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Curva de progresso da mancha de olho pardo do cafeeiro

POR ANTÔNIO F. SOUZA

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 11/02/2008

8 MIN DE LEITURA

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A Mancha de Olho Pardo do cafeeiro, causada pelo fungo Cercospora coffeicola (Berk. & Cooke), é uma doença de ampla distribuição geográfica, nas regiões produtoras da América do Sul e América Central. É uma doença que recebe várias denominações (nomes), dependendo do local onde ocorre, tais como: "Cercosporiose", "manchas circulares", "mancha de olho pardo", "mancha olho de pomba", "Chiasparria", "mancha de hierro", "mancha del fruto del cafeto" e "brown eye spot".

No Brasil, em função da expansão da cafeicultura para áreas de solos de baixa fertilidade natural, com déficit hídrico e o plantio de cultivares de alta capacidade produtiva, o ataque da doença tem sido mais severo, principalmente nas três primeiras safras de cultivo. Nas áreas tradicionais de cultivo, até pouco tempo atrás era uma doença considerada de importância secundária. Índices cada vez mais elevados da doença vêm sendo registrados nas lavouras com o passar dos anos e o prejuízo causado acaba passando despercebido.

Pouca atenção está sendo dada nos estudos epidemiológicos da doença em condições de campo, visando estabelecer época mais adequada de manejo e quantificação dos prejuízos causados. O controle químico geralmente é feito na mesma época da ferrugem do cafeeiro. Mesmo assim alguma desfolha nas plantas devido a mancha de olho pardo ocorre na época mais seca e fria do ano. Em lavouras corretamente adubadas também tem sido encontrada a doença nesta época do ano.

A mancha de olho pardo é favorecida por fatores ligados ao hospedeiro, ao patógeno, ao ambiente e ao manejo. Entre eles destacam: baixas temperaturas, alta umidade relativa do ar, ventos frios, excesso de insolação, deficiência hídrica severa no solo, nutrição desequilibrada ou deficiente (principalmente nitrogênio e potássio), sistema radicular pouco desenvolvido (causado por adensamento de solo ou "pião torto"), ausência de genótipos resistentes ao patógeno, aplicação intensiva de fungicidas sistêmicos via solo ou foliar com mecanismo de ação específico sobre ferrugem, entre outros.

Os conídios (esporos do fungo capazes de causar doença) são formados principalmente à noite e em dias frios e nublados. Eles são produzidos em grandes quantidades nas lesões presentes em ambas as faces da folha e também na superfície dos frutos atacados. Pesquisadores da Colômbia relataram que a produção de inóculo (conídios) está diretamente relacionada com a umidade relativa, sendo mais favorecida no período das chuvas, mas podem ser produzidos o ano inteiro.


Figura 1 - Produção de conídios e conidióforos de C. coffeicola nas lesões presentes em frutos e folhas de café. Conidióforo é a estrutura sobre a qual são produzidos os conídios.

O vento e água de chuva ou de irrigação são os principais agentes de disseminação da doença no campo, fazendo com que os conídios produzidos numa lesão doente atinjam a superfície de folhas e frutos sadios.

Os conídios germinam em ampla faixa de temperatura, variando de 15 a 30o C, sendo que a temperatura ótima observada para crescimento em meio de cultura no laboratório (crescimento "in vitro") está na faixa de 24 a 25o C. As condições climáticas de campo ideais para ocorrência de doença são aquelas de umidade relativa alta e temperatura variando entre 10 e 25o C.

Para germinar sobre a superfície da folha, os conídios necessitam de uma fina camada de água livre, o que geralmente corresponde a uma umidade relativa maior ou igual a 92%. Nestas condições ocorre a formação do tubo germinativo que penetra diretamente nos estômatos foliares ou indiretamente por meio de ferimentos nos frutos, por exemplo, causados pela queimadura do sol.

A incidência da doença nas folhas e nos frutos ocorre em proporção direta com a quantidade de luz recebida pela lavoura. O excesso de luminosidade favorece o desenvolvimento da infecção em qualquer parte do limbo foliar, com queda prematura da folha, principalmente se as lesões estiverem situadas mais próximas ao pecíolo. Uma única lesão pode ser suficiente para causar a queda da folha.

A desfolha reduz drasticamente a relação folha/fruto nos ramos e expõe os frutos a radiação solar direta, o que geralmente causa ferimentos em suas superfícies. Nos ramos desfolhados os frutos são invadidos pelo fungo, acelerando o processo de maturação, caindo antes que os demais frutos atinjam o ponto de colheita. O fungo normalmente sobrevive em folhas e frutos doentes.

O emprego adequado de algumas medidas preventivas de controle como implantação de quebra vento em áreas de encosta exposta à alta intensidade luminosa; construção de curvas de nível no terreno para conter a água das chuvas; adição de matéria orgânica no solo; acompanhamento da nutrição das plantas por meio da análise química de solo e foliar; recomendação da adubação baseada nos resultados da análise de solo; manejo adequado do mato de forma a evitar a exposição do solo nas áreas de encosta podem até dispensar a adoção do controle químico.

Em muitos casos isto não tem sido suficiente para conter a evolução da doença e mesmo adotando as práticas culturais adequadas, a incidência da doença tem sido elevada nas lavouras.

Alguns cultivares resistentes a ferrugem têm apresentado maior incidência de mancha de olho pardo no campo, entretanto, ainda faltam estudos para compreender o problema. Também não existem fontes de resistência contra C. coffeicola e o manejo da doença depende basicamente da associação de práticas culturais com controle químico.

Em razão da alta eficiência no controle químico da ferrugem do cafeeiro com fungicidas de ação específica, têm-se observado maior incidência e severidade da mancha de olho pardo nas lavouras tratadas com estes produtos. Atualmente existem no mercado formulações mistas contendo num mesmo produto comercial ingredientes ativos com ação contra Hemileia vastatrix e contra C. coffeicola (misturas de triazóis+ estrobilurinas e outras misturas).

Alguns triazóis, como por exemplo, o tebuconazol tem ação contra as duas doenças. De maneira geral, os fungicidas cúpricos são eficientes no controle da mancha de olho pardo, com destaque para o Oxicloreto de Cobre.

O controle químico da doença deve ser iniciado na época de frutificação e maturação dos frutos, devido ao maior estresse fisiológico causado nas plantas pelo esgotamento nutricional. Alguns programas de controle baseiam-se apenas no uso de calendários fixos de aplicação de fungicidas protetores ou sistêmicos, enquanto outros visam a integração de fungicidas cúpricos e ou fungicidas sistêmicos com ação conjunta no controle da ferrugem e da mancha de olho pardo, no período de dezembro a março.

Em Viçosa-MG acompanhamos a evolução da doença num talhão irrigado por gotejamento e num talhão sem irrigação durante seis anos (Figura 1). Observou-se que nos meses de novembro e dezembro a porcentagem de infecção foi mais baixa na maioria dos anos avaliados, tanto no talhão irrigado quanto no talhão não irrigado. Os picos de incidência da mancha de olho pardo variaram de ano para ano, entre os meses de março e outubro.


Clique na imagem para ampliá-la.

Figura 2 - Curva de progresso da mancha de olho pardo em cafeeiro irrigado e não irrigado, na região de Viçosa-MG, entre janeiro de 2001 a junho de 2006. * Os meses dentro dos círculos azuis correspondem ao pico da doença ocorrido em cada ano.

A curva de progresso da doença foi semelhante nos dois talhões avaliados. Trabalho realizado por Talamini et al., 2003, mostrou que os picos de incidência da doença na região de Lavras-MG ocorreram entre os meses de maio a setembro. Juliatti et al, 2001 observou no cerrado mineiro que o pico de incidência da mancha de olho pardo ocorreu entre os meses de junho e julho, devido aos aspectos nutricionais da planta e das condições climáticas presentes nesta época do ano, como baixas temperaturas e déficit hídrico no solo.

Em geral a curva de progresso da doença varia entre os talhões numa mesma propriedade, em função da nutrição das plantas, das condições climáticas locais, da exposição da lavoura, das condições físicas do solo e da irrigação, mas estabelecer a época de maior incidência da doença no campo é de importância fundamental no estabelecimento de práticas adequadas ao manejo doença.

Manter um controle eficiente da ferrugem é importante para manter a produtividade do cafeeiro. Entretanto, os trabalhos acima mostraram que a mancha de olho pardo pode causar desfolha numa época em que as plantas podem estar enfolhadas no campo devido ao controle eficiente da ferrugem. Por outro lado, a época de pico da doença coincide com a época da colheita, limitando a aplicação de fungicidas nas lavouras.

Logo precisamos investir em trabalhos de pesquisas e no manejo integrado da doença para quantificar as perdas e danos causados pela doença nesta época de forma a manter a doença dentro de determinados níveis que não causem danos nas plantas e prejuízos aos produtores.

Bibliografia Consultada

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Chupp, C.A. (1953). Monograph of the Fungus Genus Cercospora. Ed. Ithaca, New York. 667p.

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LEDIMAR ALVES DE ANDRADE

BURITIZEIRO - MINAS GERAIS - INDÚSTRIA DE INSUMOS PARA A PRODUÇÃO

EM 03/01/2014

muito bom
OTACILIO JUNIOR DA SILVA ROCHA

ESPERA FELIZ - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 12/04/2011

A cercospora passou a ser o maior desafio levando-se em consideração que a ferrugem encontra-se hoje controlada de forma eficiente com os produtos quimicos, estes quando aplicados na epoca certa para controle preventivo, sendo assim devemos monitorar os pico da doença ( cercospora ) que no caso da minha região acontece nos meses entre Fevereiro a Abril iniciando seu ciclo em Dezembro, sendo assim podemos concluir que devemos fazer a prevenção desta doença entre os meses de Dezembro a Abril.
CLEIA SANTOS CABRAL

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - ESTUDANTE

EM 18/06/2009

Muito obrigado por essa oportunidade de atualização.
MILTON MELO SILVEIRA

CÁSSIA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 09/03/2008

Sem dúvida a mancha de olho pardo é hoje o principal problema fitossanitário na lavoura de café, e deixou de estar relacionado exclusivamente a plantas mal nutridas ou concorrência do mato. Precisamos realmente que a pesquisa nos traga soluções no manejo desta doença.

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