De acordo com a Organização Internacional do Café (OIC), em 2013, a produção mundial de café foi de aproximadamente 145 milhões de sacas e o consumo de 142 milhões. Nesse mesmo ano, o Brasil produziu 49,1 milhões de sacas, o que corresponde a um terço desse mercado. Ou seja, de cada três xícaras de café consumidas no mundo, uma é brasileira. Assim, falar da cafeicultura é falar de um produto que muito contribuiu para o desenvolvimento nacional desde 1727, quando as primeiras mudas de café foram plantadas em nosso País; é destacar que o café ocupa atualmente o 5° lugar no ranking de exportação do agronegócio brasileiro; que gera em torno de oito milhões de empregos diretos e indiretos; e que, por força desses números, o Brasil é o maior produtor, maior exportador e segundo maior consumidor mundial da bebida.
Mais recentemente, podemos atribuir a expressividade da produção de café no Brasil, em grande parte, às pesquisas do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café, criada com essa missão em 30 de agosto de 1999. O objetivo principal foi promover a união de esforços institucionais paradesenvolver tecnologias em áreas estratégicas da cafeicultura brasileira com sustentabilidade, competitividade, inovação e incremento tecnológico. O aporte financeiro das pesquisas conta com apoio do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira - Funcafé, gerido pela Secretaria de Produção e Agroenergia - SPAE, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, além de outras fontes federais e estaduais.
De acordo com dados do Mapa, em 1997, quando da criação do Consórcio Pesquisa Café, a produção nacional de café era de 18,9 milhões de sacas de 60kg e produtividade de 8,0 sacas/hectare. Em 2014, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento – Conab (maio/2014), com praticamente a mesma área cultivada – 2,3 milhões de hectares - o País deverá produzir 44,6 milhões de sacas (incremento de 236% no período de 1997 a 20014), com produtividade de 23,1 sacas/ha.
Para o gerente geral da Embrapa Café, Gabriel Bartholo, com a evolução da pesquisa cafeeira nos últimos 15 anos, o Brasil pode dizer que tem hoje uma das cafeiculturas mais responsáveis do mundo quanto à sustentabilidade, além de gerar renda no campo, evitar o êxodo rural e preservar o meio ambiente. "O segredo desse salto está na parceria e atenção às necessidades do setor produtivo. Os projetos de pesquisa são elaborados a partir de prospecções de demandas dos diversos segmentos da cadeia do produto e das instituições consorciadas. Todas as pesquisas, direta e indiretamente, consideram em seu desenvolvimento aspectos essenciais, como qualidade, sustentabilidade, baixo custo e adoção no campo, conjunto de fatores que realça a ação do Consórcio e mantém a imagem do Brasil como país de referência e excelência na produção e exportação de café. Afinal, sem o efetivo aprendizado dos conhecimentos e adoção das técnicas no campo, a inovação não acontece".
Unidade de gestão e pesquisa
A Embrapa Café, criada em 1999 como órgão integrante da estrutura da Embrapa, tem por finalidade promover e apoiar atividades de pesquisa e desenvolvimento do café, tanto de Unidades Descentralizadas da Embrapa como de instituições do Consórcio Pesquisa Café e do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária - SNPA. Além da função de gestão do Programa Pesquisa Café do Consórcio e transferência de tecnologia, a Unidade, ao longo de sua existência, passou a realizar pesquisas e ações de transferência de tecnologia, o que tem agregado ainda mais a disponibilização, para o mercado e a sociedade, de tecnologias, serviços e produtos de forma integrada com os vários segmentos agroindustriais.
Assim, os técnicos da Embrapa Café trabalham em parceria com instituições de pesquisa de café nos principais estados produtores dando forma a esse modelo de pesquisa e transferência de tecnologia baseado no compartilhamento de recursos humanos, materiais, financeiros e de conhecimento que tem permitido a integração de instituições tradicionais na ciência, ensino e extensão rural para geração e adoção de tecnologias de forma integrada com os vários segmentos da cadeia agroindustrial do café.
No âmbito do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Embrapa Café integra os quatro Comitês Diretores do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC): Comitê Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CDPD/Café); de Planejamento Estratégico do Agronegócio Café (CDPE/Café); de Promoção e Marketing do Café (CDPM/Café); e do Acordo Internacional do Café (CDAI/Café). "A participação da Unidade é uma conquista da pesquisa cafeeira no Brasil. Significa que podemos participar desde o nascedouro de todas as discussões e formulações políticas públicas no âmbito do Ministério da Agricultura e assim sintonizar nossas ações com as diretrizes do governo para o setor e implementá-las nas entidades consorciadas e parceiras", avalia Bartholo.
Resultados
Entre os trabalhos de pesquisa realizados por mais de 800 pesquisadores lotados nas instituições consorciadas e parceiras, destacam-se estudos das seguintes áreas: melhoramento genético, que gerou dezenas de cultivares de café arábica e conilon resistentes às principais pragas e doenças do cafeeiro, com alta produtividade e melhor qualidade dos frutos. Entre as mais recentes cultivares lançadas de café conilon estão a Diamante Incaper 8112, Jequitibá Incaper 8122 e Centenária Incaper 8132, que são altamente produtivas e possuem características para a produção de bebida com classificação superior e foram desenvolvidas pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – Incaper em parceria com a Embrapa Café e ainda as cultivares de café arábica denominadas Catiguá MG3, Catiguá MG4 e IPR 103, desenvolvidas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).
Na área de biotecnologia com o desenvolvimento do Genoma Café (que resultou na construção de um banco de dados com mais de 200 mil seqüências de DNA e na identificação de mais de 30 mil genes responsáveis pelos diversos mecanismos fisiológicos de crescimento e desenvolvimento do cafeeiro) e das biofábricas ou clonagem (técnica que multiplica in vitro, a partir de tecido da folha, plantas café arábica de características favoráveis, como resistência ao bicho-mineiro e à ferrugem, boa qualidade de bebida e alta produtividade). Manejo de pragas, doenças e do solo; manejo da lavoura, como o sistema de produção de café irrigado, estresse hídrico, adubação fosfatada, poda programada, sistema adensado etc., além de tecnologias de colheita e pós-colheita disponíveis para preparo, secagem e armazenamento de grãos e ainda o Sistema de Limpeza de Águas Residuárias – SLAR, que remove os resíduos sólidos na água proveniente do processamento de frutos viabilizando a reutilização da água, além de outras de preparo, secagem e armazenamento de grãos. Há também tecnologias de apoio à produção ou à qualidade do café, como o uso de geotecnologias (GPS, sensoriamento remoto, sistemas de informação geográfica, entre outros) que têm auxiliado na caracterização ambiental, facilitando o conhecimento de situações e atividades e a simulação de prognósticos, inclusive nos estudos de Indicação Geográfica.
Novos projetos
Neste ano de 2014, a Embrapa Café contratou, no âmbito do Consórcio Pesquisa Café, 92 novos projetos de pesquisa, desenvolvimento, inovação e transferência de tecnologia nas seguintes áreas priorizadas: "Sustentabilidade da cafeicultura de montanha", "Mão de obra escassa e de alto custo", "Estresses bióticos e abióticos", "Qualidade e Marketing para rentabilidade" e "Deficiência dos processos de transferência de tecnologia". Tais linhas de atuação contemplaram os principais Eixos de Atuação do Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Setor Cafeeiro – PEDSC/Mapa, período 2012-2015, da SPAE/MAPA, e do Conselho Diretor do Consórcio - CDC: equalização do patamar de produtividade; irrigação; nutrição; novas cultivares; investimentos em pesquisa, desenvolvimento, inovação; capacitação de agricultores e técnicos, certificação e sustentabilidade.
Os projetos liderados por instituição consorciada com seus respectivos planos de ação encontram-se no link: https://www.sapc.embrapa.br/arquivos/consorcio/ProgAnd2014-Site.pdf.