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Natureza econômica dos detestáveis cafés

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 23/10/2015

4 MIN DE LEITURA

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O estágio atual alcançado pelo mercado consumidor global de café não é homogêneo, coexistindo diversos vetores na conformação do hábito dos apreciadores. Asiáticos pendem para o solúvel e para as franquias de redes de cafeterias enquanto nos mercados tradicionais as cápsulas, coffee shops, micro torrefadores especializados em bebida gourmet e os cafés de causa pautam o dia a dia dos consumidores da bebida. Nos países no quartil inferior de renda per capita, a seleção de produtos com base no preço segue majoritária. Já entre países de renda intermediária (segundo e terceiro quartil), encontram-se todas as variantes mencionadas não importando a dimensão territorial considerada (bairro, município, estado, região, país).

Essa diversidade do mercado de consumo concede espaço para a multiplicidade de estratégias das empresas que nele atuam. O volume de compras dos países centrais, confere relativa prevalência de sua compreensão/visão sobre as tendências desse mercado sobre todos os demais participantes que, não necessariamente, compartilham da mesma percepção. Disso resulta, em parte, a saudável difusão do discurso de busca do incremento da qualidade.

Por mais zeloso que possa ser o cafeicultor, numa propriedade cafeeira jamais se conseguirá produzir 100% da safra no padrão de bebidas superiores (estritamente mole e mole). Desde a varrição, repasse, boias, brocados (que pós proibição do Endosulfan, exibe forte incremento na ocorrência), verdoengos, ardidos/fermentados e pretos, também fazem parte de qualquer colheita por derriça. No mercado brasileiro, esses grãos defeituosos, incluindo os preto-verdes provenientes de verdes secados acima de 35oC são normalmente misturados nos lotes podendo conter 700 a 800 defeitos e comercializados a preços de R$340,00 a R$360,00/sc (primeira quinzena de outubro de 2015).

Na safra comercial 2015/16, o rebenefício de 187.209 sacas de café arábica de empresa do sul de Minas Gerais resultou em: a) grãos pretos – 0,5%; b) preto-verde – 0,5%; c) ardidos – 1,0% e c) verde cana – 5,5%. Esse último tipo (defeito verde), a depender da proporção que seja adicionado ao café de melhor padrão, acrescenta adstringência e mais amargor, prejudicando a bebida, porém não a reprovando em termos de qualidade (duro). Assim, concentram-se nos três primeiros defeitos que acrescidos dos preto-verdes formam os verdadeiros vilões na produção de bebida superior.

Compradores de café (intermediários oferecem entre R$250,00 e R$260,00 por lotes originados do resíduo a catação eletrônica de pretos, de preto-verde e de ardidos1. Empregando a proporção de 2%, resultante do somatório desses defeitos que compareceu no exemplo de processamento mencionado, sobre volume de arábica colhido na safra 2015/16 de cerca de 32 milhões de sacas, resultaria em 640 mil sacas de produto defeituoso, representando valor atual que ultrapassaria R$160 milhões. Esse mercado precisa ser reconhecido pela autoridade reguladora, constituindo-se na principal barreira para que o incremento da qualidade atinja maior ritmo de adoção.

Mesmo tendo em conta a crise fiscal em que se encontra o Governo Federal, não se pode se manter omisso diante dessa problemática. Desenhar políticas pró mercado que não impliquem em dispêndios significativos, pode consistir em alternativa para o redirecionamento desses lotes defeituosos. Dentre as possibilidades listam-se:

a) Destinação de parte dos recursos de subvenção ao biodiesel para remuneração desse café entregue em postos de recebimento pré-determinados;
b) Elevação da subvenção do prêmio de seguro e dos contratos de opções para o cafeicultor que redirecionar o produto de baixa qualidade;
c) Cafeicultores familiares que aderentes ao programa de aquisição de alimentos do Governo Federal ou dos congêneres estaduais, receberiam prêmio pelo café T&M comercializado livre desses defeitos;
d) Cooperativas de cafeicultores que comprovassem o redirecionamento do resíduo/defeitos receberiam financiamento a taxa mais vantajosa na recapitalização da empresa coletiva;
e) Torrefadores que trocassem o COB 700 a 800 defeitos por outro menos ruins, digamos no máximo 200 a 300 defeitos, teriam acesso diferenciado nas licitações públicas para a aquisição do produto a ser oferecido em repartições públicas; e
f) A melhoria da qualidade da bebida, como demonstram inúmeros estudos, pode permitir ganhos na saúde dos apreciadores, gerando significativa economia de despesas com a área por parte da administração pública.

A retirada planejada dos defeitos capitais do mercado2, por meio da adoção desse conjunto de ações públicas e privadas, pode ensejar mudança nos preços relativos, favorecendo a rentabilidade dos cafeicultores e eventualmente compensando perdas econômicas decorrentes da eliminação de transações comerciais envolvendo cafés defeituosos.

Explicitar adoção de rota visando o incremento da qualidade da bebida, sinalizaria aos demais países que formam o agronegócio café global, o definitivo abandono da posição, ainda percebida por número cada vez menor de importadores, de Brasil enquanto produtor de volume com qualidade inferior. Assumir publicamente esforço de retirada do comércio dos defeitos capitais da bebida, partindo do reconhecimento de que esse produto ainda possui demanda e, portanto, há que se planejar economicamente como fazê-lo poderá se traduzir em formidável avanço para esse agronegócio.


1 – Na ausência do léxico português que denomine cafés ruins, o autor criou a palavra marzanha para os denominar. Trata-se de corruptela do termo etíope para veneno.
2 – É preciso reconhecer que o saudoso Dr. Ernesto Illy foi um dos grandes defensores dessa tese visando salto de qualidade do café brasileiro a partir da exclusão do chamado PVA.


Celso Luis Rodrigues Vegro
Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico
celvegro@iea.sp.gov.br

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 27/10/2015

Prezado André

Satisfação em saber que estamos alinhados nas preocupações com o que deve-se oferecer ao consumidor.

Abçs

Celso Vegro
ANDRE CUNHA

FRANCA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 26/10/2015

Prezado Celso

Excelente artigo...

Temos discutido muito aqui na ALTA MOGIANA..sobre a evolução na qualidade e logo na demanda por "" melhores cafés"" pelos consumidores brasileiros.

É claro e certo que ,com a exclusão dos PVA'S...alcançariamos muito  rápido nosso objetivo , de sensibilizar e dar oportunidade à grande parte da população à reeaprender  tomar CAFÉ. ...

Vamos nos mobilizar. ....

Conte conosco...



Um grande abraço



ANDRÉ CUNHA

CAFEICULTOR E PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE CAFES ESPECIAIS DA ALTA MOGIANA (AMSC)




CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 26/10/2015

Prezado Florêncio

Os pesquisadores do grupo café e saúde vinculados ao Consórcio Pesquisa Café possuem muitos trabalhos do escopo sugerido. Entre no site e veja os anais do Simpósio Brasileiros de Pesquisa dos Cafés do Brasil.

Também há estudos do grupo de análises sensoriais do ITAL que tratam do tema e usualmente os publicam em sua revista.

Grato.

Celso Vegro
FLORENCIO FEIO DE FREITAS FILHO

PIUMHI - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/10/2015

Gostaria de sugerir estudos sobre Micotoxinas e Ocratoxinas , existêntes neste lixo PVA e as consequências destas toxinas na saúde de que consome habitualmente este tipo de produto, que nem chega a  ser Café.

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