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O aroma do café e a fisiologia da paixão

POR DARCY ROBERTO LIMA

E JORGE MOLL NETO

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 20/05/2009

7 MIN DE LEITURA

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O aroma do café, o mais rico da natureza, nos faz despertar e ficar logo de bom humor. E o Coffee-break é a melhor parte das reuniões, congressos e palestras. O olfato é o mais importante dos nossos sentidos para a escolha da comida, da bebida, do namorado(a), de animais de estimação, perfumes, vinhos, lençóis e edredons. Tudo que é mais cheiroso é mais gostoso. É o olfato que desperta o desejo, o interesse por uma flor ou um perfume e é ele que regula a fisiologia da paixão. Um recém nascido reconhece a mãe pelo cheiro de seu leite, e assim começa o maior e mais complicado amor de nossas vidas. Guardamos na memória o cheiro ruim de algo estragado com mais facilidade que a sua imagem, como, p.ex. um ovo podre.

O cheirinho de café causa efeitos misteriosos no nosso cérebro. Como o cheirinho do amor. Os alimentos funcionais possuem substâncias benéficas para o corpo humano; os antioxidantes de frutas e legumes previnem contra o câncer. Mas será que o aroma pode trazer prazer e saúde? O que a humanidade deve comer e, principalmente, beber para viver mais? Será que devemos nos guiar principalmente e instintivamente pelo cheirinho gostoso da comida e da bebida como fazemos com o prazer e o amor?

Poucos brasileiros sabem que o café é mais complexo que o vinho, mais barato e mais rico em compostos saudáveis e voláteis. O vinho varietal é feito com uma só variedade de uva e o vinho de corte (ou de Assemblage) é elaborado a partir de diferentes uvas. O café também pode ser puro (varietal) ou um blend de diferentes tipos de grãos ou de diferentes regiões. Cada região produz uva ou café com características e pecualiridades únicas. Mas ações da natureza ou do homem podem alterar as características numa mesma região. Assim como existem safras de vinhos maravilhosas, o mesmo ocorre com o café. O "terroir" é uma peculiaridade de vinho e café. Nascido de solo excepcional de argila azulada, o vinho Petrus está em todas as listas dos melhores. A Merlot é uma das uvas de vinhos tintos mais populares do mundo, pois são menos tânicos e amadurecem mais cedo. E o melhor da casta acontece no Pomerol, subregião de Bordeaux, na França. O lendário Petrus é o vinho que todo Merlot gostaria de ser e que todo enófilo gostaria de ter.

A palavra "Terroir" data do Século XIII, sendo uma modificação linguística de formas antigas com origem no latim popular "territorium". Designa uma extensão limitada de terra considerada do ponto de vista de suas aptidões agrícolas. Em relação ao vinho, tem significados como: "solo apto à produção de um vinho", "terroir" produzindo um grand cru", "vinho que possui um gosto de terroir", "um gosto particular que resulta da natureza do solo onde a videira é cultivada". E para reconhecer isto existem diversos profissionais.

O "Sommelier" é um profissional de restaurante encarregado dos vinhos, desde a elaboração da carta, compra e manutenção do vinho na adega, aconselhamento do vinho aos clientes e o respectivo serviço à mesa. O Enófilo, palavra de origem grega que significa "amigo do vinho" (enos = vinho + filos = amigo), inclui todas as pessoas amantes do vinho, estando aí todos os médicos e consumidores. Na atualidade a atenção à planta café e seu "terroir" criou o café orgânico, tradicional, superior e gourmet ou especial, café sustentável, o espresso e, recentemente, o excelente Nespresso da Nestlé. Uma nova profissão surgiu: o barista, que atua como um "Sommelier" do café. Hoje podemos ter o cafeólogo, o barista e o cafeófilo....hummmm, nome estranho. Tudo pelo prazer de tomar um gostoso café.

A ciência dos alimentos possui conhecimentos avançados, mas parciais, sobre a complexidade química do café, que é bastante superior à da uva e dos vinhos. A matriz do café é extremamente complexa e seu processamento (torrefação) dá origem a uma grande variedade de compostos voláteis e não voláteis, todos responsáveis pela qualidade da bebida (bebida, aroma, sabor, corpo), além dos efeitos benéficos para a saúde humana. Um bom conhecedor de café pode obter da bebida o máximo de prazer aliada à saúde.

O café processado contém mais compostos voláteis - já foram identificados quase mil - do que qualquer outro alimento ou bebida. Dentre esses voláteis, no grupo dos heterocíclicos foram identificados alguns que possuem grande impacto para o aroma final do café torrado, como o 2-furil-metanotiol, caveofurano, N-furil-2-metil-pirrol e o metil-pirrol. Este último é formado junto com a niacina (vitamina B3), a partir da degradação da trigonelina. Derivados do metil-pirrol também formam, por exemplo, o núcleo de feromônios de insetos. Além dos heterocíclicos, existem vários outros voláteis, como alifáticos, alicíclicos e aromáticos encontrados em baixas concentrações, o que dificulta seu estudo quantitativo e a avaliação de suas propriedades sensoriais.

Desse grupo de compostos podemos destacar os fenóis, aldeídos, cetonas, álcoois, éteres, hidrocarbonetos, ácidos orgânicos, anidridos, ésteres, lactonas, aminas e os compostos contendo átomos de enxofre, como os sulfetos e dissulfetos. Evidentemente, uma série de compostos voláteis apresenta mais de uma função química, o que dificulta a sua classificação mesmo por um classificador ou barista experiente.

Recentemente, estudos utilizando neuroimagem funcional, especialmente a ressonância magnética funcional (RMf), vêm contribuindo para o estudo da percepção olfativa e gustativa em humanos. Dentre os inúmeros estímulos que podem ser utilizados para evocar percepção olfativa e gustativa, o café se destaca por sua incrível e incomparável riqueza de compostos voláteis. Uma reação emocional prazerosa é denominador comum, tanto entre apreciadores contumazes quanto consumidores ocasionais da bebida. Excetuando-se as sensações gustativas, percebidas na língua (paladar) como doce, salgado, amargo, ácido, assim como textura e temperatura, o aroma do café é o grande responsável por seu sabor.

O café instantâneo possui os componentes necessários à estimulação dos botões gustativos na língua, que, em tese, respondem pelo "gosto" característico. Esta forma de preparo carece de compostos aromáticos temporários, reduzindo a apreciação plena de seu aroma e sabor. Mas a identificação de compostos voláteis importantes de impacto no cérebro permitiria seu isolamento e inclusão como um aditivo no café solúvel, dando-lhe um aroma e sabor mais prazeroso e natural. De forma análoga, o café consumido horas depois de preparado, mesmo que conservado quente, não evoca a mesma sensação de gratificação. Assim, o aroma do café adquire suma importância na determinação do sabor final, onde residem as diferentes qualidades de gratificação que correspondem aos diferentes tipos de grãos, seu "terroir" e métodos de torrefação.

Dados pioneiros de uma pesquisa com correlatos cerebrais da experiência olfativa e gustativa do café por Ressonância Magnética Funcional (RMf) em desenvolvimento no Centro de Neurociências, Rede LABS-D´Or, Rio de Janeiro/RJ financiadas pela EMBRAPA- CAFÉ mostram que voláteis de cafés gourmet de excelente qualidade segundo os melhores especialistas (classificadores de café) estimulam regiões vitais para o prazer no sistema límbico como amígdala, área tegmental ventral e núcleo acumbens, da mesma forma como o amor e o bem-estar de uma amizade o fazem (Figura 1).

Acredita-se que a principal via envolvida no prazer é um circuito de células nervosas - a via dopaminérgica - que se estende de uma região do cérebro conhecida como área tegmental ventral ao núcleo acumbens, regiões profundas do nosso cérebro que regulam a atividade do sistema límbico, responsável pelas nossas emoções mais fundamentais. Esta região envia impulsos emocionais positivos ou negativos para o córtex cerebral.

No sistema límbico existe uma rede de conexões entre células nervosas que liberam peptídeos endógenos, os quais regulam o teor final de dopamina no núcleo acumbens. Esta via parece estar envolvida na motivação e comportamento necessário para a sobrevivência humana, incluindo o próprio ato da reprodução e o apego a entes queridos. Por exemplo, a escolha e o consumo de alimentos pode não ter sido selecionado de forma específica no processo evolutivo, mas através da ativação do sistema límbico dopaminérgico, alimentos (e drogas) podem levar a uma gratificação e condicionamento, fortalecendo mecanismos de memória e aprendizado. Quando algo estimula este sistema, imediatamente é reconhecido e lembrado vividamente, inclusive as circunstâncias que levam ao seu uso ou consumo.

Por isto, o prazer do aroma e gosto de café guardam mistérios que a ciência só agora ousa desvendar, para um melhor conhecimento da própria natureza humana, da planta café e da sua complexa, saudável e prazerosa interação. Podemos prever que no futuro, além do café e seus componentes poderem ser recomendados com receita médica, imagens de RMf poderão ser obtidas para orientar os diversos perfis aromáticos e gustativos de café de acordo com a preferências e os efeitos na atividade cerebral, adequadas para o perfil do consumidor, trazendo assim o máximo de prazer e saúde.

Figura 1. Áreas do sistema mesolímbico (prazer, memórias e emoções) estimuladas pelo aroma de cafe:


Ressonância magnética funcional (RMf) do cérebro normal



Ressonância magnética funcional (RMf) do cérebro com aroma do café

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AKIRA PEDRO SUMI

SÃO PAULO - PROVA/ESPECIALISTA EM QUALIDADE DE CAFÉ

EM 20/05/2010

Prezados Dr.Darcy R.Lima, Dr.Jorge Moll e Dra. Fernanda T. Moll,

Meus parabéns pelo excelente artigo que vem contribuir em muito a desvendar o mistério que é o nosso "cafezinho do dia a dia"
Sou engenheiro químico e classificador e degustador de café em atividade há quase 40 anos no Grupo Café Iguaçu e Automatos máquinas de café e por sinal temos as nossas máquinas e os produtos em quase toda Rede D´or onde agradecemos o apôio e a preferência nos nossos produtos e serviços.

Concordo que o café solúvel quando processado de forma tradicional é prejudicado na perda de alguns componentes aromáticos, para minimizar essa perda, a Iguaçu desenvolveu o processo "Fresh Brew Iguaçu" (FBI) onde os cuidados para minimizar as perdas dos aromáticos são cuidadosamente tratados desde a materia prima até a secagem final.

Os torradores são especiais e a moagem é feita com o mínimo de liberação do calor e a fase da extração é feita a baixa temperatura como do café de coador e a fase mais importante que é a concentração ou seja eliminar parte da água que foi acrescida para extair o café, nesta fase deverá ser retirada parte para facilitar a secagem. Nesse processo nós desenvolvemos a retiragem da água a frio ou seja um crioconcentrador especial para café, onde a separação do solidos do café são por congelamento e separados na forma de gelo e a água retirada não há nenhuma perda de aroma do café.

E a fase ainda mais crítica que é a secagem é feita por liofilização, onde o extrato concentrado é congelado e moido a menos 48°c e liofilizado.

Portanto, esse processo minimiza muito a perda de voláteis aproximando em muito o café regular onde o processo designamos por Fresh Brew Iguaçu já em comercialização desde 1986. Somos a pioneira nesse processo no mundo.

No final do ano estou aposentando definitivamente do Grupo Café Iguaçu onde terei mais disponibilidade para continuar a contribuir para o desenvolvimento da qualidade e mercado de café com o aprendizado contínuo e transferir meus conhecimentos e experiências práticas de agora em diante.

Caso tenha oportunidade em contribuir, estou a inteira disposição e terei o imenso prazer.

Atenciosamente,

Akira Pedro Sumi



AKIRA PEDRO SUMI

SÃO PAULO - PROVA/ESPECIALISTA EM QUALIDADE DE CAFÉ

EM 10/06/2009

Prezado Sr. Darcy Roberto Lima,

Meus parabéns pelo excelente trabalho do fascinante mundo do aroma de café. Trabalho há exatamente 36 anos com café no Grupo Café Iguaçu e aposentei há 3 anos, hoje trabalho em umas das empresas do grupo que fabrica e loca máquinas automáticas de servir bebidas quentes.

Escrevi também um artigo sobre o mistério do café que passo a seguir.

O negócio de café é sempre um mistério, se não vejamos... não sabemos exata razão e o porquê do mundo inteiro tomar café das mais variadas formas, maneiras, razões. A cada 3 pessoas, 2 tomam café no mundo, no norte da Europa, 94% tomam café.

É a segunda commodity mais comercializada após os derivados de petróleo: 1,4bilhões de xícaras de cafés são consumidas no mundo todos os dias. É o maior recurso agrícola, vale US$ 15 bilhões ao ano. É a segunda mais valiosa commodity, perdendo apenas para petóleo, US$ 205 bilhões, à frente do trigo, US$ 13 bilhões, aço, açúcar e chocolate.

É agradável, estimulante ao intelecto, energético, relaxante, revigorante, saudável, quebra gelo, desculpa para uma pausa, coffee brake... Para satisfação de um sonho de estar tomando café numa natureza exuberante, num rio, numa montanha... mas o mais belo e romântico é um casal, após um jantar romântico, pedir como ápice, um cafezinho bem tirado. Essa razão é que mais dará sustentabilidade à humanidade e ao nosso negócio. A razão de tomar café por amor.

Cientificamente, o café ainda não é conhecido. Química, física e bioologicamente. Existem mais de 1.000 somente em componentes químicos voláteis conhecidos no aroma do café. O vinho, menos de 200, perfume Chanel 5 menos que 100 e a flor rosa menos que 50.

Por isso, como químico, como engenheiro, como fabricante, como processador, como vendedor, como empreendedor, etc., o café me fascina.... Me empolga, me envolve, me apaixona a estudar cada vez mais. E o que mais me motiva é a interação com os apreciadores finais de um bom cafezinho.

Depois de 36 anos de Grupo Iguaçu, tive a oportunidade na Automatos em visita diária aos clientes, a interagir com os usuários finais. Estes me orientam sem intermediários, das reais necessidades de tomar um cafezinho, copinho por copinho, e ajustar na hora para a necessidade e satisfação do cliente.

Mas finalmente, como conclusão, após um relato de um pouquinho que conheço do café, sempre mencionei às pessoas e aos clientes que me questinonavam porque eu estou no negócio de café. Quais as razões? Argumentava a eles que estou no negócio, devido às razões acima...

Estas sempre foram um mistério para mim. Quimicamente desconhecido ainda não sabemos exatamente porque se toma tanto café por todo o mundo. Cada usuário tem sua própria razão. E é única. Para mim ainda é um grande mistério a ser desvendado e quando descobrirem perderia um pouco do encanto e da magia. Mas nunca perderá o romantismo de apreciar um bom café com a pessoa amada. O amor e o café são eternos.
DARCY LIMA

RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO - PESQUISA/ENSINO

EM 03/06/2009

Parabéns a todos que integram o agronegócio do café no Brasil e em particular aos membros do CDPC que alocam recursos sempre crescentes para a pesquisa em café e saúde via EMBRAPA CAFÉ, que possibilita a pesquisa da planta até o consumidor, seu prazer e sua saúde de forma pioneira e original no Brasil e no mundo.

O parabéns é extensivo a ABIC, Associação Brasileira da Industria do Café, sua Diretoria, funcionários e sócios, que acreditaram e apoiaram a ideia do café ser bom para a saúde a partir de 1995 permitindo a ampliação de nossas pesquisas iniciadas em 1985 com o saudoso e grandioso Prof. Luis Trugo, já falecido, a quem, de público, faço minha saudosa homenagem. Quem faz a história são os grande homens e as grandes ideias e ideais.

Prof. Darcy Lima, INDC, UFRJ

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