Neste mês, ao invés de trazer um artigo sobre um tema específico, vou responder a duas consultas enviadas por usuários do CaféPoint, que, por sua pertinência, me levaram a abordar os temas questionados de forma mais abrangente.

Mistura calcário mais super simples

Eduardo Leite Maraccini gostaria de saber sobre a relação do calcário + super simples, se existe incompatibilidade entre eles, qual seria a melhor forma de aplicação de ambos e se a recomendação do tratamento no sulco ou cova de plantio com estes produtos, esta correta.

Suas pergunta, realmente, têm fundamento, Eduardo. Estas dúvidas são freqüentes entre técnicos e produtores, uma vez que calcário e superfosfato simples são importantes insumos para a cafeicultura.

A Recomendação para o Uso de Corretivos e Fertilizantes em Minas Gerais (5a aproximação, 1999) relata que estes insumos são incompatíveis e "não podem ser misturados". E isso é correto. Mas, preste atenção na expressão entre parênteses na afirmação: "não podem ser misturados". Isso significa que não se pode misturar calcário e superfosfato simples, antes da aplicação no solo.

O superfosfato simples é produzido industrialmente pela reação da apatita, que é um fosfato natural de baixíssima reatividade, com o ácido sulfúrico. O ácido sulfúrico destrói a estrutura da apatita, quebrando a maioria das ligações P-Ca e formando fosfato monocálcico e sulfato de cálcio (gesso), segundo a seguinte reação:

Ca₁₀(PO₄)₆F₂ + 7H₂SO₄ → 3Ca(H₂PO₄)₂ + 7CaSO₄+ 3HF

Se ocorre a mistura do calcário com o superfosfato simples, haverá formação de P-Ca novamente, num fenômeno denominado por Malavolta como "retrogradação". Com isso, iremos transformar um adubo de elevada reatividade, o superfosfato simples, em um adubo de baixa reatividade, ou seja, com menor disponibilidade de fósforo para as plantas.

Mas como transportar essas informações para a prática?

Todos sabem que esse tipo de reação química só ocorre se houver água. Quando misturamos o calcário com o superfosfato simples, antes da aplicação no solo, podemos considerar que a quantidade de água presente na mistura é irrisória. Portanto, haverá pequena "retrogradação" na mistura.

Por outro lado, se aplicamos essa mistura ao solo, as partículas de calcário e superfosfato simples vão ficar muito próximas umas das outras, podendo, quando houver umidade no solo, ocorrer elevada formação de P-Ca, o que diminui a disponibilidade de fósforo para as plantas. Por essa razão, pode-se dizer que o calcário e o superfosfato simples são incompatíveis, "quando suas partículas estão muito próximas, na presença de água".

Se, no solo da cova, misturamos primeiro a matéria orgânica, depois o calcário e, por último, o superfosfato simples, a maioria das partículas destes não estará muito próxima (pense em milímetros), o que acarreta menor formação de P-Ca e maior disponibilidade de fósforo para as plantas. Lembre-se que o fósforo apresenta baixíssima mobilidade nos solos.

Nesse caso, o mais importante é misturar bem e calcular corretamente a quantidade de calcário por cova (veja meu artigo "Necessidade de calagem para a cultura do café"). Se a quantidade de calcário aplicada na cova for muito maior do que a estritamente necessária, com certeza haverá redução na disponibilidade de fósforo, devido à elevada formação de P-Ca.

Portanto, não passa de mito a afirmativa de que calcário e superfosfato simples não podem ser aplicados na cova ou sulco de plantio. Basta realizar a prática de forma correta.

Parabéns pela pergunta, Eduardo. Qualquer dúvida, volte a escrever para o CaféPoint.

Paulo Raele, em relação ao artigo "Aplicação de uréia em cobertura para a cultura do café", pergunta porque não posso substituir a uréia pelo sulfato de amônio, usando uma quantidade maior.

Além disso, quer sabe se poderia misturar cal hidratado em uma calda de micro nutrientes para elevar o pH e se o cal, pode ser misturado com o espalhante adesivo

Uréia versus sulfato de amônio

Você pode, sim, Paulo, substituir a uréia pelo sulfato de amônio, desde que essa substituição seja economicamente viável. Inclusive, o sulfato de amônio apresenta baixa higroscopicidade e excelentes propriedades físicas, além de elevada concentração de enxofre.

A única ressalva que faço, é em relação à aplicação contínua de sulfato de amônio, como tem sido feita por diversos produtores. Este é um fertilizante que acidifica o solo em demasia. A uréia também acidifica o solo, mas em proporção muito menor.

Muitas vezes parece até um contra-senso: você corrige o pH do solo com calcário (já sabemos a importância disso) e depois acidifica o solo com sulfato de amônio. Entretanto, se o preço do sulfato de amônio compensar, vale a pena.

Acontece que, na maioria das vezes, o preço do Kg de N no sulfato de amônio é maior do que na uréia, devido à menor concentração de N no sulfato de amônio. Nesse caso, a decisão deve ser tomada de acordo com a variação de preços do mercado.

Cal hidratada mais micronutrientes

Você pode, sim, Paulo, misturar, aos poucos, uma solução de micronutrientes numa solução de cal, visando elevar o pH da solução final. Essa é a ordem correta de mistura. Uma outra coisa é importante: tanto os micronutrientes como a cal devem estar em solução. Dessa forma, evitam-se possíveis precipitações.

Não tenho elementos suficientes para formular uma resposta em relação a adicionar o espalhante adesivo na solução final. Se quiser, faça um teste com pequenas quantidades. Mas, francamente, não vejo nenhuma necessidade de adicionar espalhante adesivo a esta solução de micronutrientes.

Obrigado pelos questionamentos. Qualquer dúvida volte a escrever para o CaféPoint. Meus próximos artigos devem tratar sobre micronutrientes.