/08, 2008/09 e 2009/10 no mínimo mais de 15,6 milhões de sacas. A pergunta que fazemos é: quem é o culpado por esta situação? Todos nós sabemos. Existe no Brasil uma política de armazenamento de água para irrigação? E quem perdeu com isso? O produtor em primeiro lugar, depois o Estado e, consequentemente, toda a cadeira produtiva do café.
Figura 1. Represa após dois anos de estiagem
Figura 2. Lavoura com irrigação, mas sem água para irrigar
Figura 3. Lavoura em solo arrenoso sem irrigação
Figura 4. Frutificação desuniforme provocada por floradas espaçadas
Figura 5. Abortamento de frutos em lavoura com irrigação deficiente no período de outubro/novembro
Figura 6. Lavoura sem irrigação favorecida por pequenos períodos de chuva
Figura 7. Lavoura bem irrigada