Nesse cenário da cafeicultura mundial, os preços pagos ao produtor como forma de remunerá-lo pela produção da saca de café estão longe de cobrir os custos para a produção da mesma. Dependendo da região (relevo montanhoso ou plano), tipo de produção (manual ou mecanizada), método de compra de fertilizantes, defensivos e insumos, modelo de comercialização da saca, em geral, existem propriedades onde a renda obtida com a venda da commodity não consegue cobrir o COE (Custo Operacional Efetivo), custo esse que é caracaterizado por todos os custos efetivamente desembolsados em um ano agrícola, acarretando a saída de muitos produtores da atividade.
Diante do exposto no parágrafo anterior, o manejo adequado das plantas daninhas se torna uma atividade importantíssima em termos de planejamento da propriedade para que, além da econômia gerada com as práticas de controle no momento correto, o produtor não abandone sua lavoura possibilitando o desenvolvimento do mato, ocasionando assim quedas na produção do cafeeiro.
O mato é constituído pelas plantas invasoras que crescem no meio das lavouras de café, aproveitando as áreas livres disponíveis nos cafezais, especialmente em lavouras jovens, nas podadas e naquelas conduzidas em renque abertos, sendo que a população dessas plantas daninhas fica reduzida na medida do fechamento ou adensamento das lavouras. As invasoras são plantas herbáceas, denominadas também de plantas daninhas da cultura econômica, que, no caso, é o café.
Essas plantas daninhas representam, por um lado, plantas hospedeiras de insetos pragas, fungos e bactérias; liberam susbtâncias capazes de inibir o crescimento de outras espécies (alelopatia) e são plantas que competem em água, luz e nutrientes com os cafeeiros, no entanto elas trazem benefícios na proteção do solo e na reciclagem de nutrientes. Por essas razões as plantas invasoras devem ser manejadas e controladas, para reduzir os prejuízos que causa, aproveitando, no entanto, as vantagens que o mato oferece ao solo e ao ambiente.
Essas plantas quando não manejadas corretamente podem extrair quantidades expressivas de nutrientes essenciais ao cafeeiro, como o nitrogênio (N), potássio (K2O) e o fósforo (P2O5), podendo ocasionar perdas grandes na produção. Dentre os danos causados, a diminuição da produtividade continua sendo um dos mais importantes. A densidade de plantas daninhas nas culturas
Os métodos tradicionais, que antigamente consistiam em capinas manuais ou roçadas (sem nenhum controle de qual o tempo gasto para fazer um hectare ou nem sequer importava-se com a quantidade de óleo diesel gasto para aquela atividade) hoje ainda existem, mas foram modificados ou sofreram acréscimo de técnicas, como o "manejo da braquiária", o uso da trincha na incorporação da massa verde para a reciclagem dos nutrientes por ela absorvidos, conseguindo devolver aos cafeeiros nutrientes essenciais para o desenvolvimento da planta. Em cafeeiros jovens (lavouras de plantio até 4 anos), existe a alternativa de se fazer a roçada em linhas alternadas, que auxiliará nas propriedades do solo, dentre elas: na diminuição da erosão e consequentemente na menor lavagem da camada superficial do solo, que implicará em uma maior disponibilidade de nutrientes para a planta de café. Todas essas táticas de manejo foram desenvolvidas no sentido de otimizar o processo de gestão na propriedade rural e mostrar ao produtor o real gasto com a atividade.
Na época das águas, a qual nos encontramos, as condições climáticas são ainda mais favoráveis ao desenvolvimento das plantas invasoras. Sendo esse também o momento em que os produtores realizam adubações para que a planta de café consiga absorver os nutrientes presentes na solução do solo e usufruir dos mesmos para desenvolvimento da parte vegetativa e dos frutos, o controle com capinas químicas (herbicidas) e mecânicas (roçadouras e trinchas) se tornam práticas essenciais para o bom desenvolvimento da lavoura cafeeira.
As práticas envolvidas antes, durante e após o uso dos herbicidas ou qualquer produto fitossanitário oferecem uma conscientização do papel social, econômico e ambiental, que será lembrado pelo aplicador para o resto de sua vida. A limpeza do implemento utilizado na operação, seja ele bomba costal, atomizador ou pulverizador tracionado, faz-se colocando água e funcionando o equipamento para que os resíduos do produto aplicado não permacenam ali podendo atrapalhar ou até matar outras plantas de interesse econômico quando esse implemento for utilizado novamente.
Todo o planejamento começando pela identificação das plantas daninhas na área, escolha do método de controle (químico, físico ou biológico), descrição da Receita Agronômica (inclui produto fitossanitário que deverá ser comprado, quantidade de aplicações, quantidade de calda por hectare, além de informações como o uso de EPI na aplicação e a assinatura do profissional da área que fez a receita), compra do produto, método de aplicação, processo de devolução das embalagens utilizadas (consiste na lavagem e descarte adequados dos recipientes que foram utilizados no tratamento da lavoura), somando todos esses aspectos ambientalmente corretos com o retorno financeiro e comprometimento social da propriedade cafeeira chega-se a tão desejada agricultura sustentável.
AUTOR:
João Miarelli Neto