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BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 28/02/2008

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Os apelidos são baseados em nomes norte-americanos. As roupas são compradas nas lojas das mais reconhecidas grifes internacionais. Os hábitos baseados em referências chave. Observar a adoção dos valores ocidentais em países nos quais a tradição se baseava em outros preceitos é tarefa das mais interessantes, e certamente os EUA, ponto de encontro de todas as culturas do mundo, é um palco privilegiado para tanto. Aqui milhares de jovens descobrem anualmente hábitos que em muitos casos serão levados de volta para seus países após o regresso. E entre estes hábitos, um em especial nos interessa.

Em meio ao inverno do hemisfério Norte, época especialmente propícia para o consumo de café, impressiona o número de estudantes asiáticos nas filas das cafeterias. Muitos deles estão estudando inglês em universidades dos EUA, em um ano de recesso no qual tomam definitivo contato com os valores ocidentais e com os hábitos dessa porção do globo. Estamos falando aqui de jovens de classe média alta, futuros formadores de opinião em seus países de origem, pessoas com alto poder aquisitivo e uma voracidade por consumo considerável.

O contraste com jovens de outras regiões do globo é evidente em determinadas nuances. Para os estudantes norte-americanos, por exemplo, há um crescente interesse por movimentos como a agricultura orgânica ou o Comércio Justo, o que faz com que as regiões em torno das universidades sejam um território no qual abundem as opções nessa linha. Por outro lado, para os estudantes asiáticos, o que parece ser fundamental é a absorção de um novo estilo de vida, distinto daquele vivido por seus pais e avós. Nesse sentido, é impressionante o apelo que marcas como a Starbucks possuem para estes estudantes.

Quando perguntados sobre o porquê de estarem consumindo um café da Starbucks, as opiniões são variadas. Muitos falam sobre a qualidade do serviço, outros acerca da enorme quantidade de lojas, porém são poucos os que afirmam categoricamente que este é o melhor café do mundo, ou coisa do gênero. Para a maioria, Starbucks é sinônimo de café, e ponto final. É interessante perceber que muitos não entendem quando perguntados se optariam por outro tipo de café, porque para a maioria deles aquilo é café. E graças a isso, pouco importa onde o mesmo foi produzido, afinal o que conta é o símbolo, a loja, a marca.

Cho, uma estudante universitária sul-coreana, repete o mesmo ritual diariamente. Nem mesmo suas dificuldades com a língua inglesa impedem uma rotina frenética de consumo, da qual o café é item obrigatório. Em sua mochila, uma agenda obtida em uma espécie de programa de fidelidade da cadeia norte-americana. Impressiona primeiramente o design da agenda, feito especialmente com o objetivo de se tornar um objeto de desejo. Entre os desenhos encontrados no interior um mapa do Brasil estilizado, com os nomes das cidades escritos em grafia antiga. Quando perguntada acerca da provável relação entre o mapa e seu hábito diário, a estudante mantém o silêncio. Leva algum tempo até que a mesma entenda a explicação, porém isso é o de menos. Fato é que ela não é a exceção: para a maioria esmagadora dos estudantes asiáticos consumidores de café, o Brasil não guarda qualquer relação com o produto.

Para Carol, apelido tirado de alguma personagem de sua preferência, a compra de produtos relacionados ao café constitui-se em um hábito diário. Em sua mão esquerda, uma bebida produzida pela Starbucks e vendida nos supermercados norte-americanos, cujo gosto certamente espantaria os amantes de um café tipicamente brasileiro. Entre as razões para a preferência, uma em especial chama a atenção: a facilidade com que a mesma pode ser obtida. Perguntada sobre as razões para o consumo de café, os motivos são os comuns, quais sejam, a bebida tem gosto agradável e ajuda na puxada rotina de estudos. Assim como no primeiro exemplo, Starbucks é sinônimo de café para Carol.

Na era do refrigerante e da propaganda de massa, que por sinal já faz parte das nossas rotinas há um tempo considerável, padronização e acessibilidade são fundamentais. A capacidade de entregar qualidade onde quer que haja demanda será um atributo cada vez mais fundamental, e isso implica não apenas um cuidado especial com as lavouras. Os agentes envolvidos na cafeicultura precisam entender que, em uma cadeia cada vez mais complexa, suas ações devem se pautar por maior ousadia.

Para quem produz tanto café, o Brasil passa inexplicavelmente despercebido em diversos segmentos desse mercado. No supermercado especializado na venda de produtos frescos e orgânicos, as gôndolas possuem cafés africanos, indonésios, centro-americanos, colombianos, porém nada de ler uma legenda com o nome de nosso país. Na cafeteria especializada em gostos exóticos, nada de encontrar uma região bucólica brasileira estampada em um quadro ou foto; também neste campo estamos perdendo batalhas. Entre tantos comentários elogiosos à cultura e ao estilo de vida do brasileiro, chama a atenção a presença de churrascarias nos EUA, mas o relativo silêncio quando o assunto é café.

E para este tema infelizmente sentar e choramingar não adianta. Podemos argumentar que o estrangeiro não entende nada de café, que o produto dessas cafeterias da moda nada tem a ver com uma bebida de qualidade. Importante aqui é que tem gente ganhando alto com o café na atualidade, e toda esta pujança na maioria dos casos surgiu com criatividade, ousadia e capacidade de traduzir as demandas dos consumidores em produtos. De fato, no final da história ganha quem chega primeiro, e é capaz de traduzir os anseios de uma geração ansiosa por abraçar um novo estilo.

Voltando ao exemplo das churrascarias, é engraçado observar que, entre os turistas argentinos, é interessante a incredulidade dos mesmos ao descobrirem que as churrascarias brasileiras estão em moda aqui. Como podem cobrar 40 dólares por um jantar, se perguntam eles, dado que o churrasco argentino é muito melhor, etc! A resposta não está tanto em quem faz melhor, com mais competência, mas sim naqueles que fizeram primeiro com uma qualidade reconhecida e de forma padronizada. Há muito mais a ser explorado quando o assunto é Brasil, e todos sabemos disso.

Nos próximos 10 anos, será a China o principal alvo dessas companhias. Centenas de cafeterias serão abertas, novos hábitos passarão a fazer parte da rotina da crescente classe média chinesa, entre os quais o consumo de café provavelmente figurará. Aos pioneiros, caberá o papel de imprimir uma marca, introduzir novos consumidores a um hábito. Nesse sentido, cabe uma pergunta final: teremos condições de atuar mais próximos dos consumidores internacionais, e assim abocanhar uma fatia maior de um bolo cada vez mais suculento? Os próximos anos serão especialmente importantes, e criatividade e ousadia são fundamentais. Aos vencedores, a recompensa será boa.

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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JÉSUS CARVALHO ESPÓSITO

IPATINGA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 09/03/2008

O artigo do Sr. Dr. Bruno está recheado de verdades e realmente podemos atender o mundo de todas as formas: agricultura orgânica, comércio justo, estilo de vida, moda. São correntes reais e todas passíveis de serem atendidas por nosso portfólio.

O problema não é lá, é cá. Observem; o político joga para o governo, o governo joga para o político. Alguém clama até pelo desarticulado produtor - é brincadeira - e alguém até puxa para si, mas nunca aparece "O PLANO";

-Sr Venuto chamou um "pastoreio" com os envolvidos.

-Sr José Eduardo Ferreira transferiu aos privados.

-Sr. Roccheti fala das batalhas perdidas e as que ainda vamos perder. Tirou das esferas política e governamental.

-Sr. Bueno falou o óbvio:o "burro de carga" trabalha e o "esperto" fica rico.

-Sr. Tarabal lembra dos torrefadores espertos que usam os nomes dos países produtores em suas marcas, e da segmentação das regiões produtoras competindo entre si.

Pois bem; alguém já consultou quem mais entende de café no Brasil e ,provavelmente, no mundo? Quem sabe todas as fases? Quem já participou de todas as experiencias em todo o Brasil?

Pois bem; alguém já convocou uma reunião? Partiu para a ação no rumo certo? Do plantio ao sofrimento, ele conhece tudo, e todos os "Bons de Serviço". É o professor Matiello. Ele vive café.
JULIANO TARABAL

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS

EM 02/03/2008

Bem colocadas as várias informações contidas neste artigo.

È bom frisar que vários dos produtos comercializados, como na Starbucks citada no artigo, assim como os cafés da Etiópia etc, o marketing fica por conta da própria comercializadora, neste caso a cafeteria, que por vários motivos acha mais interessante destacar esse país produtor ao nosso país por exemplo.

Creio que o país que mais investe por conta própria em sua marca é a Colômbia, os outros, como os exóticos Guatemala, Etiópia, Haiti entre outros, não têm condições para promoção de seu café, por isso as espertas torrefadoras compram café desses países e utilizam o nome dos mesmos em suas marcas, onde o consumidor final entende que está tomando uma bebida de um país selvagem ou algo do tipo.

Já no Brasil, a segmentação em diversas regiões produtoras como Café do Cerrado, Matas de Minas, Café do Sul de Minas, Chapada de Minas, Oeste Baiano, Cafés de Montanha (ES), Mogiana, entre outros, parece não caminhar no mesmo sentido, ficando "Cafés do Brasil" em outro plano, ou seja, existe uma divisão de forças e de direções no setor que pode não ser o melhor caminho quando nos voltamos ao exterior, o que pode confundir a cabeça de nossos compradores.

É muito válido se dividir em microrregiões, desde que essas não se tornem concorrentes pelos mercados lá fora, mas sim parceiras em busca de soluções.

Juliano Tarabal
DOMINGOS B. BUENO

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/02/2008

Muito bom este artigo, me fez lembrar uma informação que tive há alguns anos e que me surpreendeu muito. Embora o Brasil seja o maior produtor e exportador de café (em volume), a Alemanha é o pais que mais ganha dinheiro com este produto.
ALBINO JOÃO ROCCHETTI

FRANCA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/02/2008

Bruno, parabéns pelo artigo!

Felizmente, profissionais mais jovens, como você, estão abordando a questão.

O consumidor estrangeiro não sabe que produzimos café, e café bom!

É preciso formar uma "tropa de elite" para idealizarmos uma avalanche promocional, algo que possa atingir a cabeça, o conhecimento, a sensibilidade destes consumidores atuais e os futuros.

Como diz Lúcio Caldeira em seu livro "A guerra do café", já perdemos algumas batalhas, mas ainda há outras a travar e, se não nos armarmos devidamente, estaremos derrotados, como você também nos diz.

É preciso que "boas cabeças", voluntariosas e decididas se unam, arquitetem um plano de ação, esqueçam vaidades individuais, e então, cheguem aos produtores (os únicos verdadeiramente interessados), para estimular a criação de estratégias de marketing no exterior, para tentar virar este jogo.

É óbvio que isto não pode ser feito sob caminhos governamentais, porque aí aparecerão muitos "pais da criança" e os discursos serão intermináveis. Também a via política deve ser evitada, pelos mesmos motivos.

Não criamos o nosso "Juan Valdez" e não divulgamos as paisagens da nossa cafeicultura, portanto não temos identidade.

O mais intrigante é que estamos em uma situação relativamente confortável, pois como você mesmo diz o mundo já está absorvendo o hábito de tomar café. Então, não precisamos fazer campanha para que a população mundial "vá tomar café", pois ela já está tomando, e apreciando!

Temos que fazer com que tomem mais café brasileiro, sabendo que é brasileiro.

Será que o grupo PENSA, não "pensaria" em abraçar esta causa?
JOSE EDUARDO FERREIRA DA SILVA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 28/02/2008

Bruno,

Parabéns pelo artigo. É importante lembrar do esforço de propaganda e marketing que faz o café colombiano. Usando mídias importantes mundo afora, como patrocínio de competições esportivas, de merchandising em filmes americanos, etc.

Graças a isso eles se posicionaram muito bem em vários mercados. Está na hora de nos posicionarmos também, de chegar "primeiro" na China e outros mercados emergentes.

Mas isso tem um preço. A questão é quem paga? Qual(is) segmento(s) do complexo café estão dispostos a formar um fundo com esse propósito?

Essa é uma decisão que deve ser tomada. Mas fundamentalmente acho que está na hora de os atores privados assumirem este papel. A república "bananeira" sempre espera muito de onde não sai nada.

Eduardo
SERGIO VENUTO

RESENDE - RIO DE JANEIRO

EM 28/02/2008

Bruno, muito boa sua abordagem.

Há tempos tentamos convencer empreendedores (comerciantes, industriais, produtores agrícolas, etc) que a culpa do não-consumo é do vendedor, e não do comprador. Temos a mania de culpar o consumidor pelo fracasso nosso ou pelo sucesso alheio.

Exemplos de alguns argumentos de empresários para justificar o fracasso do posicionamento do seu produto: "A culpa é do baixo poder aquisitivo do consumidor", "da falta de ´cultura´", "do mau gosto", "da busca pelo menor preço", "da falta de conhecimento", "da falta de consideração", "da falta de fidelidade", etc...

Já escutamos quase tudo a respeito disso e, por incrível que pareça, assumir a responsabilidade ainda é raro. Dizer que o erro foi da venda, assumindo e consertando este equívoco, infelizmente, pouco acontece.

Por isso, ainda veremos cafés espressos de máquinas automáticas serem eleitos os melhores do Estado (Nespresso 2007/Veja SP), teremos produtos nobres parados nas gôndolas, percepção do café especial como produto "caro" (já que não se vende o valor deste produto).

Alguns comemorarão a curva de crescimento deste mercado de cafés especiais. Eu, não.

Crescer muito menos do potencial que se tem, pra mim, é perda. Temos que envolver toda a cadeia e fazer um trabalho de pastoreio com todos os envolvidos, principalmente o cliente final, o que vai ao mercado comprar café sob todas as formas (moído, grão, bebida pronta, etc...).

Bem, temos que aprender muito a trabalhar de forma "descomoditizada", agregando valor aos produtos e, principalmente, temos que aprender a vender VALOR, sem medo do preço mais alto.

Parabéns pelo trabalho

Abraços
Sérgio Venuto

Obs: Após alguns anos e dezenas de milhares de consumidores atendidos, podemos afirmar, com certeza, que o consumidor paga por um preço muito maior por um produto desde que ele perceba o seu VALOR. E o que não falta é exemplo no mercado que comprove isso.

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