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Uma admirável trajetória

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 01/09/2016

3 MIN DE LEITURA

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*Por Bruno Varella Miranda e Sylvia Saes

A recente morte de Luiz Hafers nos convida à reflexão. O cafeicultor e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB) deixa um legado de busca incansável por soluções para os desafios de sempre. Amante do debate, sabia como poucos desafiar o interlocutor a polir seus argumentos. Ao fazê-lo, demonstrava imensa curiosidade pelo contraditório. Sempre em busca de um denominador comum, era hábil na arte de definir problemas, aproximando ambos os lados de uma possível solução. Dizia, com bom humor, que só não mudava de opinião em relação ao time do coração e ao sexo. Ao mesmo tempo, não abria mão de seus princípios.
Dono de um raciocínio rápido, era conhecido por expressões que resumiam seu pensamento. "Por convicção, e não por conveniência", gostava de repetir a fim de enfatizar a crença em uma posição. Em uma sociedade tão acostumada aos movimentos erráticos em busca de ganhos de curto prazo, oferecia coerência. Pode-se concordar ou não com seus diagnósticos - nós mesmos discordávamos frequentemente -, mas não menosprezar o valioso papel que indivíduos como Hafers desempenham no chamado "mercado de ideias".

Autodeclarado conservador, personificava os traços mais louváveis dessa corrente de pensamento. Diz o ex-presidente do Uruguai, José Mujica, que a patologia da direita é o gosto por defender ideias reacionárias. O conservadorismo de Hafers, ao contrário, era repleto de vitalidade. Didaticamente explicava que, em um mundo em constante mutação, insistir em ideias velhas somente prolongaria o sofrimento. Pedia por "regras, não intervenções", e sonhava com que tais direcionamentos se mantivessem no tempo. Apesar das eventuais decepções, nunca desistiu de transmitir suas opiniões.

Observador atento, soube transformar experiências de vida em oportunidades econômicas. Entendeu desde cedo as delícias e as mazelas do ambiente de negócios brasileiro, adaptando suas iniciativas às condições fornecidas pelo ambiente institucional local. Mais importante, evitou os preconceitos tão incrustados em nosso ethos, viajando pelo interior do país. Para Hafers, estar presente e tirar conclusões próprias era fundamental. Não por acaso, enxergou potencialidades em cada um dos diversos rincões do Brasil. Em cada conversa, sublinhava o orgulho de ser um produtor rural.

Percebeu desde cedo que uma parte importante da agricultura brasileira se baseava no mais puro extrativismo. Preocupado com a sobrevivência da atividade no longo prazo, defendeu a busca por métodos mais racionais de produção. Evitando os extremos, enfatizava a conveniência econômica de um maior respeito pelo meio ambiente. Nessa, como em outras questões polêmicas, defendeu enfaticamente que os produtores rurais eram parte da solução, e não do problema.

Nascido em uma tradicional família de Santos, desde cedo compartilhou experiências com a elite cultural e econômica. Graças à infância privilegiada, tirou proveito de oportunidades impensáveis para a maioria dos jovens de seu tempo. Entretanto, teve suficiente sensibilidade para buscar entender aquilo que ocorria além dos muros que abundam no Brasil. Honesto, reconhecia as diferenças com os antagonistas. Porém, compreendeu desde cedo que a discordância deveria se limitar às soluções propostas.

Por isso, foi um dos primeiros "conservadores" a dizerem com todas as letras que, por trás do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), existia um problema. Ademais, percebeu que o debate somente seria ganho caso organizações como a SRB apresentassem uma solução alternativa ao desafio.

Hafers foi, acima de tudo, um estrategista. Formulou conceitos e testou ideias, pensando em cada uma de suas fundações. Se não venceu todos os debates, ao menos fez com que as pessoas à sua volta pensassem. Fará muita falta.

Talvez as palavras acima soem abstratas, e de fato o são. Afinal, ninguém melhor que o próprio Hafers para contar histórias e resumir o seu pensamento. Aos que não o conheceram, sugerimos fortemente a leitura de um relato ao Museu da Pessoa. Ademais, recomendamos uma entrevista concedida à Folha de São Paulo há mais de vinte anos.


*Por Bruno Varella Miranda é mestre em Administração pela USP e doutorando em Economia Agrícola pela Universidade de Missouri - Columbia. 

*Sylvia Saes é professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 03/04/2017

Prezado Renato,



Agradecemos o comentário. Ademais, excelentes frases deixadas por você, e que tão bem demonstram a presença de espírito típica do Luiz Hafers.



Algo que chama a atenção na trajetória do Hafers é a habilidade de ter uma opinião clara sobre questões importantes sem menosprezar as outras visões. Em momentos de polarização e conflito, trata-se de um exemplo a ser seguido.



Atenciosamente



Bruno Miranda
RENATO H. FERNANDES

TEIXEIRA DE FREITAS - BAHIA - COMÉRCIO DE CAFÉ (B2B)

EM 21/03/2017

Caros Sylvia e Bruno,



Só agora, leio a bela homenagem que fizeram a "Seu Luiz", como, sei lá porque, aprendi a chamá-lo.



" Sou católico, mas de oposição."



" O Brasil é o país onde alguém é contratado por 10, recebe 7 e custa 15!" (essa citei ontem, por coincidência rsrs)



Inteligente, assertivo, sagaz, divertidíssimo, marcante, amigo e, acima de tudo, sincero!



Passar todo um final de semana de prosa com ele, quando fizemos palestras, num simpósio de café em Muniz Freire, lá no início do Cafepoint, com certeza, foi uma experiência da qual vou me lembrar pra toda vida.



Deixa uma boa saudade.



Abraços
ANNIBAL MENDES GONÇALVES NETO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 06/09/2016

Caros Sylvia e Bruno



Parabéns pela bela homenagem, vocês relataram o que era realmente o Hafers

Que privilégio termos convivido com ele, suas conversas, suas ideias e suas convicções realmente eram fascinantes.

O agro perde um grande líder, e o Brasil um grande homem.



Um abraço,



Annibal
MARA FREITAS

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 06/09/2016

Dra Sylvia Saes,

adorei seu artigo.



Sem dúvida, trata-se de uma perda lastimável, principalmente no quesito ética e lisura. Trata-se de uma das poucas autoridades do agronegócio brasileiro que não foi signatária do Centro de Inteligência do Café e que, jamais, durante a ação de auditoria que empreendia quando na Assessoria Especial do Café na SEAPA-MG, escreveu uma linha de e-mail sequer para defender interesses de pessoas de índole duvidosa, patrocinadores de corrupção.



Foi assistindo o Dr. Hafers em palestra em Salvador, que aprendi a diferenciar preço de valor.



Atenciosamente,



Profa. Adm. Mara Luiza Gonçalves Freitas
ISABELA PASCOAL BECKER

CAMPINAS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 05/09/2016

Belo texto e merecida homenagem.

Importantissimo compartilhar que foi Hafers para que não o conheceu!
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 05/09/2016

Prezado Paulo Henrique



Obrigado pela leitura e pelo comentário. Como você bem diz, vamos em frente. Nosso desafio é fazer com que a troca produtiva de ideias não pare nunca! Não existe melhor homenagem do que manter acesa a chama do debate.



Atenciosamente,



Bruno Miranda
PAULO HENRIQUE LEME

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 05/09/2016

Querida Professora Sylvia e caro Bruno,



Linda a homenagem de vocês. Traduziram em palavras boa parte de meus sentimentos sobre essa pessoa singular. Um exemplo. Hafers deixou o mundo do café, e com ele, o debate ficou mais pobre. Vamos em frente, é que que ele gostaria que fizéssemos.



Um grande abraço,



PH


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