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Ainda sobre o amanhã

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 27/02/2009

4 MIN DE LEITURA

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Nosso primeiro texto de fevereiro abordou um tema que, em meio a tantas notícias, passou praticamente despercebido do grande público. Falamos dos recentes cortes no orçamento destinado à pesquisa no Brasil, assim como de outras novidades igualmente vinculadas ao clima de crise e que afetam nossa capacidade de produzir conhecimento de forma significativa. Porém, muitos leitores poderão ter estranhado a publicação de um artigo que não cita diretamente o café em suas linhas.

Tal prática, ainda que já tenha sido adotada por nós em outros textos, certamente causa estranheza em uma coluna chamada "Conjuntura de Mercado" de um site dedicado à cadeia do café. Por isso, resolvemos escrever um pouco mais sobre o tema, chamando a atenção para diversos pontos que, inclusive, se amarram com outros textos aqui publicados no passado. Ainda que muitas das relações aqui apresentadas certamente já foram lembradas por nossos leitores, a consolidação contínua das informações só contribui para o aprofundamento do debate.

Primeiramente, faremos rápidos comentários acerca da relação entre a cafeicultura e a pesquisa científica, algo evidente já de cara. Para comprovar isso, basta uma rápida visita a Campinas, onde o Instituto Agronômico (IAC) realiza há mais de um século um trabalho fundamental para o desenvolvimento da cafeicultura brasileira. Seria mesmo impossível caracterizar o setor na atualidade sem citar os trabalhos lá empreendidos. De suas dependências saíram um sem número de novas variedades que potencializaram a nossa vocação para a produção de café, tanto em relação à qualidade como à produtividade. Indo além, o IAC é também um centro dedicado à formação de pesquisadores, que após a experiência no Centro utilizam seu conhecimento em benefício do setor. Vale lembrar que mesmo as variedades utilizadas na Colômbia são fruto de pesquisas desenvolvidas em solo brasileiro.

Nesse sentido, muitas vezes não nos damos conta de que, por trás de cada avanço nos setores em que estamos inseridos, há um grande número de pessoas, desenhos institucionais extremamente complexos e recursos em quantidade crescente envolvidos. Igualmente, ao nos depararmos com uma nova variedade ou métodos de irrigação mais eficientes, por exemplo, dificilmente nos lembramos de que, até chegarem aos cafezais, tais tecnologias passaram por um longo período de maturação, marcado por erros e acertos.

Evidentemente, um rastreamento minucioso do trajeto de cada tecnologia seria desnecessário; em meio a todas as preocupações do mundo atual, ninguém esperaria que fôssemos dar nossos parabéns pessoalmente àqueles que desenvolvem aquilo que facilita nossas vidas. No entanto, essa despreocupação em relação à origem das novas tecnologias pode desembocar na falta de cuidado com os produtores das mesmas. Conforme já enfatizado, por trás de algo que nos facilita a vida há pessoas, instituições e objetivos estratégicos, determinados por razões políticas ou econômicas. Descuidar dessas fontes significa secá-las.

Olhando agora para o futuro, o principal desafio parece ser o de garantir a adaptação da cafeicultura às novas condições climáticas em um planeta diretamente afetado por um aquecimento considerável. Seja o homem responsável ou não por essas mudanças, o fato é que os graus centígrados a mais já são uma realidade, impondo uma série de novas restrições e desafios para a agricultura. Depende dos institutos de pesquisa não apenas encontrar formas de reverter esse processo, caso isso seja realmente possível, como também trabalhar para que os efeitos de qualquer mudança não afetem nossa capacidade de produzir alimentos. Nem precisamos dizer o quanto o Brasil depende de avanços nesse sentido, de modo que algo está errado na orientação atual.

Afinal, um sistema dedicado à pesquisa e à educação fortalecido, capaz de formar cidadãos, é requisito fundamental para fortalecer uma sociedade. No caso brasileiro este desafio é enorme, uma vez que o problema já vem do ensino fundamental. Porém, nosso país só teria a ganhar com um olhar mais atento a este tema, e não apenas sob o ponto de vista da ciência. Jovens bem formados não contribuem apenas para descobertas de impacto, como podem também dar sua contribuição para o aumento da produtividade do país. Inclusive, não se espera que todo mundo opte por pesquisar respostas para nossos dilemas; isso seria mesmo ruim para o Brasil. Porém, a iniciativa privada certamente se fortaleceria com esse movimento, recrutando profissionais cada vez mais qualificados e, com isso, garantindo melhores condições de competir globalmente.

Finalmente, uma breve reflexão acerca da nossa posição ao comentar esse tema. No Brasil, muitas vezes não nos sentimos à vontade para defender opiniões que estejam relacionadas diretamente com nossas atividades profissionais. É como se a defesa de um ponto que pudesse vir a nos beneficiar levasse os outros a pensar que estamos agindo somente em causa própria, sem se preocupar com o quadro global. Isso é especialmente verdadeiro para os chamados cientistas, de quem se costuma exigir imparcialidade absoluta. Nesse sentido, falar sobre um tema como a pesquisa científica poderia nos causar desconforto em um primeiro momento, ou mesmo o temor de que não seriamos bem compreendidos.

Apesar dessa característica do brasileiro, é sempre bom lembrar o quanto a expressão das opiniões é algo fundamental para o bom funcionamento da democracia. Depois de tantas idas e vindas em nosso sistema político, com recaídas autoritárias ao menor sinal de ameaça à "ordem natural das coisas", é natural que a capacidade de debate ainda esteja enferrujada em nosso país. Por outro lado é evidente que avançamos muito desde a redemocratização, porém lembretes são sempre bem-vindos: defender posições é um exercício saudável e deve constituir a rotina. Até porque, entre os que hoje gritam mais alto, muitos não possuem uma visão de país capaz de acomodar nossos anseios, preferindo uma visão curto-prazista ou, o que é pior, ligada exclusivamente a interesses pessoais.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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JULIANO TARABAL

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS

EM 02/03/2009

Òtimo voces voltarem neste tema. Pra quem passou desapercebido pelo artigo anterior é mais uma chance de se atentar pra este tema complexo e de grande importância, que envolve várias vertentes onde dentre elas destaco o senso critico.

Como seria bom se no Brasil, na agricultura ou, mais especificamente ainda, na questão cafeicultura tivessemos um maior número de pessoas dotadas de uma boa dose de senso crítico, principalmente as lideranças.

Muita das vezes somos conduzidos por pessoas sem nenhum tipo de preparo... grosseiramente falando é como um trem desgovernado: temos a frente de importantes órgãos de pesquisa ou de representação de classes pessoas que só usam o poder que têm em prol de si próprias.

Ano passado assisti a uma palestra do ex-ministro Roberto Rodrigues onde o mesmo citou impiedosamente o quanto que nossas lideranças no agronegócio são em sua maioria incompetentes ou egoístas demais pra militar por sua classe.

Torço pra que Dr. Roberto Rodrigues possa ministrar inúmeras palestras no Brasil afora e levar consigo essa ideia, pois eu já comprei e estou passando pra frente.
JOÃO CARLOS REMEDIO

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 28/02/2009

Parabéns pelo artigo.

Num país onde se chegou à conclusão que a ignorância cultural e a pobreza rendem votos, não se pode esperar melhora no âmbito econômico e muito menos no educacional. Se ainda temos muitas crianças fora do ensino fundamental e evasão escolar alta, é querer muito que nossas autoridades se preocupem na formação de doutores. É mais fácil importá-los da Índia, de Cuba ou de qualquer outro lugar do mundo a fazê-los pôr aqui.

As faculdades, principalmente as particulares, com raríssimas exceções, só visam lucro. Não estão se importando com a formação de seus alunos e muito menos na qualidade de seus professores. Nas escolas públicas não existe incentivos e muitos dos grandes mestres acabam por deixá-las.

No final, todos saímos perdendo. Conhecimento é qualidade de vida e, dinheiro também. Só que nossa classe política está satisfeita; para que melhorar se eu estou sempre me reelegendo? É mais fácil domar a ignorância à sabedoria - muitos doutores não votariam em mim, para que criá-los?

Quanto à cafeicultura, dependemos muito de nossos pesquisadores. Como eles, também queremos melhores condições. Se nos falta governança, faltará cultura e melhoria econômica. Já nos cansamos desta mesmice política, precisamos de fato é de alguém que se preocupe com o Brasil como um todo, sem querer se perpetuar no poder. Viva nossos pesquisadores!
FRANCISCO UBIRATA MOREIRA AIRES

MARINGÁ - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/02/2009

Parabéns pelo artigo. A valorização dos nossos profissionais de pesquisa está muito aquém dos verdadeiros interesses da nossa classe governante, que se preocupa tão somente em tirar proveito dessas pessoas e instituições, quando lhe é conveniente. O debate e a interação com a sociedade é necessário e salutar.

Um abraço
GEFFERSON EDSON FERREIRA PINTO

ESPÍRITO SANTO DO PINHAL - SÃO PAULO

EM 27/02/2009

Boa tarde sehores leitores,

A cafeicultura passa pela pior crise em muitas décadas. O café está desvalorizado, os custos altíssimos, principalmente nos fertilizantes, com preços fora de controle e colheita que acaba de matar o cafeicultor com alto custo de mão-de-obra. Agora, o preço do grão de café que seria o difusor entre o lucro e prejuízo acabou de afundar o cafeicultor com essas baixas de cotações de bolsa onde a saca de café apresenta preço abaixo do custo de produção, atolando em dividas ainda mais o produtor. E aonde estão as autoridades, politicos e bancadas ruralistas que defendem o agricultor? Sumiram!

A cafeicultura necessita urgente de ajuda e sem auxilio o cafeicultor começará a perder os patrimônios, o crédito e, por último, até o nome perante instituições financeiras. A maioria das familias de propriedades rurais na minha região já estão totalmente dispersadas, os filhos que tomariam conta dos sítios estão trabalhando na cidade, ficando somente os mais velhos nas propriedades.

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