Desse modo, as exportações totais para os países importadores de café verde surge como o modo ideal para se avaliar a vantagem competitiva de um país ou grupo de café. Nesse artigo, minha preocupação é analisar a competitividade dos países produtores de cafés do tipo robusta. Os robustas pertencem a uma outra espécie de café. Trata-se de um produto mais rústico que os cafés da espécie arábica. Os robustas suportam temperaturas mais elevadas e são mais resistentes a pragas e doenças. Seus principais representantes globais são Costa do Marfim, Burundi e Uganda, na África e Vietna, Indonésia e Índia, na Ásia. Juntos, esses países exportam mais de 90 % do total importado pelos países importadores de café.
Para termos uma ideia do poderio dos cafés robustas, estima-se que, na década de 30, a produção de cafés robustas girava em torno de 3 milhões de sacas e seu crescimento foi espetacular, atingindo mais de 53 milhões de sacas atualmente.
Principalmente nas décadas de 50 e 60, os robustas cresceram em decorrência do aumento do consumo dos cafés solúveis, que ofereciam maior praticidade de preparo. O crescimento da participação do café solúvel no consumo mundial foi, num primeiro momento, uma conseqüência natural do processo de urbanização das populações, que passaram a demandar alimentos preparados e semi-preparados e, nesse cenário, o robusta surgiu como a matéria prima ideal para esse tipo de café (solúvel), visto que apresenta mais sólidos solúveis que o café da espécie arábica, uma característica desejável na fabricação do tipo solúvel.
Portanto, o grande crescimento do consumo de café solúvel trouxe consigo o crescimento da produção e exportação de cafés do tipo robusta. Por outro lado, aos poucos, os torradores internacionais começaram a aumentar o percentual de robustas nos blends (misturas) oferecidos ao público. Isso gerava economia de custos (o robusta possui preços bem inferiores ao arábica) e, por conseqüência, possibilita aumento de margens para os torrefadores internacionais. Desse modo, o blend surgia como o grande trunfo do grande torrefador internacional e isso só foi possível graças ao café robusta, cuja competição se dá exclusivamente via preço, que por sua vez é sustentada em função da vantagem em custos que os robustas sustentam em relação aos arábicas.
Tal situação se agravou a partir da década de 90, em função do desenvolvimento de um tecnologia conhecida como vaporização. Criada inicialmente com o objetivo de fabricar o café descafeinado, a vaporização passou a ser utilizada em grãos robustas, reduzindo sua aspereza, o que proporcionou uma maior flexibilização de seu uso nos blends. O resultado foi um aumento da participação de robustas nos blends de torrefadores do mundo todo, gerando redução de custos e novo aumento de margens.
Uma análise por meio de médias móveis de quatro anos mostra que no período que engloba os anos de 1997 a 2000 a participação dos robustas era de 30,75% do total exportado por todos os países produtores de café. Nos últimos quatro anos, período que compreende os anos 2009 a 2012, essa participação passou para 37,38%. Ou seja, houve um crescimento de cerca de 7 % de participação, o que demonstra a importância relativa desse grupo de café para os torrefadores internacionais.
No período de 1997 a 2000, os robustas eram cerca de 46 centavos de dólar por libra peso mais baratos em relação aos cafés arábicas do Brasil. Essa diferença cresceu para 81,55 centavos de dólar por libra peso (mais barato) em relação aos arábicas brasileiros para o período entre 2009 e 2012. Isso significa que o ganho percentual dos robustas no mercado internacional se deu em função de praticarem preços cada vez menores em relação aos arábicas do Brasil.
Concluindo, os robustas fizeram uso da estratégia conhecida como liderança no custo total. Cresceram sua participação de mercado oferecendo um produto inferior com preços relativos mais atraentes. Isso só foi possível em função do artifício dos blends e de sua maior flexibilização por parte do grande torrefador internacional.
Por tudo isso, conclui-se que o sucesso dos robustas está atrelado a uma “aliança” informal entre produtores de robustas e torrefadores internacionais Nos últimos doze anos, as exportações mundiais cresceram em 12.760.000 sacas de café. As exportações de robustas cresceram 6.644.000, contribuindo com 52,03 % desse crescimento.
Com base em tudo isso, lembro a todos de meu livro A Guerra do Café e da sugestão de uma dentre cinco diretrizes estratégicas que tinha como proposta uma estratégia de combate aos robustas e aos blends.
Pergunto. Há alguma dúvida de que os produtores de cafés arábicas do Brasil precisam combater os robustas?