A visita marcou o encontro de gigantes, do maior produtor mundial de café conilon, com o maior produtor brasileiro. Os vietnamitas estiveram na Sede do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em Vitória, para conhecer o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento em Café Conilon. O momento contou com a participação de representante da Conilon Brasil.
“Embora o Vietnã seja o maior produtor mundial de café conilon, viemos ao Brasil e, em especial ao Espírito Santo, para conhecer as tecnologias desenvolvidas pelo Incaper no Espírito Santo, a fim de verificarmos se é possível adaptar alguma delas para nossa realidade”, falou o diretor geral da Netafim no Vietnã, Vu KienTrung.
O sucesso da cafeicultura no Vietnã
A produção de café conilon no Vietnã gira em torno de 28 milhões de sacas de 60kg. O Brasil, segundo colocado no ranking mundial, tem sua produção em torno de 12,5 milhões de sacas, sendo o Espírito Santo responsável por 78% desse total. Dessa forma, a curiosidade em torno dos fatores que justificam essa alta produção é muito grande.
De acordo com a comitiva vietnamita, o país tem 600 mil hectares de café robusta plantados. Desse total, de 10 a 15% são áreas maiores e que pertencem a empresas privadas e ao governo. De 85 a 90% das áreas de café pertencem a pequenos agricultores, com propriedades em torno de 1 a 2 hectares. O plantio é de 1.100 plantas por hectare.
“No Vietnã, devido ao pequeno tamanho das propriedades, o agricultor cuida das lavouras de café com muito zelo. Eles acabam melhorando a produção por eles mesmos”, falou Vu KienTrung. Outro aspecto importante é a grande fertilidade do solo, que é de origem vulcânica e com grande profundidade.
Em relação às principais diferenças entre a cafeicultura vietnamita e a capixaba, a comitiva disse que a utilização de tecnologias e a existência de um serviço público de assistência técnica e extensão rural são as principais. “No Espírito Santo, há grandes áreas de café. Se houver boas condições de produção, é fácil introduzir novas tecnologias, novas variedades e sistema mecanizado. Porém, a maior diferença entre os países é, sem dúvida, o auxílio público de assistência técnica prestada por instituições como o Incaper”, falou Trung.
Ele disse que, no Vietnã, o Instituto de Pesquisa ainda está distante da realidade dos produtores. “As tecnologias desenvolvidas nem sempre são as que os agricultores vietnamitas necessitam. Por isso, existem muitos aspectos agronômicos que temos que aprender com a experiência do Espírito Santo”, disse Trung.
Entre os principais desafios da cafeicultura do Vietnã estão o déficit de recursos hídricos, a necessidade de suporte tecnológico e o financiamento das atividades. “Com as mudanças climáticas, vem aumentando a necessidade de trabalhar melhor o manejo de recursos hídricos. Por isso, estamos introduzindo a irrigação por gotejamento no café conilon. Além disso, é um grande desafio o suporte tecnológico oferecido por um Instituto de Pesquisa. Por enquanto, não temos tecnologias para transferir. Por fim, é preciso avançar em um programa de crédito, de financiamento, que ajude o agricultor a adquirir equipamentos”, explicou Trung.
Diversificação na agricultura vietnamita
Além do café, outras culturas compõem a agricultura do Vietnã, país costeiro, longo de Norte a Sul, com regiões montanhosas e planas. A cana-de-açúcar no país destaca-se com 250 mil hectares plantados. Além disso, o Vietnã é o maior produtor de pimenta-do-reino do mundo.
Outra cultura importante é a seringueira, com 4 mil hectares plantados sob irrigação por gotejamento. Sob a irrigação, a primeira sangria da planta ocorre em quatro anos, e não em sete, como é a maneira tradicional. A Fruta do Dragão possui 30 mil hectares plantados e mercado consumidor cativo na China.
O plantio do chá também é significativo. Ele é plantado nas áreas mais altas do país e adubado organicamente com resíduos de fábricas de óleo, leite fresco e cinza. O mercado desse produto é Taiwã.
Rumo à cooperação técnica
Após a visita da comitiva vietnamita, composta pelo diretor geral da Netafim no Vietnã, Vu KienTrung; pelo agrônomo e especialista em café, Nguyen Na Khê; e pelo gerente de pesquisa em irrigação do Instituto de Pesquisa do Vietnã, Hung, ficou acordado que tanto o Incaper quanto a equipe vietnamita irão formalizar o pedido de cooperação técnica, a fim de que possa haver um intercâmbio de conhecimentos nas áreas de café conilon.
Para o pesquisador do Incaper e coordenador estadual de cafeicultura, Romário Gava Ferrão, a visita da comitiva do Vietnã abre caminho para entender como, em tão pouco tempo, esse país conseguiu aumentar tanto a produção de café, por intermédio da produtividade média, que é maior do mundo, ou seja, de 45 a 50 sacas beneficiadas por hectare.
“Na nossa percepção, naquele país, não existe um programa sistematizado priorizando a pesquisa, o fomento de sementes e mudas e transferência de tecnologia, como ocorre no Espírito Santo. Por isso, é tão importante conhecermos a realidade local”, disse Romário.
A visita dos representantes do Vietnã ao Brasil foi feita por meio da Netafim, empresa de equipamentos de irrigação localizada em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil e no Vietnã. A empresa possui um programa de intercâmbio de informações que proporciona o conhecimento de experiências de sucesso na área agronômica entre países.
Informações Equipe Conilon Brasil e Incaper