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Relação entre produtores de café certificado e consumidores: Cooperativa Fairtrade / pequenos agricultores familiares

VÁRIOS AUTORES

TÉCNICAS DE PRODUÇÃO

EM 13/02/2007

10 MIN DE LEITURA

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Este artigo mostra a relação entre os impactos locais, no Brasil, e os consumidores que compram o café certificado Fairtrade no exterior. É um estudo ilustrativo e não representa todas as cadeias de café certificado.

A cadeia produtiva de café certificado é analisada com base na Cooperativa dos Produtores Familiares de Poço Fundo - COOPFAM, uma cooperativa e associação de pequenos produtores familiares, certificados pelo programa Fairtrade, exportando para os EUA e Dinamarca.

Foram obtidas informações sobre as relações mais importantes entre os componentes dessa cadeia produtiva, para entender a natureza da cadeia e como ela tem sido influenciada pela certificação. Além disso, é apresentada a visão dos agentes envolvidos ao longo da cadeia sobre como seus respectivos negócios têm sido afetados pela a certificação, e as barreiras e oportunidades de expansão do mercado para café certificado.

Os produtores

A Cooperativa dos Produtores Familiares de Poço Fundo, localizada no município de Poço Fundo, no Sul de Minas Gerais, foi criada em 1991 com o objetivo de melhorar o padrão de vida dos produtores por meio da organização e cooperação. Um dos requisitos para se tornar membro da cooperativa é que ao menos 80% dos rendimentos familiares sejam provenientes do uso da terra. Em 2002 a cooperativa recebeu a certificação Fairtrade com a FLO/Max Havelaar e orgânica do Instituto Biodinâmico, fruto de um processo iniciado em 1997.

A Associação tem 210 membros, dos quais 115 são certificados como orgânicos, e outros membros estão em processo de transição para orgânico. A Associação produziu cerca de 2.000 sacas de café beneficiado em 2004, 5.000 sacas em 2005 e 12.000 sacas em 2006, sempre de café arábica de alta qualidade. A maior parte do café produzido é exportada para os Estados Unidos, Japão e Dinamarca.

Atualmente a Associação tem vendido todo seu café ao preço Fairtrade, e seu presidente, Luís Adauto de Oliveira, acredita que isso seja função da alta qualidade do café produzido.

A certificação sob o sistema Fairtrade, 500 euros por ano, é paga pela Associação. A certificação orgânica, US$60 por produtor, é paga individualmente. Sob as normas do sistema Fairtrade, parte dos rendimentos deve ser direcionada para projetos que beneficiem a comunidade - US$7 por saca pelo Fairtrade e US$19 por saca pela certificação dupla, Fairtrade e orgânica. A Associação cobra US$10 por saca de cada produtor, uma média daquelas contribuições, independentemente de ele estar ou não certificado como orgânico, para incentivar os produtores a se converterem à produção orgânica.

Nos primeiros dois anos da Associação, esse dinheiro foi utilizado na construção de uma Unidade de Beneficiamento de Café, incluindo equipamentos e instalações para armazenamento. A seguir foram promovidos projetos de caráter mais social, como treinamento na utilização de computadores para familiares e membros da comunidade local, além de tratamento dentário. Para uma próxima etapa, os recursos poderão ser utilizados em melhorias nas propriedades de cada membro da Associação, tais como pavimentação dos terreiros de secagem.

As decisões são tomadas pelos membros da Associação em assembléias periódicas, onde cada família tem um voto, exercido pelo chefe da família, geralmente homem, mas as esposas podem substituí-los nas reuniões.

A Associação de Poço Fundo tem sido claramente beneficiada pela certificação Fairtrade, à qual teve acesso em época de níveis baixos históricos de preços de café. Os equipamentos para beneficiamento, muito caros para aquisição individual, permitem que os produtores não fiquem mais à mercê dos intermediários para beneficiarem seus cafés. As estruturas de beneficiamento são utilizadas por todos os membros da cooperativa, que contribuem com um valor pequeno, para cobrir custos adicionais de energia elétrica. Essa estrutura é controlada pela cooperativa e não tem havido desentendimentos sobre os volumes de café entregues, como ocorria quando eram utilizados maquinistas privados. Como resultado dos altos preços recebidos, os produtores estão capacitados a instalar terreiros de concreto para secar os grãos, a fazer melhorias em suas residências e/ou para comprar veículos, e a eliminação de produtos agroquímicos proporciona um ambiente saudável para as crianças.

Uma das famílias da Associação, a família Rezende, onde cada um dos dez irmãos tem seu próprio talhão de café, dois dos quais são orgânicos, conseguiu comprar um trator e uma carreta para transportar o café em substituição ao carro de boi utilizado anteriormente. Adicionalmente, instalaram fossas sépticas em suas residências. Como resultado dos requisitos do Fairtrade, suas crianças começam a trabalhar apenas com a idade de 16 anos e freqüentam a escola à noite.

Nenhum produtor da Associação utiliza defensivos químicos, uma exigência de seus membros, provavelmente para prevenir a contaminação das lavouras orgânicas. As técnicas de produção orgânica utilizadas pela Associação foram desenvolvidas e estudadas pelos próprios produtores, combinando conhecimentos e práticas locais, utilizados pelas gerações anteriores, com conhecimentos das instituições de pesquisa da região e das companhias produtoras de fertilizantes. Eles utilizam uma mistura de esterco bovino, cascas de café e torta de mamona.

Após a conversão para orgânico, a Associação enfrentou problema de mercado, numa época (1999/2000) em que o mercado brasileiro não estava inteirado das diferenças entre o café orgânico e o convencional. Antes da certificação a Associação vendia seu café para uma empresa nacional (Cooxupé). A certificação Fairtrade abriu potencial para exportação.

A Associação acredita que uma certificação da Rainforest Alliance não seja viável, pois considera a taxa anual de auditoria muito alta em relação à expectativa de prêmio que ela deverá gerar.

O comprador

O café produzido pela COOPFAM é exportado pela Exprinsul, uma grande companhia exportadora de café. Ela começou a exportar café Fairtrade em 2003, com 1.280 sacas e em 2004 exportou 11.300 sacas, provenientes de quatro cooperativas Fairtrade (Poço Fundo, FACI, Santana e Nova Rezende). O café Fairtrade é exportado para os Estados Unidos, Canadá, Espanha, Países Baixos, Reino Unido e Alemanha. Esse volume representa uma pequena proporção do total de café exportado pela companhia. Enquanto a Associação de Poço Fundo agora tem sua própria estrutura de beneficiamento, duas das outras cooperativas enviam seu café em coco para ser beneficiado na Exprinsul. Assim, as proporções do preço de exportação que ficam com as cooperativas variam de 93% a 95%.

O motivo do envolvimento da Exprinsul com a exportação do café Fairtrade parece ser primeiramente filantrópico - um desejo de auxiliar os pequenos produtores de café. Esse mercado foi favorecido pelo bom relacionamento entre o presidente da Exprinsul e uma importante torrefadora e importadora nos Estados Unidos, a Blazer & Wolthers, que conseguiu a venda do primeiro carregamento para a Dunkin´ Donuts, em 2003 (Gazeta Mercantil, 2003). Quando o primeiro embarque foi realizado, Cleber Marques de Paiva, presidente da Exprinsul, disse que a empresa não obteve nenhum lucro com a operação e que seu maior prêmio era ser reconhecida como uma empresa que pratica o comércio solidário, assim como ser um modelo para iniciativas de responsabilidade social (Ibid).

Dois anos depois, Flúvio Henrique Selvati, diretor de marketing da Exprinsul, acredita que a exportação de café Fairtrade tenha beneficiado a companhia pelo aumento na sua visibilidade e criando confiança, o que vem aumentando suas vendas. Alguns dos clientes que conheceram a companhia por meio das compras de café Fairtrade agora compram também seu café convencional. Os procedimentos para trabalhar com o café Fairtrade e com certificação dupla, Fairtrade e orgânica, requereram alguns ajustes para manter esses cafés separados do café convencional, mas as implicações sobre os custos foram mínimas. A companhia pretende continuar exportando café Fairtrade e está se preparando para exportar café com certificação Utz Kapeh. Eles foram relacionados como novo comprador registrado na Utz Kapeh em novembro de 2005.

O importador

A Blazer & Wolthers importa café Utz Kapeh e Fairtrade para os mercados norte americano, europeu e japonês. A companhia é dirigida por Christian B Wolthers, também presidente do conselho diretor da Utz Kapeh. Em 2000, as vendas de café certificado representaram 5-6% das vendas da companhia, proporção que cresceu nos últimos cinco anos para cerca de 50%. A certificação está alinhada com a visão de negócios da companhia e com o desejo de melhorar as práticas e as relações dentro do setor de cafés sustentáveis.

Há outras vantagens em se trabalhar com café certificado, entre elas o fato de ser um mercado menos especulativo. Christian Wolthers acredita que a certificação esteja se tornando cada vez mais importante no contexto da segurança alimentar, tanto no mercado norte americano como no japonês. Os esquemas de certificação de café têm sistemas de ratreabilidade que atendem aos requerimentos legais dos dois países. Isso pode ajudar a expandir o mercado de café certificado.

O café de Poço Fundo é vendido para a Dunkin´Donuts, para uso em blends para café expresso, com um contrato de 24 meses. Ele é torrado por três diferentes empresas contratadas pela Dunkin´Donuts. Nesse caso, o interesse no café Faitrade tem sido dirigido pelo comprador. Em 2002, a Dunkin´Donuts aproximou-se da Blazer & Wolthers para obter ajuda no fornecimento de café Fairtrade para seus expressos. Desde então o café brasileiro foi o principal componente de seus blends e a Dunkin´Donuts estava interessada em encontrar café Fairtrade brasileiro com características similares para a manutenção da consistência do sabor.

Até então nenhum dos três grupos de produtores certificados Fairtrade pela FLO-FT no Brasil tinha a capacidade de exportação necessária para atender a Dunkin´Donuts. A Wolthers já tinha um relacionamento com a Exprinsul, então foi solicitada sua ajuda para identificar o melhor grupo para ser envolvido nessa iniciativa. Assim, a Associação de Poço Fundo entrou em cena. Ela era certificada pela FLO e produzia café arábica. A Wolthers forneceu assistência técnica à Associação, incluindo investimentos financeiros, facilitando o atendimento aos padrões da Dunkin´Donuts.

De acordo com Christian Wolthers, tanto a Blazer & Wolthers quanto a Exprinsul tiveram margens de lucro limitadas com a venda de café Fairtrade e a maior parte dos lucros ficou com os produtores. Porém, há outros benefícios envolvidos na manipulação do café Fairtrade, tais como negociações mais transparentes, ausência de especulação e riscos menores. Ele diz que isso proporciona um contraste com o "canibalismo" do mercado convencional.

O varejista

A Dunkin´Donuts, parte do grupo Allied Domecq, é o varejista número um de café nos Estados Unidos, vendendo 2,7 milhões de xícaras por dia - quase um bilhão de xícaras por ano. É a maior cadeia de café e negócios de café no mundo, com 6.100 lojas em 30 países. Apesar do nome, o café é seu principal produto, perfazendo 63% dos US$4,4 bilhões de rendimento anual da empresa.

Desde 2003 os grãos de café usados para o preparo de bebidas de café expresso da Dunkin´Donuts, incluindo cappuccino e café com leite, têm sido certificados pela Transfair USA. As compras de café certificado Fairtrade representam uma renda de aproximadamente US$1,5 milhões, uma pequena proporção do total de café comprado pela Dunkin´Donuts, a qual estimou que em 2003 as compras de café Fairtrade seriam de 2% do total das compras da empresa.

Observações

Como resultado deste estudo, algumas observações interessantes podem ser feitas:

- Há diversos interesses guiando a certificação. O interesse do comprador é claramente importante, mas a interligação entre os interesses dos compradores com produtores certificados requeriu contatos pessoais e pareceu mais direcionado pela filantropia do que pelas expectativas dos benefícios diretos do negócio.

- A qualidade teve um papel importante como facilitador das vendas de café certificado.

- Os benefícios da certificação ao longo da cadeia são diversificados. Os prêmios são importantes para os cafeicultores, mas há outros benefícios menos tangíveis, tais como maior acesso ao mercado, arranjos contratuais de longo-prazo, reduções nos riscos e maior transparência nas negociações.

Notas dos autores:

1 - Artigo derivado do livro "Do grão à xícara: como a escolha do consumidor afeta cafeicultores e meio ambiente". Consumers International e International International Institute for Environment and Development, 2007, 60p.

2 - No livro "Do grão à xícara: como a escolha do consumidor afeta cafeicultores e meio ambiente" são apresentados outros dois estudos de caso, para demonstrar a diversidade de situações nas quais o café certificado caminha do produtor ao consumidor final e o leque de interesses existentes nessas relações comerciais.

3 - As informações sobre a Cooperativa dos Produtores Familiares de Poço Fundo foram obtidas por comunicação pessoal com Luís Adauto Oliveira, em 2007.

4 - As informações sobre a Exprinsul foram passadas por Flúvio Henrique Selvati.

5 - As informações sobre a Blazer & Wolthers são de comunicação pessoal de Christian B Wolthers.

SERGIO PARREIRAS PEREIRA

Agrônomo - Mestre em Fitotecnia - Pesquisador Cientifico do IAC - Centro de Café - Mediador da Comunidade Manejo da Lavoura Cafeeira no PEABIRUS - Doutorando da Universidade Federal de Lavras - UFLA - Coordenador do Núcleo de Manejo do CBP&D/Café

ARTUR BATISTA DE OLIVEIRA ROCHA

FLÁVIA MARIA DE MELLO BLISKA

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