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Café: cotações futuras para o arábica próximas de R$ 350,00/sc?

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 15/02/2008

8 MIN DE LEITURA

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Em janeiro de 2008, as cotações internacionais do café nos diferentes mercados em que o produto é transacionado demonstram acentuação do movimento ascendente, com substanciais elevações em todas as praças. Em Nova Iorque o ganho foi de 2,38% com cotação média alcançando US$ 181,31/sc (arábica contrato C, segunda posição). Tal incremento transmitiu-se para os demais mercados com ganhos de 1,56% na BM&F (futuro, segunda posição cotado na média do mês a US$ 168,78/sc) e de 8,60% na Bolsa de Londres (robusta, contrato futuro em segunda posição cotado na média do mês a US$ 120,78/sc) (Figura 1). Com aumento de 26,47% nos últimos 12 meses, o robusta cotado em Londres é disparado o produto que exibe os maiores ganhos no mercado de café. Em Nova Iorque (café arábica) o ganho acumulado nos últimos 12 meses foi 12,44%, ou seja, menos que a metade do observado para o robusta. Combinados as duas cotações (arábica e robusta), fizeram o indicador composto da Organização Internacional do Café registrar ganho de 3,53% em janeiro, com índice registrando US$ 161,81/sc.

Figura 1 - Cotações médias mensais do café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto diário, janeiro de 2004 a janeiro de 2007


Fonte: Elaborada a partir de dados da Gazeta Mercantil2.

Clique na imagem para ampliá-la.

Fatores como a acentuada diminuição nas disponibilidades (diversas posições de estoques) e incremento do consumo usualmente esperado quando se instala o inverno no Hemisfério Norte, foram os principais fatores que impulsionaram as cotações em janeiro de 2008. Ademais, compete registrar que na série em tela, os picos de preços foram sempre registrados no primeiro trimestre de cada ano, revelando ser esse um momento de acentuação da procura/especulação com o produto.

Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), os acréscimos nas cotações acompanharam, embora com menos vigor frente ao registrado em Nova Iorque, com crescimento de 1,56% em janeiro. Em função desse menor ganho, o diferencial entre BM&F e NY que contabilizava em dez/07, US$ 10,90/sc, saltou para US$ 12,54/sc em jan/08, sendo esse valor o maior apurado nos últimos sete meses. As variações nas cotações do café arábica na BM&F caminham pari passo com as oscilações das cotações do dólar e em razão dessa imbricação, pode haver, em momentos particulares, um descolamento entre as bolsas paulista e nova-iorquina.

Em São Paulo, os preços recebidos pelos cafeicultores em janeiro de 2008, apurado pelo Instituto de Economia Agrícola, mantiveram-se praticamente iguais aos do fechamento de dezembro com valor de R$ 253,59/sc (bebida dura tipo 6). Os ganhos registrados nos últimos 12 meses contabilizam apenas 10,21%. O preço de janeiro de 2008 é inferior ao observado no mesmo mês dos anos anteriores que, nominalmente, estiveram acima dos R$ 270,00/sc. Novamente, a valorização do real arrefeceu os ganhos observados em dólar para o produto criando essa situação de preços menores sob vigência de quadro em que os estoques escasseiam e o consumo se incrementa (Figura 2).

Figura 2 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, janeiro de 2004 a janeiro de 2008


Fonte: Elaborado a partir de dados do Instituto de Economia Agrícola.

Clique na imagem para ampliá-la.

2 - Preços de mercadorias medidos com base em mercadorias3

Na agropecuária global, o período que se segue ao pós-II Guerra, caracteriza-se pela aceleração do processo de introdução de inovações com conseqüentes desdobramentos estruturais tanto sobre a base física em que são desenvolvidas as lavouras e criações (mudanças no tamanho das explorações) como na observação de ganhos substanciais de produtividade. Entretanto, é possível afirmar que tais mudanças também induziram alterações nos preços relativos das mercadorias agrícolas?

Considerando a longa série de preços mensais recebidos pelos produtores paulistas de milho e café arábica (de 1954 a 2007), pode-se construir uma paridade de preços entre ambos produtos. Em que pese as grandes oscilações de curto prazo verificadas nessa relação (mais de 60 sacas na segunda metade dos anos 70´s), o ajuste linear aponta tendência de aumento na necessidade de sacas de milho para aquisição de uma saca de café, pois, de 10 sacas de milho por uma de café passou-se, na atualidade, a ser necessário 12 sacas do cereal para aquisição de igual volume da rubiácea (Figura 3). Trata-se, de um ajuste apenas marginal e bastante aderente às conclusões de outro estudo que também observou poucas alterações significativas nas paridades algodão/milho e algodão/soja4. Nesses casos muito mais inter-relacionadas, em função do ciclo anual dessas culturas e a competição pelo território a ser explorado. Portanto, as paridades entre as mercadorias, classificadas como commodities, tendem a flutuar em torno de médias similares nos médio e longo prazos.

A pequena vantagem relativa do café sobre o milho pode ser explicada pelo processo de descomoditização exibido pelo produto. Enquanto que para o milho prevalece o caráter uniformidade e volume na realização de transações (commodity clássica), no café arábica, aspectos como qualidade da bebida, origem, variedade, cor, peneira, entre outros são fatores que modificam as cotações sinalizadas para preços diferenciados nos negócios celebrados. A vantagem do café poderia ser ainda maior, caso não fossem os exponenciais ganhos de produtividade e de escala observados na cultura do milho, decorrentes da possibilidade de mecanização integral da lavoura (produtividade do trabalho) e a exploração de áreas com dimensões monumentais (ganhos de escala). No café, tais ganhos foram mais modestos, com uma única exceção que são as lavouras conduzidas nos cerrados brasileiros em que adensamento, mecanização (manejo e colheita) e irrigação já constituem o pacote tecnológico predominante dessa década.

Todavia, dessa constatação histórica é possível retirar indicações para o porvir? Ao observar-se os três últimos anos da série, vê-se que o milho passou progressivamente a exibir vantagem sobre o café, com substancial redução do volume para aquisição de uma saca de café. Esse fenômeno é essencialmente reflexo do aumento da demanda pelo cereal, após a decisão dos policy makers estadunidenses em estimular o agronegócio enquanto alternativa ao petróleo para suprimento da demanda de combustíveis, elegendo-se o milho como o insumo para a produção de etanol. Tal orientação modificou estruturalmente a dinâmica desse mercado, sendo que as atuais cotações alcançadas para o milho, muito provavelmente, deverão se sustentar nos atuais patamares ao longo dos próximos anos.

Diante dessa recente vantagem do milho sobre o café, o que se pode inferir sobre os preços desse último produto? Caso esteja correta a hipótese de convergência para o equilíbrio nas paridades entre as mercadorias5, o café poderá aguardar cotações acima dos R$ 300,00/sc no curto prazo e acima dos R$ 350,00/sc nos médio e longo prazos. Essa previsão está bastante harmônica com aquilo que os cafeicultores vêem continuamente afirmando, qual seja, a baixa rentabilidade alcançada com o produto comparativamente as outras opções de uso da terra. Os indícios de estagnação na evolução da área cultivada com café no Brasil ratifica o argumento dos produtores, pois a decisão de investimento na ampliação das lavoura está condicionada as taxas de retorno compatíveis com as remunerações alternativas disponíveis no mercado financeiro.

Figura 3 - Paridade preços recebidos pelos produtores de milho e café, Estado de São Paulo, médias mensais 1954-2008


Fonte: Elaborada a partir de dados básicos do Instituto de Economia Agrícola.

Clique na imagem para ampliá-la.

Desgraçadamente, esse cenário para cotações em alta possui um conteúdo eminentemente inflacionário. A contaminação generalizada dos preços e salários, pelas expectativas de alta das mercadorias, será o custo a ser pago por essa previsão. A economia contemporânea será capaz de absorver patamares mais elevados de inflação sem a ignição de processos inflacionários inerciais? Para tais dúvidas somente o porvir poderá esclarecer.

3 - Mitigação no grau de volatilidade das cotações de café arábica

As cotações do café arábica no mercado de Nova Iorque (Contrato C - primeira posição), exibem progressiva diminuição na amplitude de variação. Por exemplo, no período 1990-2007, as cotações tiveram média de variação de 75,79% entre a máxima e a mínima. Todavia, na atual década, tal oscilação já mostra importante redução, para 56,41%, que se aprofunda no sub-período 2005-2007 em que o indicador atingiu os 44,47%, fechando o ano de 2007 com apenas 33,49% de amplitude de oscilação entre máximas e mínimas cotações registradas (Tabela 1).

Tabela 1 - Amplitude de variação das cotações de café arábica, primeira posição, Bolsa de Nova Iorque, 1990-2007


* dados até novembro.
Fonte: CAMARGO, A. (2007)6.

A transformação desse arrefecimento das oscilações nas cotações para valores percentuais mostra como o mercado esta cada vez menos exposto a abruptas mudanças nos preços. A queda entre a média de variação do período 1990-2007 para os sub-períodos 2000-2007 e 2005-2007 foi de 34,35% e de 70,42%, respectivamente. Comparando-se o período global com o índice registrado em 2007, tal redução foi de 126,30%. Diante de tal constatação, pergunta-se: quais seriam possivelmente os fatores explicativos desse fenômeno?

Talvez, o fator que melhor explique a tendência cadente da volatilidade das cotações do café seja a vulgarização, entre os entes participantes do mercado, dos contratos lastreados por títulos financeiros. Os contratos: cédula do produtor rural (CPR), futuro e opções, os mais usuais nas transações envolvendo café, são cada vez mais fundamentais na elaboração de estratégias comerciais. No caso dos cafeicultores empresariais, tornou-se quase que obrigatório o uso desses mecanismos financeiros tanto como ferramenta de preservação da rentabilidade na atividade mas também e, sobretudo, como instrumento de transferência de riscos intrínsecos a atividade rural. O aumento da participação relativa desses contratos de venda antecipada no montante global transacionado nos mercados é a principal explicação para o fenômeno em tela.

A complexidade dos mercados não se resume aos contratos. Fatores adicionais contribuem para essa mudança no comportamento das cotações de café arábica. A facilitação do acesso a dados e análises sobre o mercado de café, propiciada pelas tecnologias da informação, seja talvez o item de segunda maior grandeza na explicação desse fenômeno. Finalmente, pode-se mencionar os significativos ganhos em eficiência logística e de produtividade, principalmente no modal portuário.

Uma menor amplitude de variação para as cotações confere um maior horizonte para o êxito do negócio, uma vez que, mesmo não sendo capaz de comercializar sua produção no ápice daquilo que o mercado eventualmente registrará no ano, os demais momentos para se efetuar essa transação estarão bastante próximos daquela melhor ocasião desperdiçada. Traduzindo, preços estáveis são condição primordial para a inversão econômica.


O autor agradece a colaboração do Técnico de Apoio a Pesquisa Agropecuária Gilberto Benatti.
2Dados coletados do jornal Gazeta Mercantil.
3Este tópico é integralmente caudatário do artigo de GONÇALVES, J. S & RAMOS, S. Preços de mercadorias medidos com base em mercadorias: algodão, soja e milho, Análises e indicadores do Agronegócio, jan.2006. Disponível em www.iea.sp.gov.br
4Idem.
5Hipótese que na verdade se transformou em teoria econômica após a divulgação dos ensaios sobre o valor das mercadorias de Karl Marx.
6Disponível em: www.peabirus.com.br - comunidade manejo da lavoura cafeeira.

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 25/02/2008

<b>Prezado Cyro,</b>

Grato pela sua atenta leitura. Quanto as suas sugestões tenho a comentar.

1 - De fato, a construção de paridade entre cotações não é uma forma de medição muito confiável. Todavia, em sendo os preços sempre relativos, a paridade é uma medição que existe e tem seu valor enquanto informação e "previsão".

2 - Modelos econométricos sem dúvida são mais refinados para esse tipo de análise. O diacho é que mais de 150 países produzem café e obter os dados sobre safras, cotações locais para os fatores de produção desse conjunto de nações e com isso fazer rodar o modelo. Assim, para análises expeditas evitamos tais modelos, muito embora os economistas da OIC o façam e estão disponíveis em seus relatórios;

3 - Finalmente, a questão da previsibilidade das transações, creio exista uma pequena incompreensão. Veja, parto do pressuposto que os contratos garantem melhores condições de comercialização. Minha constatação foi a de que a disseminação desses contratos tem contribuído para que ocorra uma menor flutuação nos preços cumprindo a finalidade para o qual foram desenhados. Essa é a explicação que tentei construir com os dados que relacionei. Mais uma vez grato pelas contribuições.

AT.
Celso Vegro
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 25/02/2008

Prezado Cyro
Grato pela sua atenta leitura. Quanto as suas sugestões tenho a comentar.
1 - De fato, a construçõ de paridade entre cotações não é uma forma de medição muito confiável. Todavia, em sendo os preços sempre relativos, a paridade é uma medição que existe e tem seu valor enquanto informação e "previsão".
2 - Modelos econométricos sem dúvida são mais refinados para esse tipo de análises. O diacho é que mais de 150 países produzem café e obter os dados sobre safras, cotações locais para os fatores de produção desse conjuto de nações e com isso fazer rodar o modelo. Assim, para análises expeditas evitamos tais modelos, muito embora os economistas da OIC o façam e estão disponiveis em seus relatórios;
3 - Finalmente, a questão da previsibilidade das transações, creio exista uma pequena incompreensão. Veja parto do pressuposto que os contratos garantem melhores condições de comercialização. Minha constação foi a de que a disseminação desses contratos tem contribuido para que ocorra uma menor flutação nos preços cumprindo a finalidade para o qual foram desenhados. Essa é a explicação que tentei construir com os dados que relacionei.
Mais uma vez grato pelas contribuições.
AT.
Celso Vegro
CYRO TAKIUTE

MARÍLIA - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 17/02/2008

Sou economista formado pela USP e achei bastante interessante este artigo por se referir à introdução de mecanismos quantitativos para a análise do mercado cafeeiro.

Contudo, sou da opinião que se deveria dar maior importância à variável aleatória expectativa. São as expectativas (de consumo e de lucro) que realmente influenciam o mercado do café. Neste contexto, os fundos de pensão norte- americanos exercem uma influência considerável sobre a magnitude da variação da cotação da saca do café.

Há modelos econométricos sofisticados que podem explicar a correlação entre o preço do café e outras variáveis mais importantes para o cafeicultor como o salário mínimo (preço da mão de obra) e a tonelada do nitrato. A correlação entre o preço do milho e o do café parece-me equivocada porque ambos apesar de serem commodities têm cadeias produtivas diferentes.

Com relação ao fato de que a introdução dos contratos de café (CPR e opções) darem maior estabilidade econômica às cotações do produto também padece de maiores esclarecimentos porque o objetivo destes contratos é garantir um preço futuro mínimo que remunere os fatores de produção utilizados pelo cafeicultor. Os mesmos não têm como objetivo reduzir a variabilidade dos preços do produto.

São estas as minhas considerações.

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