A última vez que Nguyen Van Viet viu água em sua propriedade foi há quase quatro meses. O produtor de café de 44 anos da região central do Vietnã há duas décadas disse que isso nunca aconteceu antes. “Essa é a pior seca que já vi em mais de uma década. Algumas pessoas não têm água suficiente para beber”.
Para Viet e milhões de outros cafeicultores do Vietnã, essa estação está sendo desastrosa. Uma seca prolongada tem afetado as cinco províncias produtoras na região do Planalto Central do Vietnã – uma região que produz 60% do café do país.
“Normalmente, em março ou abril, deveria começar a chover, mas nesse ano não choveu até agora. Ao longo dos anos eu percebi que está ficando mais difícil produzir café principalmente devido à falta de água. As temperaturas estão ficando maiores e a chuva mais escassa”, disse Viet.
O produtor disse que perdeu quase 4.000 metros quadrados de colheita de café em sua fazenda de 2 hectares em Dak Lak, uma província responsável por 30% da colheita total de café no ano passado. Pelo menos 2,8 mil hectares de cafezais morreram desde março, de acordo com o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da província. Na província vizinha, Lam Dong, a seca afetou outros 60,7 mil hectares de café.
O resultado foi o menor volume de exportações de café em cinco anos, 40% menor do que no mesmo período de 2014. Os custos econômicos ainda precisam ser calculados.
O Vietnã é o maior produtor mundial de café robusta. Os franceses introduziram a planta no século XIX e nos anos pós-guerra esse produto ajudou a tirar milhões de vietnamitas da pobreza. A indústria cresceu rapidamente nos anos noventa, tornando o Vietnã o segundo maior exportador de café do mundo, fornecendo cerca de um quarto do café do Reino Unido.
Porém, o sucesso veio com um custo. Desmatamento, monocultura e uso intensivo de pesticidas que ajudaram a criar um boom, agora deixam as fazendas de café mais vulneráveis à mudança climática.
“O cultivo de café no Vietnã agora vem lado a lado com o desmatamento, degradação de terra e depleção de recursos naturais”, disse um relatório de 2012 da Iniciativa para Clima e Café. “A resiliência dos sistemas de produção de monocultura de café à erosão do solo, maior evapotranspiração, períodos de seca ou eventos climáticos extremos é muito baixa”.
Desde 1960, a temperatura média anual no Vietnã aumentou em 0,4oC. O número médio de dias quentes também aumentou. As projeções de mudança climática sugerem um aumento médio na temperatura de 2,3oC até 2100, de acordo com as Nações Unidas. O número de dias quentes no Planalto Central deverá aumentar para 134 em 2050 e 230 em 2100. Apesar de o café robusta ser mais tolerante às maiores temperaturas do que o arábica, o aumento da temperatura pode prejudicar o desenvolvimento das plantas.
“Se a temperatura realmente for além do limiar de floração, temos o aborto da floração e teremos, então, um sério problema”, disse o consultor ambiental da Hanns R Neumann Foundation, Dave D’Haeze.
Porém, o principal problema no Vietnã agora é a água. As chuvas em Dak Lak estão 86% menores comparado com o mesmo período do ano anterior. Em Lam Dong, os reservatórios estão um metro mais baixos do que no ano passado, de acordo com a Agência de Gestão de Recursos Hídricos. A expansão das fazendas de café nos últimos anos adicionou estresse à oferta já limitada de água.
“O maior fator para vulnerabilidade é a dependência da água para irrigação”, disse a consultora que estudou a cadeia de fornecimento de café do Vietnã, Kerstin Linne. “Os produtores estão usando as águas subterrâneas e os níveis já estão declinando. Com as maiores temperaturas, aumentando assim a evapotranspiração e as mudanças nas chuvas, as pressões nos níveis de água aumentarão. Entretanto, até agora, muitos produtores irrigam demais à medida que a água é gratuita e eles não sabem quanta água usam”.
Apesar das projeções de mudança climática para o Vietnã sugerirem mais chuvas na estação de água, pode ter 20% menos chuvas nos meses mais secos, de acordo com as Nações Unidas.
D’Haeze está trabalhando com os produtores de café em um experimento para determinar a quantidade certa de água para usar. As diretrizes do governo sugerem 400 a 500 litros de água por planta, por irrigação, mas D’Haeze acha que pode ser muito menos, cerca de 350 litros.
“No momento, sabemos que estamos usando muita água. Então, se todos usarem a quantidade certa de água no momento certo, talvez possamos ser capazes de ter água suficiente durante a estação seca”.
A reportagem é do https://www.theguardian.com / Tradução por Juliana Santin