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A influência dos fundos de hedge nos preços das commodities no mercado físico.

POR JORGE QUEIROZ

ESPAÇO ABERTO

EM 01/09/2006

8 MIN DE LEITURA

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Já há algum tempo que venho comentando ou através das minhas análises conjunturais ou em palestras que realizo ou participo, ou mesmo em algumas conversas informais que mantenho com representantes de segmentos ligados ao setor cafeeiro, sobre a influência e os reflexos dos movimentos voláteis registrados nas Bolsas de Mercadorias - nos Estados Unidos - NYBOT -, Londres e São Paulo (BM&F), nos preços praticados no mercado físico do café.

A cada dia que passa, estamos presenciando as atuações, cada vez mais ousadas, de um "polêmico grupo de investidores", no mercado bursátil mundial - os gestores dos grandes fundos de hedge internacional - que "passeiam" pelos mercados mundiais em busca de melhores opções de investimentos.

Os números relativos a esses fundos são sempre relacionados a dimensões superlativas. Segundo estimativas do próprio FMI, Fundo Monetário Internacional, esses fundos, em conjunto, têm uma disponibilidade de capital para aplicação da ordem de 2,0 trilhões de dólares.

Para se ter uma idéia do que representa um volume financeiro desta proporção, basta dizer que a China, que vem registrando sucessivos e substanciais superávits na balança comercial, e que ainda, vem impondo um crescimento sustentado do seu PIB, por anos consecutivos, na faixa de 9% a 10% (muitas vezes chegando a atingir até 12% ao ano), deverá está registrando o montante de 1,0 trilhão de dólares em reservas cambiais, ou seja, 50% daquele valor, agora, na virada de 2006 para 2007.

Essa quantia equivale ainda, a soma do Produto Interno Bruto de todos os países juntos da América Latina e do Caribe, ou a 95% do PIB da França, ou a 91% do PIB do Império onde nunca o sol se põe, que é a Inglaterra (no caso aqui, não é só com relação ao PIB da Inglaterra e sim, ao de todo o Reino Unido), ou a quase três vezes às reservas cambiais da segunda maior economia do mundo, o Japão - hoje na casa dos US$ 800,0 bilhões, o país que mais poupa no mundo, ou ainda a quase 5% de todo o Produto Interno Bruto do mundo! É uma soma espetacular, fantástica, sobre todos os aspectos!

Para se ter uma idéia mais aproximada do poder econômico dessas organizações, convém citar um fato interessante, e porque não dizer inusitado, a esse respeito. Em 1992, o fundo capitaneado pelo mega-investidor George Soros, conseguiu amealhar ganhos em torno de 1,0 bilhão de dólares, numa única operação, fruto de um desses ataques especulativos - uma ousada e atrevida movimentação financeira -, que o mesmo fez contra o Banco da Inglaterra. No citado episódio ele apostou na desvalorização da libra esterlina, o que acabou acontecendo. Enfim, ele "ganhou a briga"!

Agora imaginem a magnitude dos "tentáculos" de um fundo como esse, que tem o "poder (de fogo) de colocar de joelhos até mesmo o Governo da Inglaterra", o que não poderia fazer numa economia ainda não tão madura de um mercado emergente, ou então, numa bolsa que opera com uma commodity com um universo bem mais limitado e restrito financeiramente, isto, num comparativo com o exemplo que citamos anteriormente.

É importante lembrar que esses fundos acabam obtendo os seus lucros, algumas vezes extraordinários, através das oscilações ocorridas (ou provocadas), nas cotações dos ativos comercializados nas bolsas. Essas bruscas movimentações do valor dessas cotações, muitas vezes podem vir a "alterar uma tendência do preço" de uma commodity, conforme afirma o jornalista econômico Cláudio Gradilone, num de seus artigos.

Sobre o assunto, os economistas do Fundo Monetário Internacional, "já advertiam para esses riscos - devastadores em alguns casos -, em um relatório de 2004, sobre as finanças globais. Os movimentos dos fundos podem desestabilizar facilmente alguns mercados". Sem querer fazer algum tipo de comparação paralela, não custa nada lembrar o que vem acontecendo nos dias atuais, no mercado de café: Estamos diante de uma perspectiva concreta de uma oferta muito justa frente à demanda do produto, e o preço continua "patinando" no mercado físico.

Recentemente, no Brasil, foi registrada uma dessas turbulências que acabou provocando uma alta na moeda americana de 11%, com o dólar batendo nos R$ 2,40, e simultaneamente, uma queda no índice BOVESPA, que nos momentos mais difíceis beirou os 20%.

Segundo o Banco Central do Brasil, no mês de junho (deste ano), um volume recorde de 22,940 bilhões de dólares, em recursos externos, acabou deixando o país. Sobre a magnitude desse valor vale dizer que esta é a maior importância que já saiu do país, em um único mês, desde que a série histórica do Governo foi criada em janeiro de 1982.

Tal fato acabou provocando enormes perdas para grande parte dos investidores, basicamente em ações e títulos públicos. O Tesouro Nacional, inclusive, teve que entrar no mercado para tentar estabelecer um razoável equilíbrio. Os efeitos desde abalo só não foram sentidos em maiores proporções, porque os fundamentos da nossa economia estão muito favoráveis.

No caso, essa volatilidade não ocorreu apenas no mercado brasileiro. Os mercados emergentes acabaram, de alguma forma, sendo atingidos, em maior ou menor grau, pelas atuações e decisões desses gigantes financeiros.

Eles estavam atentos (na época) a uma possível decisão do FED - Federal Reserve Bank -, o Banco Central Americano, que sinalizou para o mundo sobre a possibilidade de realizar um incremento na taxa de juros daquele país - que naquela altura estava em 5% ao ano -, visando inibir o surgimento de um possível surto inflacionário na economia americana, o que por dedução, acabaria provocando uma desaceleração na atividade econômica mundial.

Com essa atitude adotada pelo FED, esperava-se que viesse a ocorrer um deslocamento maciço de investimentos desses fundos, dos países emergentes para os Estados Unidos -, que apesar de não oferecer uma rentabilidade assim tão atraente, possui uma economia estável, onde o risco praticamente inexiste.

E o que estava sendo previsto acabou acontecendo: houve um incremento em 0,25 ponto percentual nos juros americanos, passando dos 5,0 para 5,25% ao ano; e alguns economistas comentam que face a alguns indicadores da economia americana estarem ainda um pouco elevado - como, por exemplo, os preços pessoais pagos pelos consumidores, que no mês de maio atingiu 2,1% (excluindo combustíveis e alimentos) -, ainda existe uma possibilidade concreta de que esses juros venham a sofrer um novo incremento, o que poderia provocar alguns desarranjos nessas economias emergentes.

O cenário sobre a perspectiva de uma desaceleração na economia mundial talvez não seja tão factível assim, conforme se tem comentado nos últimos dias nos meios econômicos. Apesar da economia americana, aos poucos ir começando a mostrar sinais de um arrefecimento na sua atividade, as economias, européia e japonesa, estão apresentando dados indicativos de que elas avançam por um caminho oposto, rumo à reativação.

O DIW, órgão que congrega seis respeitados institutos de pesquisa, concluiu em suas consultas, que a Europa crescerá a uma taxa de 1,8% neste ano; e isso, após seis anos de semi-estagnação, em torno de 1%. A demanda interna alemã cresceu 2,1%, a maior desde a estagnação iniciada em 2004. Por outro lado, a economia japonesa cresceu no primeiro trimestre a uma taxa de 3,1% ao ano. A produção industrial está crescendo a 3,6%. O crescimento do PIB japonês de 3,8% é o melhor resultado desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

Voltando aos fundos de hedge:

Esses grupos de investidores têm uma capacidade fantástica de se movimentar muito rapidamente. Eles não estão atrelados a nenhuma restrição (de ir e vir), ou a alguma outra regulamentação imposta pelos Bancos Centrais locais, assim como os Bancos que atuam no varejo ou Bancos de investimentos, estão, e que são obrigados a se enquadrarem a determinadas normas de procedimento, quando existe a necessidade de se promover ajustes na política econômica desses países.

Portanto, quando esse volume absurdo de recursos se desloca de uma só vez, para dentro ou para fora dessas economias emergentes - e em geral eles (os fundos), andam juntos ou para um lado ou para o outro, observando o tal efeito manada -, costumam causar sentimentos que vão da euforia extrema à decepção profunda (ou em alguns casos, chegando mesmo ao desespero incontrolável).

Por outro lado, esses fundos, não têm limites definidos de atuação. São totalmente livres para assumirem grandes riscos e atuarem em todos os mercados possíveis. É importante frisar que qualquer investidor pode auferir ganhos financeiros nas bolsas (de mercadoria, de ações...), tanto quando elas estão em alta, como também quando estão em baixa. Daí alguns desses fundos se posicionarem na posição de comprados ou vendidos, de acordo com os seus interesses no momento da aplicação.

Com relação ao café, o que temos presenciado, recentemente, é que os vendidos, aqueles que estão apostando na baixa, tem levado uma certa vantagem em relação aos comprados.

No dia 12/08/05, a CONAB divulgou o seu terceiro levantamento da safra de café 2005/2006, o qual apontava para um incremento de 2,68%, em relação aos números divulgados no segundo levantamento daquela mesma safra -, o qual tinha sido divulgado três meses antes, também pela própria CONAB.

O levantamento mais atualizado - o de agosto de 2005 - apontava para uma previsão de 33,3 milhões de sacas, enquanto que o segundo levantamento, tinha uma estimativa de 32,4 milhões, o que representava uma diferença a maior de 871,0 mil sacas.

Na época, todos que acompanhavam o mercado de café, sabiam que qualquer uma daquelas duas estimativas de safra, representava um número muito reduzido face às nossas necessidades vindouras. Até porque, 2005, tratava-se de um ano em que os pomares de café nacional sofriam o efeito da bi-anualidade negativa, época em que a planta sofre um estresse fisiológico e reduz a sua capacidade produtiva.

As 871,0 mil sacas correspondentes à diferença entre uma estimativa e outra, representavam apenas irrisórios 21 dias de consumo interno. Independente disso, o mercado bursátil utilizou essa diferença a maior, como justificativa para depreciar as cotações do café.

Logo no início do pregão do dia 15/08/05 (uma segunda-feira), que foi o primeiro dia útil subseqüente à divulgação do terceiro levantamento, a Bolsa de Nova York - a NYBOT, começou a cair de forma acentuada, registrando uma variação negativa no final do dia de 875 pontos, uma queda muito além do efeito da entrada da safra do café que ocorria naquele momento. A BM&F caiu 730 pontos.

Tentaram atribuir à CONAB, a responsabilidade pela queda das cotações no mercado físico, simplesmente porque ela tinha divulgado os números da estimativa de safra; como se a Companhia tivesse o interesse em divulgar um número menor ou maior com relação a real previsão, o que é uma hipótese, no mínimo, absurda sobre todos os ângulos.

Continuo achando que as bolsas deveriam refletir o que vem ocorrendo ou a perspectiva do que poderá vir a ocorrer na economia. Essa importante e fundamental sintonia não tem sido vista com muita freqüência ultimamente, pelo menos no mercado de café.

Artigo publicado originalmente no site da Conab, em julho de 2006. Republicado no CaféPoint, mediante autorização do autor.

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ARI DE OLIVEIRA FILHO

MANHUMIRIM - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 02/09/2006

Muito oportuno e valioso o artigo do amigo Jorge Queiroz.

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