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Controle preventivo das doenças do cafeeiro

POR ANTÔNIO F. SOUZA

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 06/12/2007

11 MIN DE LEITURA

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1 - Introdução

Os fungicidas protetores à base de cobre como calda bordalesa, oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre e o óxido cuproso, foram os primeiros a serem testados demonstrando grande eficiência no controle das principais doenças do cafeeiro, inclusive com reflexos positivos na produtividade da cultura.

Os fungicidas cúpricos têm a grande vantagem de apresentarem amplo espectro de ação, atuando preventivamente no controle da ferrugem, da mancha de olho pardo, da mancha de phoma, da mancha de ascochyta e da manha aureolada. Pode ser adaptado a vários programas de controle da ferrugem, sendo aplicado em mistura ou alternado com fungicidas sistêmicos via foliar, ou ainda complementado as aplicações dos fungicidas sistêmicos via solo. Contribui também para evitar o aparecimento de isolados de patógenos resistentes aos fungicidas sistêmicos.

Mesmo com todas estas vantagens, alguns aspectos relacionados aos fungicidas cúpricos têm contribuído para que o cobre seja substituído nos programas de controle das doenças do cafeeiro tais como: a dificuldade na execução de um esquema exclusivamente preventivo de controle químico da ferrugem, baseado em três a quatro aplicações entre dezembro e março (período chuvoso ou em lavouras adensadas); necessidade de maior número de aplicações, maior volume de calda e de uma boa cobertura foliar com a calda fungicida; o custo do controle preventivo comparado ao baixo preço dos fungicidas sistêmicos no mercado nos últimos tempos; menor eficiência de controle da ferrugem do cafeeiro em anos de alta produção e a possibilidade de causar desequilíbrio na população de ácaros predadores.

No último caso em específico, os resultados da literatura são contraditórios e a maioria dos trabalhos não indicam relação causa-efeito entre a aplicação de cobre e o desequilíbrio na população de inimigos naturais. No passado, houve relatos que aplicações consecutivas de altas concentrações de cobre (30 Kg de Cu/ha/ano) como era utilizado no cafeeiro, poderia causar algum desequilíbrio. Entretanto nos programas atuais de controle com fungicidas cúpricos, raramente são empregados mais que 12,0 Kg de Cu/ha/ano, o que não causaria este desequilíbrio na população dos inimigos naturais.

Apesar disto, o controle preventivo com cúpricos é considerado como importante ferramenta no manejo integrado das doenças do cafeeiro, tanto no sistema convencional (empregando oxicloreto de cobre, óxido cuproso, hidróxido de cobre, calda Viçosa e calda bordalesa) quanto no sistema orgânico, onde determinadas fontes podem ser utilizadas como o sulfato, o hidróxido de cobre, a calda bordalesa e a calda Viçosa.

Acreditamos que a calda Viçosa por poder ser preparada na propriedade, a um custo bem inferior as suas formulações comerciais disponíveis no mercado e aos demais fungicidas cúpricos, possa ser incorporada nos programas de manejo, tanto em aplicações isoladas quanto em mistura com alguns fungicidas sistêmicos no controle preventivo das principais doenças do cafeeiro.

2 - Como a calda Viçosa atua no cafeeiro

2.1 - Efeito fungicida:

A cal hidratada ao reagir com o sulfato de cobre, sulfato de zinco, sulfato de magnésio e com ácido bórico forma um complexo coloidal gelatinoso (precipitado) de coloração azul celeste. Este precipitado de composição química muito complexa exerce a ação fungicida da calda Viçosa.

A cal não é utilizada apenas para a formação de um complexo coloidal de característica gelatinosa, mas também exerce a função de neutralizar o pH da suspensão. Assim quando o pH atinge o valor igual a 7,0, praticamente não há sulfato ou ácido e nem cal livres na solução, mas todos estão interagindo quimicamente.

O cobre presente na suspensão, quando aplicado na superfície das folhas, forma uma barreira tóxica capaz de evitar a penetração do fungo, atuando de forma preventiva no controle das doenças. A calda Viçosa não atua sobre a ferrugem depois que o fungo penetrou nos tecidos da planta, mas impede a germinação dos esporos e ou ingresso dos tubos germinativos do patógeno pelas aberturas dos estômatos na superfície foliar.

Assim, é de grande importância que esta superfície se apresente convenientemente coberta pela calda antes que as condições climáticas se tornem favoráveis à disseminação do patógeno e ou germinação de seus esporos. Por isto que é recomendado fazer a primeira aplicação no início do período chuvoso (época de início do desenvolvimento da doença).

2.2 - Efeito nutricional:

O precipitado formado pela reação do sulfato de cobre, sulfato de zinco, sulfato de magnésio e ácido bórico com a cal, libera o cobre, o zinco, o magnésio, o boro, o nitrogênio e o cálcio os quais ficam prontamente disponíveis para serem absorvidos pela folhagem do cafeeiro. Cada um desses nutrientes desempenha função importante no metabolismo da planta. O que se observa alguns dias após as primeiras aplicações da calda Viçosa é uma notável correção das deficiências, principalmente de cobre e zinco e boro.

A uréia e o cloreto de potássio funcionam como catalisadores para a absorção dos demais elementos e não funciona como a principal fonte nutricional desses elementos. A uréia melhora a absorção dos micronutrientes, enquanto o cloreto de potássio serve para evitar a inibição do zinco e do boro pelo cobre. Para quem vai utilizar a calda Viçosa constantemente nas lavouras, recomenda-se em um mês usar uréia e no mês seguinte usar o cloreto de potássio. No terceiro mês volta com uréia e assim sucessivamente. Ao utilizar a calda Viçosa no cafeeiro, as adubações com zinco, magnésio, cálcio e boro podem ser suspensas. Estes nutrientes já estão presentes na calda.

A calda Viçosa apresenta excelentes características de aderência à folhagem do cafeeiro e dispensa o emprego de espalhantes adesivos e pela sua tenacidade, não é facilmente removida pelas chuvas. As folhas das plantas apresentam uma coloração verde mais intensa e há uma melhoria da aparência geral da lavoura, menor intensidade da queda natural de folhas durante o período seco e aumento significativo de produtividade, confirmado em vários ensaios de campo.

3 - Composição

Dos ingredientes da calda, o que pode dar mais problema com relação à qualidade é a cal hidratada. Deve-se procurar um produto de procedência conhecida, pois há uma variação muito grande de uma marca para outra no mercado. Procurar sempre usar a mesma marca. A cal hidratada deve ser nova, de boa qualidade para reagir totalmente com a água e com teor de óxido de cálcio acima de 90%.

Tabela 1 - Quantidade dos componentes da calda Viçosa a serem pesados para o preparo de diferentes volumes de calda para aplicação no cafeeiro. (Quantidade expressa em gramas).


A quantidade de hidróxido de cálcio varia com seu poder neutralizante (qualidade do produto). A cal é a mesma utilizada para pintura de paredes, desde que seja nova. Se a mistura da cal com os micronutrientes estiver com um aspecto de "leite talhado" é porque a cal está velha (recarbonatada) e imprópria para este uso.

Os sais minerais (sulfato de cobre, sulfato de zinco, sulfato de magnésio, ácido bórico, uréia ou cloreto de potássio) devem ter elevada pureza, para não afetar a qualidade da calda e também não podem estar úmidos (pedrificados).

4 - Modo de preparo da calda viçosa

Aqui está o sucesso ou insucesso no uso da calda Viçosa no cafeeiro. O preparo e a aplicação desta calda são etapas importantes para o êxito do tratamento fitossanitário, assim como a concentração e a qualidade dos ingredientes. As etapas abaixo devem ser seguidas à risca:

1 - Dividir o volume de 10 litros de água em dois recipientes;

2- No recipiente A será dissolvida a cal hidratada para formar o "leite de cal" e no recipiente B será dissolvido os micronutrientes (os sais);

3 - Manter o leite de cal sob forte agitação e verter sobre ele, os sais. Isto contribui para a formação de partículas coloidais bem pequenas e de boa suspensibilidade em água. Se a agitação for fraca, serão formadas partículas maiores que sedimentarão muito rápido no fundo do recipiente. Se inverter a ordem (o "leite de cal" sob a solução de sais) a calda vai coagular e ficará imprestável para o uso além de causar entupimento dos bicos. Quando bem preparada, a mistura mantém-se em suspensão por mais de 10 minutos.


Clique na figura para ampliá-la.

Figura 1: Esquema para o preparo de 10 litros de calda Viçosa

A calda Viçosa assim preparada fica com o pH variando de 6,5 a 8,5 (usar papel indicador de pH ou papel de tornassol) apresentando uma coloração azul celeste bem característica. A calda neutra (pH 7) ou ligeiramente acida (pH entre 5 e 7) é compatível com muitos defensivos utilizados no controle de pragas e doenças do cafeeiro. Porém, quando alcalina (pH maior que 7), é incompatível com a maioria desses produtos. Daí a importância de checar o pH da calda antes misturar com outros produtos químicos.

Alguns cuidados a serem observados durante o preparo:

a) Usar somente recipientes de plástico, amianto, fibra de vidro ou outro material qualquer que não seja metal, porque os metais são atacados pelos sais.

b) Preparar a quantidade de calda que vai ser utilizada no mesmo dia. As sobras não devem ser guardadas, desse modo, deve-se calcular com cuidado a quantidade a ser preparada. Você pode até preparar as duas soluções separadamente no dia anterior e usar no dia seguinte, mas se misturar tem que utilizar no mesmo dia.

c) Se for preparar 20 litros de calda (capacidade de um pulverizador costal), pode-se usar baldes de plástico de 10 litros e dissolver os ingredientes de cada balde em um volume de 5 litros e depois completar o restante do volume. Se for preparar volumes maiores, deve-se adaptar um sistema para facilitar a agitação da calda.

d) Para saber se o pH está dentro da faixa desejada, poderá ser utilizado o papel indicador que vem em caixas com escala de cores, correspondendo cada cor a um determinado valor de pH. A caixinha desse papel indicador pode ser adquirida em laboratórios de produtos especializados.

e) Outra opção é o uso de papel e tornassol encontrado nas farmácias. Quando a ponta deste papel é imersa na calda, e a cor do papel mudar para a cor azul, indica que o pH está alto (alcalino). Se a cor do papel alterar para vermelho, indica que o pH está baixo (ácido). Neste último caso é só acrescentar mais cal à calda até que a mistura fique neutra.

f) Método prático utilizado por muitos produtores é o Teste da faca que consiste em mergulhar uma faca de aço comum, bem limpa, por 3 minutos. Caso esteja ácida, reage com o metal, mostrando uma área parda ou mancha avermelhada. Neste caso será preciso corrigir a mistura adicionando mais leite de cal, até que a mistura fique neutra. Quando neutra não suja a faca, não afeta o metal, nem haverá qualquer formação ferruginosa e a calda estará pronta para o uso.

g) Para uso em áreas de café orgânico a calda Viçosa deve ser preparada sem adição de uréia, presente na composição original, por que seu uso não está permitido pelas normas vigentes da agricultura orgânica.

h) Já existem no mercado algumas formulações prontas da calda Viçosa comercializadas como adubos foliares (VIÇA CAFÉ, FH CAFÉ, VIÇOSA CAFÉ, dentre outras). Nem todas apresentam concentrações dos componentes correspondentes ao da formulação original. O produtor deve ficar atento ao preço e á concentração desses componentes antes de optar pelo seu uso, principalmente em relação ao cobre, para que além da nutrição do cafeeiro ele também possa ter êxito no controle da ferrugem.

5- Modo de usar

A calda Viçosa pode ser aplicada com qualquer tipo de pulverizador. Antes de colocar a calda no pulverizador, utilize um coador de tela fina (que pode ser a mesma do pulverizador) para evitar o entupimento dos bicos. Devem ser evitados filtros de malha muito fina nos bicos desses equipamentos, porque a suspensão coloidal gelatinosa formada acumula nesses filtros e interrompe a passagem da calda. Agitar freqüentemente o pulverizador para evitar deposição dos ingredientes no fundo do tanque.

Pulverizadores costais motorizados podem ser adaptados com uma turbina rotativa na lança de pulverização, que ajuda a produzir gotas menores e mais uniformes, além de promover uma agitação da folhagem, proporcionando uma boa cobertura das folhas.

Pulverizadores tratorizados utilizados para aplicação a grandes volumes de calda devem possuir um sistema de agitação eficiente para manter a calda em suspensão. A aplicação da calda Viçosa deve ser feita em alta pressão, acima de 100 libras, para permitir a formação de gotas pequenas e de uma fina camada de proteção sobre os tecidos vegetais, impedindo a instalação e o desenvolvimento da doença. Deve-se tomar cuidado com a deriva para evitar perda do produto pela ação vento.

A recomendação da calda Viçosa é de quatro aplicações feitas a cada 30 dias, com início em dezembro e término em março ou abril. Dentro das dosagens recomendadas, não há restrição para o seu uso. As pulverizações devem ser feitas preferencialmente nas horas mais frescas do dia.

As plantas pulverizadas com a calda Viçosa ficam com uma cor verde-azulada bem característica. Deve-se ter cuidado em pulverizar plantas com botões florais ou com flores, pois a calda poderá manchar as flores.

Mistura da calda Viçosa com triazóis é praticada pelos produtores como forma de fazer o controle da doença e ao mesmo tempo fornecer micronutrientes necessários ao cafeeiro como zinco, boro e cobre. Resultados de pesquisa mostram que há uma perda de até 10% na eficiência dos fungicidas sistêmicos quando usados em mistura com a calda Viçosa.

6 - Referências bibliográficas

CRUZ FILHO, J.; CHAVES, G. M. Calda Viçosa no controle da ferrugem do cafeeiro. Informe técnico, UFV - Viçosa, MG, n. 51, p. 1- 22.1985.

MONTEIRO, A.J.A.; ZAMBOLIM, L.; Do VALE, F.X.R.; COSTA, H.; CHAVES, G.M. Preparo e uso da calda Viçosa. In: OLIVEIRA, J.R. (Ed.). II Encontro de Fitopatologia - Palestras. Departamento de Fitopatologia, UFV, Viçosa-MG. p. 73-79. 1997.

ZAMBOLIM, L.; Do VALE, F X. R.; PEREIRA, A. A.; CHAVES, C. M. CAFÉ (Coffea arabica L.). Controle de doenças causadas por fungos, bactérias e vírus. In: Do VALE, F.X. R.; ZAMBOLIM, L. (Eds.)Controle de doenças de plantas.. v I, 1997, p. 83-180.

ZAMBOLIM, L.; Do VALE, F.X.R.: CRUZ FILHO, J.; CHAVES, G.M.; CAIXETA, G.Z.T.; MACABEU. A.J.
Controle químico da ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatix Berk. & Br.) e custos das opções propostas. Brasília: ABEAS, 1990.40 p.

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RAFAEL

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 13/01/2020

Olá!

gostaria de saber mais a respeito da aplicação da CALDA SULFOCALCICA na cultura do café.

Att. Rafael
THIAGO MULLER

CHALÉ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/01/2014

Qual a melhor alternativa ou seja a mais eficaz a calda viçosa feita na propriedade ou o viça café produto do mercado ! e gostaria de saber se a utilizaçao desse produto evita a queda de chumbinhos na lavoura !
JOSE ROBERTO DO NASCIMENTO

RIO DE JANEIRO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 07/05/2013

posso utilizar folicur junto com com essa calda viçosa?
LEONARDO SOARES

GUAPÉ - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/10/2012

Posso utilizar Raynitro junto com a calda viçosa ou outro tipo de hormônio?
RENATO DUZZI

FRANCA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 03/06/2011

quais são os niveis ideal de cobre na folha na endução floral do café?...se a falta ou excesso pode ser prejudicial?...  
TOBIAS TEODORO NOGUEIRA

ITAPORANGA - SÃO PAULO

EM 27/06/2009

Gostaria de saber qual a melhor época para aplicar a calda viçosa no cafeeiro. Estamos em época de colheita.
LUCIANO DE FREITAS DA MATA

CAMPESTRE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 21/10/2008

gostaria de saber, que tipo de resultado eu teria com exesso de ácido bórico no solo.
eu fiz a analize do solo, agronomo recomendou a quantia de 12g por cova, so que eu joguei com a mão uma quantidade aprocimada, eu li umas das resposta das cartas e fiquei preoculpado.nande mais informações sobre este asunto sobre ecesso de nutirentes. muito obrigado.

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