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O que o Nobel tem a ver com nossa rotina?

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 15/10/2009

3 MIN DE LEITURA

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O anúncio do Prêmio Nobel de Economia, feito no começo da semana, trouxe muito mais que a surpresa pela indicação da primeira mulher na história. Juntamente com o reconhecimento dado ao trabalho de Elinor Ostrom, foi anunciada a vitória de Oliver Williamson, economista norte-americano que muito influenciou a pesquisa aplicada aos sistemas agroindustriais. Aqui no Brasil, boa parte daquilo que vem sendo publicado acerca do tema deriva das contribuições feitas por este economista desde a década de 70.

O principal mérito de Williamson foi o de transformar uma ideia bastante interessante em algo palatável aos olhos dos economistas. Baseado em um texto pouco divulgado até então, publicado por Ronaldo Coase na década de 30, Williamson formatou uma poderosa estrutura capaz de explicar a organização das transações. Desde então, os cientistas sociais não limitam sua atenção ao estudo dos mercados, observando igualmente a grande riqueza de arranjos encontrados no cotidiano econômico.

Mais especificamente, Williamson busca demonstrar que transações econômicas não são organizadas exclusivamente pelos sinais fornecidos pelo mecanismo de preços, a famosa "mão invisível". Ainda que a cotação de um produto seja fundamental para a compreensão dos movimentos na esfera econômica, não raramente estruturas alternativas são construídas a fim de garantir a realização de investimentos.

Uma possível aplicação para o caso da cafeicultura seria a seguinte: vender café no mercado commodity é apenas uma das formas possíveis de inserção no setor. Para muitos, a decisão de entrada em um nicho específico exige a realização de investimentos que somente trarão o retorno desejado caso encontrem parceiros adequados. Daí a necessidade da constituição de contratos, capazes de garantir que tal cooperação emirja.

Contratar, porém, não sai de graça. Qualquer que seja o elo da cadeia considerado, o ato de negociar, redigir contratos, e fundamentalmente, garanti-los, pode gerar custos consideráveis. Williamson deriva sua principal hipótese dessa constatação, ao afirmar que os agentes econômicos buscarão estabelecer uma relação contratual que minimize os custos, buscando garantir o sucesso da transação. Ou seja, o produtor de cafés especiais desejando ganhos maiores que aqueles proporcionado pelo contrato commodity tenderá a se amparar em contratos, redigidos com base em uma lógica minimizadora de custos, a fim de mitigar os riscos derivados da realização desses investimentos.

Apesar de corresponder a uma simplificação do pensamento de Williamson, a descrição feita acima demonstra o básico de sua contribuição. Indo além, esse autor se apóia, por exemplo, em pressupostos comportamentais diferentes daqueles considerados pelos economistas. Dito de outra forma, as características dos humanos descritos nos modelos de Williamson são diferentes daquelas ensinadas nos cursos básicos de economia. Para o vencedor do Nobel 2009, em especial, chama a atenção o fato de que as pessoas podem adotar estratégias oportunistas, prejudicando seus parceiros. Por mais irrealista que possa soar àqueles desacostumados aos princípios da teoria econômica, tal hipótese é desconsiderada por boa parte dos modelos dedicados a compreender os fenômenos na área.

Por isso, o trabalho de Williamson contribui para uma aproximação entre a realidade e aquilo que os livros tentam prever. Longe de ser perfeita, entretanto, a contribuição de Williamson é alvo de uma série de críticas. Há quem diga, por exemplo, que a estrutura desenvolvida por esse autor é demasiado reducionista, ignorando problemas fundamentais derivados da organização econômica. Nada mais natural, dado que a ciência vive, na maior parte do tempo, desses passos lentos, gerando uma melhora contínua.

Já para outros, a hipótese de Williamson é incorreta, pois olha exageradamente para as características de uma transação, ao invés de observar aqueles que a realizam. Nesse sentido, a decisão de estabelecimento de um contrato não seria consequência apenas do tipo de bem comercializado (café especial X café commodity, por exemplo), mas da confiança existente entre os parceiros nesse intercâmbio. Assim, amigos de longa data, ou pessoas ligadas a uma mesma religião dependeriam menos desses mecanismos para garantir a realização de seus investimentos.

Controvérsias a parte, reconhecer o trabalho de Williamson é garantir que o estudo do rico cotidiano na esfera econômica seja feito em bases cada vez mais realistas. Longe de representar o fim da linha, considerar a contribuição de Williamson como um ponto de partida já constitui razão suficiente para que outros pesquisadores busquem avançar no tema. Com a evolução natural na forma de compreender a organização econômica, ganham não apenas os estudiosos dedicados ao tema, mas os usuários desse conhecimento também, ou seja, todos nós!

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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PAULO HENRIQUE LEME

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 26/10/2009

Prezada Sylvia,

O reconhecimento da enorme contribuição do trabalho de Oliver Williamson para os estudos de economia coroa também todo o trabalho desenvolvido pela equipe do PENSA-USP na compreensão do agronegócio brasileiro e mundial.

Coroa também todos os esforços emprendidos por você, pelo Prof. Décio Zylbersztajn, pela Professora Elizabeth Farina, pelo Prof. Samuel Giordano e tantos outros, alunos e professores, nestes anos estudando e construindo uma nova visão sobre o agronegócio.

Um grande abraço,

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