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Dois debates em um, por Sylvia Saes e Bruno Varella

BRUNO MIRANDA

EM 02/04/2012

3 MIN DE LEITURA

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*Sylvia Saes
*Bruno Varella

O CaféPoint presenciou interessantes discussões nas últimas semanas. Duas delas nos envolveram diretamente. Em primeiro lugar, escrevemos uma coluna comentando o artigo publicado por Juliano Tarabal. O tema, a coordenação, motivou uma análise de Celso Vegro pouco tempo depois, dialogando com os principais pontos apresentandos até então. Nosso último texto abriu mais uma frente para o debate: argumentávamos que, em muitas propriedades, o desconhecimento dos custos dificulta um planejamento adequado da atividade. Em resposta, Celso Vegro apresentou dados de um estudo, cuja principal conclusão é a de que o cafeicultor é um agente racional, ou seja, capaz de estimar essa informação.

Aos que não leram algum dos textos citados no primeiro parágrafo, recomendamos a apreciação. Aqueles que já conhecem os principais pontos do debate talvez tenham percebido que, na realidade, ambos os temas dialogam entre si. É exatamente isso o que desejamos expor a seguir. Antes de iniciar, porém, queremos lembrar que a linha de raciocínio apresentada pelo Celso Vegro, embora distinta daquela que salientamos, é totalmente coerente com as escolhas metodológicas que faz.

Todo cientista social procura pressupostos comportamentais, que o ajudam a analisar a realidade. A racionalidade, nesse sentido, deve ser entendida como um desses pressupostos. O cafeicultor não é diferente do dentista, do caixeiro viajante ou do engenheiro aos olhos do analista; a realidade que condiciona a sua ação é a principal influência nos resultados colhidos na atividade econômica.

Pois bem, as restrições ao acesso à informação prejudicam tanto a avaliação dos custos quanto iniciativas de coordenação. Consideramos que, em muitos casos, os produtores são incapazes de fazer um cálculo preciso desse dado. Nunca é demais lembrar, não estamos afirmando que o cafeicultor é incapaz de fazê-lo; apenas argumentamos que, na ausência de ferramentas adequadas, um grupo de indivíduos não consegue estimar com precisão quanto gasta para colher uma saca.

Não só isso, muitos produtores não têm plena consciência daquilo que está em jogo ao transacionar as suas sacas. Muito se fala em diferenciação, em sua precificação, entre outras coisas. Será que, na atualidade, os instrumentos à disposição dos cafeicultores refletem a crescente diversidade existente do mercado? Ou, dito de outra forma, será que cada agente atuante no mercado recebe exatamente o que lhe cabe após a sua contribuição individual, algo que esperamos que ocorra em um mercado marcado pela previsibilidade crescente? Embora existam diversas novidades, como o aumento do uso contratos, nosso palpite é o de que a resposta é “não”.

O que nos leva a concluir dessa maneira é a crença de que, não raramente, falta informação ao produtor acerca do real valor da saca que produz. Mais especificamente, poucos têm plena consciência de quanto o consumidor pagaria para tomar uma xícara do seu café. Como resultado, abre-se espaço para a captura de valor por parte dos elos mais bem informados da cadeia. Um contrato, por exemplo, pode estabilizar os preços pagos, é verdade; nada garante, entretanto, que ele reflita o real valor da participação em uma relação cooperativa. Nesse caso, embora também tenhamos um agente que direciona outros em nome de um objetivo comum, vemos a apropriação de uma parcela desproporcional dos ganhos decorrentes desse esforço.

É justamente por isso que afirmamos que a coordenação não pode vir a qualquer custo. Coordenar custa caro, e sempre alguém paga a conta. Da mesma forma, essa convergência deve ocorrer, preferencialmente, em um contexto marcado pela dispersão da informação relevante por toda a cadeia. Tão importante quanto a existência desse agente aglutinador é a natureza do relacionamento entre os participantes de um esforço cooperativo. Em outras palavras, não basta coordenar: é necessário o custo da coordenação seja dividido de forma transparente e que os ganhos resultantes correspondam à contribuição particular para o esforço cooperativo.

É evidente que há uma elite empresarial dentro da cafeicultura, que, com méritos, tem modernizado a atividade. Novas técnicas de gestão e de manejo e a interação constante com os outros agentes atuantes no mercado a credencia a liderar esse processo. Não podemos nos esquecer, porém, que seja no Brasil, na África ou na América Central, há um número considerável de cafeicultores parcialmente desconectado desses fluxos de informação. Na ponta da gestão, a ausência de ferramentas adequadas dificulta uma avaliação efetiva dos custos. Na hora da comercialização, o desconhecimento em relação ao mercado faz com que oportunidades de diferenciação sejam perdidas e valor seja capturado por elos mais bem informados da cadeia. Daí a importância do debate de ideias: para garantir que esses produtores consigam abocanhar parcelas crescentes desse enorme bolo representado pelo mercado internacional de café.

*Sylvia Saes - Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

*Bruno Varella Miranda- Mestre em Administração pela USP

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