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Elinor Ostrom e o melhor dos humanos

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 02/07/2012

3 MIN DE LEITURA

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O artigo dessa quinzena chega com certo atraso. Nas próximas linhas, gostaríamos de homenagear Elinor Ostrom, que morreu há alguns dias. Ostrom foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel de Economia, em 2009, tendo o seu trabalho também reconhecido pelos cientistas políticos - Prêmio Johan Skytte - e pela Acadêmia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Tantas medalhas, entretanto, só chegaram após décadas de dedicação, entre outras questões, ao estudo da administração dos recursos comuns. A seguir, falaremos um pouco sobre este problema, discutindo as conclusões de Ostrom.

Para entendermos a importância da contribuição de Ostrom, apresentaremos um exemplo. Imaginemos um lago cheio de peixes, explorado por uma comunidade de pescadores. Estamos diante de um típico caso da chamada "tragédia dos comuns": o fato de os recursos do lago não terem um "dono" definido faz com que haja uma tendência à exploração da pesca a uma taxa superior à reprodução dos cardumes. Em resumo, um desastre no longo prazo. Uma pergunta, então, emerge: qual a forma de garantir a exploração do estoque de peixes ali existente sem que, no longo prazo, tais recursos se esgotem?

Tradicionalmente, duas explicações costumam ser dadas. Por um lado, há os defensores da solução de mercado: por exemplo, assegurar que cada quota dos peixes existentes tivesse um dono, para que este cuidasse de seu estoque ao longo do tempo. Para que tal desfecho se materializasse, uma condição necessária é a de que os pescadores fossem racionais no sentido econômico do termo, ou seja, capazes de realizar cálculos complexos que os levassem à maximização. Por outro lado, encontram-se os partidários do controle centralizado: entregar ao Estado a administração do lago e, assim, substituir o planejamento descentralizado de inúmeros indivíduos pelas determinações de um único agente. Aqui também, é preciso conceber um gestor público praticamente onisciente.

O que Ostrom faz é demostrar a existência de casos em que nem o mercado, tampouco o Estado, garantem a administração adequada de recursos comuns no longo prazo. Ou, dito de outra forma, inexiste um modelo único capaz de resolver o problema da administração dos recursos comuns. A partir daí Ostrom desenvolve uma interessante abordagem para tratar das instituições que garantem que, por exemplo, a comunidade de pescadores imaginada acima seja capaz de garantir o seu sustento no longo prazo. Mais do que solução A ou B, Ostrom demonstra que é a interação entre diversos mecanismos de governança, atuantes em vários níveis, o que costuma oferecer uma solução para problemas de gestão complexos.

Além disso, Ostrom inovou ao provar que uma comunidade pode, sim, garantir a preservação de recursos comuns. O mais interessante é que a cientista social não partiu de um modelo teórico ideal, seguindo a orientação de muitos dos que recorrem a uma das explicações tradicionais. Sua opção foi a de conhecer casos de êxito na administração de recursos comuns e, baseada nesse conhecimento e nas teorias disponíveis, buscar explicar o porquê tantas comunidades desafiavam as prescrições de uso exclusivo do mercado ou do Estado.

Entre os diversos elementos presentes na teoria de Ostrom, gostaríamos de salientar dois deles, que consideramos fundamentais. O primeiro é a centralidade que a "confiança" assume em sua abordagem. Nesse sentido, os indivíduos não agiriam motivados apenas por seus interesses de curto prazo, podendo cooperar caso exista reciprocidade. Mais especificamente, um pescador aceitará voltar com menos peixes em seu barco caso tenha garantias - institucionais ou a confiança nos outros habitantes da comunidade - de que outros não consumirão todo o estoque do lago. Deste elemento chegamos a uma conclusão: os seres humanos são mais complexos do que muitas teorias apontam, tendo motivações e limitações cognitivas que não apenas impedem o cálculo maximizador em muitos casos, como também revelam sentimentos que possibilitam que problemas de difícil solução sejam contornados.

Como não poderia deixar de ser, as conclusões de Ostrom não representam mais do que o início da jornada: conforme a própria pesquisadora não se cansava de lembrar, sua agenda de pesquisa estava em fase inicial e, por isso, muito ainda devia ser feito. Para as próximas décadas, entretanto, gostaríamos de resumir uma passagem do texto que Ostrom apresentou ao receber o Nobel de Economia: se no passado os cientistas se preocuparam em estruturar instituições dedicadas a garantir os melhores resultados a agentes unicamente preocupados com o interesse próprio, sua proposta é a de que pensemos em políticas que facilitem o desenvolvimento de instituições que permitam que aflore o melhor dos humanos.



SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 19/07/2012

Prezado José Antonio,



Agradecemos  o comentário. Esse é justamente um dos objetivos da coluna: oferecer um ponto de contato entre a academia e o público, mostrando temas que têm sido estudados por pesquisadores e tentando mostrar a sua utilidade para que um número crescente de pessoas utilize o conhecimento para entender problemas do cotidiano. Acreditamos que o que a academia produz ganha ainda mais valor quando pode ser apropriado por um número crescente de pessoas.



Atenciosamente



Bruno Miranda

BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 19/07/2012

Prezado Reinaldo,



Agradecemos o comentário. Acredito que sim, cooperativas podem ser estudadas tendo como base a teoria de Ostrom. De fato, há pesquisadores que têm se dedicado a olhar essa categoria de estratégia coletiva inspirados nessa literatura.



Acho que o segredo, aqui, é escolhermos bem o tipo de ativo ou benefício que queremos estudar. Se o caso é de um bem de uso comum, ou seja, um bem que pode ser explorado exageradamente por um dos participantes no curto prazo porque os direitos de propriedade encontram-se precariamente definidos, Ostrom nos oferece um excelente caminho analítico.



Quem participa de cooperativas sabe bem que, muitas vezes, esse é o caso. Logo, Ostrom pode ser um ótimo caminho para entendermos, e melhorarmos, a forma como administramos nossas cooperativas.



Atenciosamente



Bruno Miranda



BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 09/07/2012

Prezado Wilson,



Agradecemos a participação. Conforme você lembra nessa passagem, o prêmio Nobel de 2009 foi dividido entre a Elinor Ostrom e o Oliver Williamson. Inclusive, escrevemos um texto sobre a escolha do Williamson, dado que é outro autor que influencia imensamente nossos estudos. Caso não o tenha lido ainda, fica a sugestão. Você o encontra aqui no CaféPoint, no histórico dos textos da coluna "Conjuntura de Mercado".



Atenciosamente



Bruno Miranda
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 09/07/2012

Prezada Beatriz,



Agradecemos o comentário. Aproveitamos para convidá-la a participar desse espaço sempre que quiser deixar sugestões de texto, críticas ou abrir um debate.



Atenciosamente



Bruno Miranda
JOSÉ ANTONIO PADIAL POSSO

MONTE CARMELO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 04/07/2012

É o que mais precisamos hoje em dia.





Opinião partilhada por muita gente já consciente. O que me assusta, as vezes, é sentir que uma maioria, formada geralmente por cidadãos comuns de todas as idades,  inebriados por modismos (e comodismos) de toda espécie, passam ao largo de assuntos de real interesse como esse e tantos outros.





Daí a abordagem nesse espaço assume um valor ainda maior. Um exemplo a ser seguido por muitos veículos que não sabem aproveitar a oportunidade que têm de elevar o nível de entendimento de seu público para além de assuntos triviais que as vezes já nem atraem mais a atenção.





Parabéns.
REINALDO FORESTI JUNIOR

CAMPANHA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 04/07/2012

Ouso perguntar se as instituições organizadas em cooperativas  poderiam enquadra-se nesta exemplar teoria formulada pela  competente economista.?Parabens pelo excelente artigo  e assunto focado.
WILSON BOCARDI MACHADO

TRÊS CORAÇÕES - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 02/07/2012

The Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel 2009 was divided equally between Elinor Ostrom "for her analysis of economic governance, especially the commons" and Oliver E. Williamson "for his analysis of economic governance, especially the boundaries of the firm".
BEATRIZ CULLEN

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 02/07/2012

Excelente artigo que me faz pensar que o caminho é sempre fazer vir para fora o que de melhor, nós, pobres mortais.... mas eternos aprendizes, podemos trazer e fazer a diferença para nossa existência e de tantos outros. Para refletir e agir sempre.

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