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Espíritos animais

POR BRUNO VARELLA MIRANDA

E SYLVIA SAES

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 15/04/2011

2 MIN DE LEITURA

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Um livro esquecido na estante há alguns meses tem se mostrado uma leitura das mais interessantes. Escrito por uma dupla de peso, Animal Spirits concorreu a uma série de prêmios em 2009. Em parte, George Akerlof e Robert Shiller, seus autores, foram ajudados pelo fato de tratarem de questões fundamentais para a compreensão da grave crise de 2008 e as suas consequências. Animal Spirits, porém, vai além disso: o livro apresenta uma série de pontos cuja influência sobre a análise econômica deve ser revista.

Mais especificamente, chama a atenção a centralidade que os autores dão a fatores psicológicos, como a confiança, o senso de justiça e a má fé, para explicar os rumos do capitalismo. Economistas, em geral, são ferrenhos defensores da análise assentada em um ser humano racional, capaz de medir prós e contras de suas decisões e chegar a um desfecho que maximize os resultados. Akerlof e Shiller preferem tomar um caminho distinto.

Vejamos o exemplo da confiança. Segundo os autores, a confiança constitui uma variável central para a explicação dos preços de ativos, como residências ou ações. Pois bem, Akerlof e Shiller afirmam que a confiança - ou a desconfiança - é "contagiosa": nesse sentido, a mudança de opinião dos agentes possui um efeito multiplicador, capaz de gerar efeitos crescentes no sistema econômico. Quem observa o comportamento de "bolhas" ou, ainda, as quedas acentuadas na bolsa de valores após um boato, logo percebe essa realidade.

Talvez a principal decorrência da identificação dessas características psicológicas dos humanos é a reinterpretação do papel do Estado na condução dos negócios econômicos. A atenuação do pressuposto da racionalidade faz com que o argumento em favor do "Estado mínimo" tenha que ser adaptado. Não por acaso, Akerlof e Shiller são claros ao afirmar que a sociedade sai ganhando com governos capazes de regulamentar os mercados e implementar planos de recuperação econômica.

Afinal, é necessário que alguém se encarregue, por exemplo, de garantir a recuperação da confiança quando os boatos parecem levar tudo para baixo. Igualmente, a percepção da existência de justiça, variável central na análise dos autores, constitui uma missão que depende do Estado. Em outras palavras, Akerlof e Shiller acreditam que o capitalismo só nos trará aquilo que queremos para o futuro caso mantenhamos os olhos abertos. Diversos fatores psicológicos tornam a regulamentação - ou a fiscalização, se preferirem outro termo - uma necessidade.

Dois fatores nos levam a recomendar a leitura de Animal Spirits. Em primeiro lugar, a questão dos limites para a regulamentação dos mercados frequentou a nossa coluna há algumas semanas, proporcionando um animado debate. Temas como a volatilidade e o limite para a alta nos preços foram aqui tratados e, na análise de Akerlof e Shiller, são também lembrados. Para quem se interessa por esses assuntos, o livro é uma ótima pedida.

Além disso, as discussões acerca dos rumos da economia norte-americana, uma constante em nosso noticiário, proporcionam um diálogo dos mais saudáveis com Animal Spirits. A paranóia da oposição ao presidente Obama com o corte de gastos nos EUA esconde uma realidade mais ampla: muitos desses críticos parecem acreditar numa espécie de "ordem natural" na economia, cuja essência, se seguida, levará ao bem-estar global. Akerlof e Shiller nos lembram, com razão, que o capitalismo não produz necessariamente o melhor dos mundos. Encontrar o melhor papel para o Estado, ao invés de marginalizá-lo, parece ser a melhor opção.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

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