O desenvolvimento do fenômeno climático El Niño pode reduzir a produção de café em Uganda, maior exportador da África, e seu vizinho Quênia, trazendo chuvas mais fortes ao Leste Africano, disseram oficiais da indústria.

Meteorologistas dos Estados Unidos previram que o El Niño, um aquecimento do Oceano Pacífico equatorial, pode ser o mais forte desde que os registros começaram a ser feitos em 1950. O sistema pode trazer chuvas torrenciais a partes do leste da África que poderão resultar em inundações severas em partes do Quênia, Uganda, Tanzânia, Ruanda e Burundi, informou a agência Humanitária das Nações Unidas.

Autoridades da indústria de café de Uganda e Quênia disseram que fortes chuvas podem prejudicar a colheita nesse ano. Infestações por fungos podem se tornar mais intensas devido ao excesso de chuva, enquanto os produtores podem lutar para manter a capina e a poda, disse o diretor interino de café do Coffee Directorate do Quênia, Grenville Kiplimo Melli. “Há uma preocupação, porque a floração pode ser destruída”, disse ele. “As chuvas também resultariam em doenças para a colheita”.

Uganda exportou 3,02 milhões de sacas de 60 quilos de café entre outubro de 2014 e julho desse ano, o que colocou o país na sétima posição entre os maiores exportadores de café do mundo. O Quênia exportou 616.000 sacas no período, a quarta maior quantidade do continente. A Starbucks Corp., disse que começaria a vender café arábica da Uganda da região do Monte Elgon com o nome de “Sipi Falls”.

Na Uganda, que produz principalmente café robusta, mas também café arábica, a indústria teme que as chuvas fortes possam interferir na colheita e secagem adequada dos grãos, disse o vice-diretor executivo da União Nacional de Agronegócios de Café e Empresas Rurais, David Muwonge. A principal colheita de Uganda vai de outubro a fevereiro, nas regiões central e leste do país.

“Pode haver um impacto negativo nas áreas de arábica de alta altitude por causa de deslizamentos de terra”, disse o diretor gerente da Autoridade de Desenvolvimento de Café de Uganda (UCDA), Henry Ngabirano. “Sempre que temos muita chuva, impacta na qualidade devido à secagem inadequada”. A estação de colheita dos grãos arábica de Uganda vai de julho a fevereiro, enquanto a de robusta vai de outubro a dezembro.

O Departamento meteorológico do Quênia previu que a maioria das regiões do país receberá chuvas acima da média que poderão causar enchentes e deslizamentos de terra durante a estação de chuvas de outubro a dezembro. As chamadas “chuvas de curta duração” podem continuar caindo bem em janeiro nas regiões produtoras de café ao redor do Monte Quênia, um mês normalmente seco quando os grãos com casca devem ser colocados para secar no sol.

“Os produtores precisam estar cientes da prevalência de doenças devido aos altos índices de umidade que podem causar perdas após a colheita”, disse o diretor do Departamento Meteorológico do Quênia, Peter Ambenje. “O começo das chuvas pode também interferir com a colheita”, disse ele, se referindo à indústria no geral.

A colheita de café em Tanzânia pode aumentar em 49% nesse ano, para 61.000 toneladas, devido ao maior ciclo produtivo, disse o diretor de qualidade do café do Conselho de Café do país, Primus Kimaryo. A produção frequentemente segue um ciclo regular de uma melhor colheita seguida por um aumento, disse ele. “Será uma colheita abundante. As regiões produtoras de café da Tanzânia não serão afetadas. As enchentes deverão afetar as áreas costeiras, que não produzem café”.

A Tanzânia exportou 601.000 sacas de café de outubro a julho, de acordo com a Organização Internacional de Café (OIC).

A reportagem é do Bloomberg / Tradução por Juliana Santin