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A Maturação e a Bebida do Café

POR ENSEI NETO

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 11/07/2008

6 MIN DE LEITURA

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A colheita é o momento que encerra o ciclo anual do café, iniciado cerca de 250 dias antes pela florada. Certamente, algumas coisas são ditas anos após anos, sempre antes do início da colheita do café, por diversos especialistas em quase todo o Brasil. E, creio, nunca é demais que essa procissão de fé na qualidade não deixe de acontecer, pois deve sempre ser lembrado que a Qualidade (sim, com "Q" maiúsculo) é o principal elemento na formação de preço de um lote de café.

Um dos conceitos mais importantes e que deve ser respeitado pelo produtor é o de que o café é um fruto e como tal merece um tratamento à altura dos prodígios que ele pode levar à xícara. Como fruto, ele faz parte do chamado grupo que somente amadurece enquanto estiver ligado à planta, ou seja, diferentemente do mamão e da banana, por exemplo, caso retirado antes de sua plena maturação, este processo fica interrompido definitivamente.


Café Mundo Novo

Com base neste primeiro e fundamental dado, muito do que se terá na xícara é resultado da escolha do momento para se proceder a colheita do café. Portanto, a tradicional máxima de "colher sempre com a maior quantidade de maduros" deve prevalecer. No entanto, essa máxima, também, pode ser entendida sob outro foco: colher sempre com a menor quantidade de verdes e imaturos! E por quê?

Ora, como se sabe, grãos verdes e imaturos conferem adstringência à bebida, que é a sensação de "pega" na língua muito parecida com o que uma banana ou um caqui verdes provocam. Essa adstringência, sendo uma sensação desagradável, é considerada, inclusive, como defeito, fazendo parte do famoso trio PVA - Pretos, Verdes e Ardidos da COB - Classificação Oficial Brasileira.

Deve ser lembrado que o chamado Cinturão de Café do Brasil se distribui entre os paralelos 14º Sul e o Trópico de Capricórnio e que boa parte das lavouras se encontra a uma razoável distância do litoral, fazendo com que fiquem sob influência de um padrão climático continental, e que nesta época do ano, após o solstício de inverno, a umidade do ar tende a cair rapidamente, conjugando-se com temperaturas mais baixas.

Este efeito faz com que os cafeeiros interpretem esses sinais como um aviso para se prepararem para um período de nova floração. Portanto, os frutos tornam-se peças indesejáveis e é quando se verifica com maior intensidade um efeito particularmente desastroso para as boas xícaras de café: muitos desses grãos não atingem a plena maturação e como se saltassem um período da vida, passam da fase verde-cana diretamente para o "passa".

Isso explica, em parte, porque esse tipo de grão com uma secagem forçada pela natureza tem aparecido com mais frequência nos últimos anos. Foram diversas floradas observadas ao longo do ano e frutos que não tiveram sua total maturação completada! A qualidade da bebida está diretamente relacionada com o teor de açúcares no grão. Simplesmente isso!

A maior quantidade de açúcares confere o principal atributo num café, que é sua doçura. Tal qual as frutas, as melhores são as mais adocicadas, quando estão perfeitamente maduras. Observe, agora, alguns dos benefícios que um fruto maduro leva à bebida:

Doçura: cafés de bebida adocicada se enquadram como de "Bebida Mole" e "Bebida Estritamente Mole". São diversos os tipos de moléculas de açúcar presentes no grão, desde os de maior complexidade até os mais simples e de maior impacto de sabor, como a sacarose, glicose e frutose. Estes três últimos são responsáveis praticamente por toda a percepção da sensação doce pelo ser humano.

Corpo: é a sensação tátil que uma bebida provoca em nossa boca, como algo que transmita densidade dentro de limites como oleoso ou aguado. Quanto mais adocicado é o café, maior corpo irá apresentar. Em parte isto se explica devido à caramelização dos açúcares que ocorre durante o processo de torra do café.

Finalização agradável: a finalização é o atributo que se verifica após a ingestão da bebida, observando-se tanto sua persistência na boca, quanto a qualidade da sensação restante. É agradável ou áspera, por exemplo, ou deixa uma sensação de secura ou de frescor.

Sabor: é aqui que se observa o grande ganho na bebida! O açúcar, que confere o sabor adocicado à bebida, potencializa os outros sabores básicos, principalmente a acidez. Assim, uma acidez cítrica, a mais presente em cafés brasileiros, ganha característica adocicada se o grão for colhido maduro, melhorando em muito a percepção desse atributo. Imagine a diferença entre chupar um limão e uma tangerina. Ambos possuem ácido cítrico em teores muito próximos, porém a presença do açúcar na tangerina modifica sua impressão, transmitindo que sua acidez é mais agradável.

Pela visão da Ciência dos Alimentos, o sabor doce possui um papel muito importante na melhora de alguns atributos sensoriais, sendo empregado industrialmente até como um corretivo de sabor. Naturalmente, há um limite para o seu emprego na indústria, principalmente quando começa a descaracterizar o produto original.

Outro dado interessante está na composição dos açúcares presentes no grão de café. Majoritariamente, são três os açúcares: a frutose, a glicose e a sacarose. A sacarose é um dissacarídeo, ou seja, é um tipo de açúcar formado por dois outros açúcares mais simples, no caso a glicose e a frutose. Estes são denominados monossacarídeos, os açúcares simples.

O Poder Adoçante de um açúcar, que é sua capacidade de conferir o sabor doce a um alimento, é estipulado dentro de uma escala onde a sacarose, que é o açúcar de cana, considerada como referência, apresenta Poder Adoçante igual a 1,0 (PA = 1,0).

A glicose, que é encontrada, por exemplo, no mel de abelhas, apresenta PA = 0,7. Ou seja, ela possui um poder adoçante 30% menor do que a sacarose. Enquanto a frutose, presente principalmente nas frutas, daí o nome comum de "açúcar das frutas", tem PA = 1,7. Sim, é 70% maior o seu poder adoçante do que a da sacarose.

Em geral, o teor total de açúcar é idêntico nas diversas variedades do Coffea arabica, porém a sensação de doçura das bebidas pode ser muito distinta em razão de como esse "Trio Doçura" está constituído! Algumas variedades têm em sua composição maior presença de frutose do que de sacarose ou mesmo glicose. É o caso em que o sabor final se apresenta mais adocicado, devido ao maior Poder Adoçante da frutose. Variedades amarelas têm a tendência de registrar maior presença da frutose nessa trinca.


Bourbon Amarelo

Pessoas treinadas conseguem perceber a diferença entre os tipos de doçura (sim, as percepções do sabor doce são variadas!), diretamente relacionadas com a estrutura molecular de cada açúcar. Apesar de possuírem o mesmo número de átomos de Carbono, Hidrogênio e Oxigênio, seu arranjo é diferente. Por exemplo, tanto a sacarose quanto a glicose possuem estrutura molecular assemelhada, tendo radicais hidroxilas e um grupo aldeído. Isso explica porque sua finalização apresenta longa persistência e, ao mesmo tempo, um toque ácido. Faça essa experiência com o mel de abelhas e o açúcar refinado, por exemplo.

A frutose, por outro lado, possui um radical cetônico (c=o) na região central da molécula. O resultado: seu sabor apresenta particular característica de frescor, típico das frutas, e, por isso mesmo, sua persistência é menor em relação ao da glicose ou sacarose.

Alguns médicos não recomendam muito o uso da frutose, que pode ser encontrada nas gôndolas de produtos dietéticos dos supermercados, aos diabéticos justamente devido ao seu poder adoçante maior e, principalmente, porque sua doçura de tão agradável chega a ser viciante, além do que leva ao acúmulo de gordura.

Em parte, o sucesso das variedades amarelas advém dessa interessante composição dos açúcares. Obviamente, existem diversos outros componentes que acabam interagindo na elaboração de um perfil de sabores mais complexo. Porém, a mensagem que fica é que o açúcar é o grande elemento do prazer no café. Pense nisso e capriche em sua colheita!

ENSEI NETO

Especialista em Cafés Especiais.
Consultor em Qualidade e Marketing, Planejamento Estratégico e Desenvolvimento de Produtos & Novos Mercados.
Juiz Certificado SCAA e Q Grader Licenciado.

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FERNANDO TANNNURI

ARARAQUARA - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 14/01/2016

Parabens pelo artigo, Tudo que vc comentou nesse artigo erelacionou veio conplementar  e aumentar os meus conhecimento, Parabens.
LUIZ ZAMBON

AFONSO CLAÚDIO - ESPÍRITO SANTO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 07/02/2011

Parabens pelo artigo,muito bom
Produtores precisam de materias assim tamben
ROBSON MARCIANO DUTRA

MUTUM - MINAS GERAIS - MÍDIA ESPECIALIZADA/IMPRENSA

EM 15/12/2010

MUITO RICA DE INFORMAÇÕES O SEU TEXTO. PARABÉNS.
JOAO PEDRO DE ANDRADE GOMES

ALTEROSA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 30/09/2010

Parabens Ensei Uejo pelo artigo.
Sendo de fundamental importância essas informações principalmente nesse periodo onde temos produtor que não está conseguindo aproveitar a alta do café (perdendo dinheiro) por diferença significativa de preços por qualidade conquistada, em consequência de erros simples e falta de planejamento do inicio da colheita até mesmo de sua estrutura geral de beneficiamento.
Isso condizendo que ele tenha feito uma boa programação de adubação, tratamento fitossanitário e um manejo em geral simples porém em momentos certos. okk
JESONIAS

MANHUAÇU - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 29/08/2008

Parabéns pelo artigo.

Um abraço
JONATHAN MARCELINO BARCELLOS

COLATINA - ESPÍRITO SANTO - TRADER

EM 25/08/2008

É sempre entusiasmador ler tais artigos como este, fico inteiramente confiante de que estou no ramo certo para alcançar o sucesso profissional. Sempre irei acessar este site, pois como percebi, só profissionais relatam suas experiências aqui.

Sem mais para o momento, parabenizo-lhes e subscrevo-me.

Fraternalmente,

Jonathan Marcelino Barcellos
AKIRA PEDRO SUMI

SÃO PAULO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE CAFÉ

EM 08/08/2008

Prezado Sr. Ensei Neto,

Tenho sistematicamente lido os seus artigos e acho muito interessante e apropriado para o momento que as pessoas e consumidores começam ter interesses em mais informações e apredizado sobre a qualidade, principalmente de bebidas finas.

Felizmente, agora o ato de tomar café está começando a ser prazeroso como o do vinho.
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 07/08/2008

Prezado Ensei Neto,

Degustar o conhecimento e sua capacidade em transmiti-lo é que é de fato a boa bebida. Parabéns pela forma como nos esclareceu o problemático assunto doçura do café.

Forte abraço.
Celso Vegro
ENSEI NETO

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/07/2008

Prezado Adriano Gilson de Carvalho,

O emprego do cálcio como "sequestrante" de água, como funciona tecnicamente, pois tem grande facilidade química para se combinar com a molécula de água, é eficiente principalmente nos períodos em que a umidade do ar ainda se encontra alta e a temperatura ambiente relativamente baixa, dificultando a retirada rápida da chamada "água livre".

Normalmente, após meados de julho, quando se em nosso hemisfério os dias começam a ganhar tempo com luz, gradativamente essa necessidade diminui.

Grande abraço,
Ensei Neto
JOSÉ ADAUTO DE ALMEIDA

MARUMBI - PARANÁ - PROVA/ESPECIALISTA EM QUALIDADE DE CAFÉ

EM 24/07/2008

Parabéns pela maneira como foi descrito o assunto, ficando de fácil entendimento até para os mais leigos. São informações importantes para técnicos e cafeicultores.

Essa "secagem forçada" também acontece pela nutrição desequilibrada e ataque de pragas e doenças causando desfolhas antes da total maturação dos grãos.

Este assunto tem que ser mais divulgado a nível de cafeicultor, pois qualidade é ele quem faz, sem contudo esquecer a dificuldade (mão de obra) encontrada para realizar a colheita e manejo pós-colheita corretamente.
ADRIANO GILSON ROCHA DE CARVALHO.

PATROCÍNIO - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 22/07/2008

Prezado Ensei,

Primeramente, parabéns pelo artigo, que mostra de forma simples a complexidade da definição da qualidade da bebida. Gostaria que desse sua opinião em relação ao uso de calcário ou cal hidratada nos terreiros, visando acelerar a seca do café.

Abraço.

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