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Liberais do mundo, uni-vos!

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 17/03/2009

4 MIN DE LEITURA

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Em entrevista concedida ao New York Times, o presidente Barack Obama teve que lidar com um tema recorrente nas bocas de parte da opinião pública norte-americana: a suposta denúncia de que suas políticas revelariam uma orientação socialista. Em meio à insistência do repórter em abordar o assunto, Obama deixou claro que não havia motivo algum para a busca de um termo definidor de suas políticas. No entanto, minutos após o fim da entrevista, eis que o presidente liga para seu entrevistador, a fim de esclarecer pontos que considerava fundamentais. Obviamente, Obama buscava tecer mais algumas palavras sobre tais acusações, defendendo a "pureza" de seus objetivos.

Que os Estados Unidos sempre tiveram ojeriza a qualquer aproximação com o socialismo, isso não é novidade para ninguém. Basta relembrar a perseguição dos tempos do macartismo, ou a escalada retórica empreendida pelo governo Reagan contra a economia planificada. Por isso, não é a rejeição ao socialismo o que chama a atenção na preocupação do presidente Obama em esclarecer ao máximo suas primeiras medidas. Na verdade, o que salta aos olhos é esse teor ideológico em algumas das críticas às ações do governo norte-americano, principalmente em uma época em que não há espaço para discussões sérias acerca de uma dicotomia entre capitalismo e socialismo.

Nesse sentido, que nos desculpem os defensores de uma economia integralmente planificada. É evidente que, na atualidade, o pouco que resta de socialismo no mundo não pode reivindicar para si grandes êxitos. Porém, discordar da forma como regimes como a Coréia do Norte se organizam não implica no temor, absolutamente infundado por sinal, de que qualquer medida que vá contra a "mão invisível" signifique um encaminhamento rumo à constituição de uma ditadura do proletariado.

Agindo como crianças mimadas, alguns desses críticos ferrenhos a qualquer medida intervencionista se põe a reclamar sem nem mesmo saber direito o que querem. Para os bancos falindo, o pedido é simples: mais dinheiro, porém não nos venham dizer o que fazer com a ajuda. Aliás, estatização é um nome horrível, proibido de ser citado. Prepotentes, muitos daqueles que arriscaram o que não tinham e não deviam, colocando instituições sólidas em risco, hoje saem de seus empregos com polpudas indenizações.

Regulamentação não é necessariamente algo ruim, desde que feita com o cuidado necessário e em resposta a uma demanda urgente. Ou seja, o estabelecimento de regras não está livre de falhas, ainda que sua utilização possa contribuir para suavizar alguns dos problemas decorrentes da convivência humana. Nas relações internacionais, por exemplo, a instituição de regimes para os mais variados temas, com todas as dificuldades observadas, trouxe importantes avanços para a consolidação de um relacionamento mais harmônico entre entidades auto-interessadas. Por que não tentar o mesmo em um setor no qual, como já está claro, demasiada liberdade para as ambições não costuma acabar bem? Na economia, espera-se que a regulamentação de setores como o financeiro sirvam justamente para garantir maior previsibilidade e perenidade às instituições sobre as quais se assentam as sociedades do mundo ocidental.

Ademais, incomoda também ver como a defesa de posições como o aumento dos impostos para os mais ricos desperta paixões nos EUA. Tal noção deveria ser um consenso em qualquer sociedade, e não por inspirações socialistas. Afinal, na base de um Estado liberal que pretende garantir sua vitalidade no longo prazo deve estar a preocupação com a garantia de oportunidades iguais a todos os seus cidadãos. E isso, implica, de alguma maneira, manutenção de um ambiente que estimule as pessoas ao trabalho.

Evidentemente, o esforço individual deve ser recompensado, e a própria liberdade assegurada para que os cidadãos corram atrás do melhor para as suas vidas já constitui um avanço considerável possibilitada pelo liberalismo. No entanto, para que cada cidadão possa correr atrás do melhor para si, é necessário que haja direitos básicos que sejam garantidos a todos. E, ao que parece, não há forma melhor de fazer isso do que cobrar daqueles que melhor se saíram, a fim de garantir que as próximas gerações sempre iniciem a corrida do mesmo ponto.

Já está mais do que comprovado que, quando nada é feito contra a concentração de riqueza, os resultados do ponto de vista social dificilmente são positivos. No Brasil, nos acostumamos a esse quadro, e já nem percebemos as grades tapando nossas casas, a preocupação ao sair à noite, a dificuldade para explorar na totalidade as vantagens da vida em sociedade. Após séculos de exclusão social, já nem percebemos que nossas vitórias pessoais, além de ligadas às nossas qualidades, se relacionam ao fato de que muitos dos competidores estão fora do jogo.

Quando surgiu no Hemisfério Norte, os ideais liberais continham, além de propostas para a organização econômica da sociedade, importantes bandeiras no campo político, como a luta pela limitação do poder dos governantes e, consequentemente, a defesa da liberdade dos cidadãos frente qualquer forma de opressão. Infelizmente, na atualidade muitos se esquecem disso, considerando apenas que uma sociedade livre é aquela em que as pessoas podem consumir tudo aquilo o que desejarem. Pesquisas realizadas em diversos países da região nos últimos anos demonstram que, infelizmente, parcela considerável da população aceitaria sacrificar a democracia em nome de melhores condições econômicas. Da mesma forma, quantas liberdades não foram violadas ao longo do governo Bush? Não estaria havendo uma rápida amnésia social, no sentido de que as pessoas aos poucos estão se esquecendo das inúmeras desvantagens da existência de um Estado de exceção?

Por tudo isso, procura-se gente capaz de revitalizar o liberalismo, e garantir a manutenção de sua força e a relevância de sua mensagem. Após décadas parodiando os chamados "marxistas de galinheiro", chegou a hora de olhar para o nosso próprio terreiro. O mundo anda cheio dos "liberais de galinheiro", com sua interpretação incompleta e curto-prazista de um conjunto de ideias tão rico. Seguir a onda deste grupo não melhorará em nada nossa delicada situação.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 20/03/2009

Prezado Paulo,

Agradecemos o comentário. Manter a esperança é fundamental, de preferência usando essa mentalidade para um difícil trabalho: continuar pensando soluções para os nossos problemas mais graves, amparado em um olhar sereno sobre a herança intelectual que possuímos. Certamente há muito a ser aproveitado naquilo que já foi produzido, e é disso que tiraremos o ponto de partida para muitas das respostas necessárias para nossa sociedade,

Atenciosamente,

Bruno e Sylvia
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 20/03/2009

Prezado Odailson,

Agradeço a contribuição. O que procuramos mostrar é que, em sua raiz, o liberalismo vai muito além dessa visão simplista dos defensores da desregulamentação a qualquer custo. Quando concebidas, as idéias por trás do liberalismo tinham um conteúdo moral e político que muitas vezes é esquecido, e infelizmente para prejuízo de todos. Por isso, é fundamental resgatar essa contribuição, já que a manutenção de um discurso simplista somente levará a um processo de perda total de crédito do liberalismo, que em sua origem constituia um conjunto de idéias muito mais rico do que aquilo que é apresentado, atualmente,

Atenciosamente, Bruno e Sylvia

PAULO SEBASTIÃO PAES LEME

QUIRINÓPOLIS - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/03/2009

O liberalismo tem que ter consciência social. O que é bom para mim é bom, pelo menos, para a maioria. E, "o meu direito vai até onde começa o direito dos outros". Os valores éticos e morais precisam ser resgatados, para que o indivíduo, desde o berço e na escola, os entenda e assimile como necessários ao bom convívio e à evolução da sociedade.

Utopias... como estamos atrasados. Tudo aos direitos, mas, e as obrigações? E os mandamentos, como tábua moral da civilização, esquecidos? Iconvenientes? Discriminados?

Só pela educação, como um todo, o indivíduo evolui. Berço, escola e meio em que vive vão definir sua participação e convivência na sociedade e esta não será boa se os seus membros não o forem também.

Por tudo isso e muito mais, não se pode esperar quase nada do liberalismo, do intervencionismo ou qualquer nome que se dê. Evoluímos muito materialmente, vamos ao espaço, à lua, mas não acabamos com a fome. Aliás, às vezes, preferimos que as coisas fiquem como estão.

E o Brasil, maravilha da natureza, celeiro do mundo, pátria do evangelho, até quando vai suportar o vai e volta das suas elites dirigentes, mais preocupadas com a dissimulação da verdade? O verdadeiro país do futuro não chegou - e talvez nem chegue, se desagregue antes. É bom lembrar que todos os nossos índices de desenvolvimento humano são ruins: criminalidade, violência, saneamento, habitação, corrupção, escolaridade, saúde, abandono, etc.

Aí se pode perguntar: Que regime, sistema ou forma de direção é melhor quando todos falharam? A sociedade não estuda nem discute, é problema do governo e o governo continua feliz junto a seus pares políticos e a seus funcionários de escalões nomeados, agradando-se mutuamente. Devem se julgar eternos, mas serão cobrados por suas mentiras, pelo dolo, por não terem feito o que deveriam, por impedirem, por diversas meios, a sociedade de evoluir. Poder-se-ia dizer que é castigo, mas Deus dá o livre arbítrio e cada um escolhe o bem ou o mal. Somos responsáveis não só pelo mal que fazemos, mas também pelo mal que advier do bem que deixamos de fazer. Isto é bom para os políticos.

Enfim, estamos no escuro. Tomara que não percamos a esperança, destruindo o pouco que temos, antes que uma luz apareça.
ODAILSON ELMAR SPADA

CURITIBA - PARANÁ

EM 18/03/2009

Lendo seu artigo, fiquei confuso. Tantas declarações e defesas tenho visto, nos últimos anos, que construi em minha mente que liberalismo é sinônimo de libertade total de ação, tanto no mercado econômico, como no campo social. Alguns comentaristas chegaram a confundir o liberalismo com o "capitalismo desenfrado". Assim, tenho me colocado contra esse liberalismo. Seu artigo, dizendo que defende o liberalismo, prega a normatização, pra que não venhamos a ter tristes experiências como a da recente crise, que foi provocada pela especulação financeira.
Até hoje, esse "liberalismo" tem sido causa do aumento do fosso existente entre ricos e pobres, seja no sentido das pessoas, como no de países. Na Bí9blia encontramos a profecia de que "os ricos seriam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres", um sinal de que nossa civilização estaria no fim.
Se sua luta é em favor de um controle maior sobre os avanços especulativos e ganaciosos, sem qualquer moral, cujo objetivo é o lucro econômico, financeiro, social, de poder, ou simplesmente de satisfação de desejos menores, estou contigo.
Se for para dar mais liberdade a esses criminosos morais, que atuam em prejuízo de outros, e da sociedade em geral, me desculpe, mas vocês estão lutando em favor de um grupo pernicioso que não sabe nem o que é fazer parte da humanidade.

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