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A salvação para o mundo?

POR SYLVIA SAES

E BRUNO VARELLA MIRANDA

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 29/04/2009

4 MIN DE LEITURA

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Já há algum tempo, a proliferação dos selos na cafeicultura constitui um assunto quente. Pelos mais variados motivos, é grande o número dos interessados em discutir a consolidação das muitas certificações existentes na atualidade e seus efeitos para o setor. Nesse sentido, a iniciativa do professor da FEA/USP Ricardo Abramovay de organizar um encontro dedicado a discutir os eventuais efeitos da crise para esses sistemas representou mais uma mostra desses esforços.

Entre os convidados para o referido debate, Michael Conroy apresentou a sua visão para o papel das certificações no mundo contemporâneo. De acordo com o pesquisador norte-americano, nem mesmo a crise mundial vem sendo capaz de frear o processo de expansão do uso dos selos por parte da iniciativa privada. Afinal, Conroy acredita que o próprio acirramento da competição levaria a uma disseminação das certificações, uma vez que nenhuma empresa desejaria ficar de fora dessa nova onda.

Baseado em exemplos trazidos do Reino Unido, onde a compra de produtos certificados por parte de grandes empresas é crescente, Conroy traçou, ao longo de sua exposição, um quadro otimista acerca do papel desses selos na garantia de que as demandas dos consumidores sejam respeitadas ao longo do processo produtivo. Esteja a situação econômica positiva ou negativa, imagina-se que os consumidores possuem crenças e expectativas, refletidas em seu ato de compra; some-se a isso o medo de perder mercado. Como resultado, talvez a crise até ajude a expandir os padrões, dado que nesses momentos a empresas temem ainda mais perder clientes.

De fato, o cenário mostrado acima parece o melhor. Com padrões disseminados e cumpridos, consumidores certamente sairão dos supermercados mais felizes, o que obviamente poderia se refletir em maior generosidade no momento de abrir a carteira. Porém, o tema da certificação ainda é obscuro do ponto de vista acadêmico, de modo que, mais que a validação de qualquer cenário, o momento pede é o levantamento de perguntas. Imbuídos desse espírito, pretendemos nos próximos parágrafos "confundir" um pouco, ainda que com boas intenções. Nesse sentido, levantaremos alguns pontos controversos, mas que certamente deveriam ser melhor entendidos para que um quadro fiel à realidade possa emergir para o tema.

Em primeiro lugar, gostaríamos de refletir um pouco acerca daqueles que motivam a criação de um selo. Certificações surgem a partir da demanda de uma parcela da população; no entanto, o grau de homegeneidade desses indivíduos pode variar bastante, de modo que nem sempre aquilo que é considerado um desejo desse grupo pode reivindicar para si tal denominação. Em alguns casos, a concordância pode se resumir a um princípio geral, como por exemplo a necessidade de oferecimento de uma remuneração justa aos produtores, sem que para isso seja necessário qualquer consenso acerca dos meios mais adequados para a consecução de tal objetivo.

Nesse sentido, é importante o constante questionamento acerca do real poder desses selos captarem da melhor forma possível as demandas dos consumidores, e principalmente, fazer valer esses desejos. Ora, os agentes participantes da complexa cadeia do café tem seus interesses próprios, que muitas vezes colidem com aquele estabelecido pelo selo. Assim, de que maneira responderiam os agentes à fixação de um selo? Haveria espaço para estratégias que, com o tempo, influenciariam o próprio padrão, eventualmente descaracterizando-o?

Outra questão interessante diz respeito à conta resultante de tamanho esforço de coordenação. A criação e manutenção dos selos, se por um lado reduz os custos de mensuração de atributos desejados pelos consumidores e torna a negociação de contratos entre os agentes mais fácil, por outro acarreta outros gastos, necessários para manter tal estrutura de pé. Nesse sentido, vale questionar quem está pagando por isso no final das contas, além é claro de quem está ficando com a maior fatia do bolo. Seriam os custos da coordenação, de alguma forma, repassados aos elos da cadeia com menor informação acerca do potencial por trás dessas novas formas de diferenciação?

Os dados mostram que nos últimos anos a concentração da renda nos elos da cadeia mais próximos do consumidor só aumentou, de modo que provavelmente ainda haja muito a ser estudado acerca do real impacto da instituição das certificações para a situação econômica dos produtores. Inclusive, cabe sempre a pergunta acerca do grau de conhecimento dos cafeicultores do grau de importância da adesão a determinado selo para a entrada em um nicho de mercado específico. Em muitos casos, pagar pelo uso de uma certificação não é suficiente; nesse sentido, descobrir o que explica o que separa o sucesso do fracasso é vital.

Obviamente, essa lista de indagações poderia ser muito maior. Porém, dada a importância do debate, nos limitamos a esses dois blocos de questões, esperando contribuições dos leitores para um eventual seguimento do debate. Ainda que interpretações otimistas da realidade sejam tudo aquilo que desejamos ver materializadas em nossas rotinas, há muito a ser pesquisado no tema da certificação para a consolidação do tema na academia. Por isso, nada melhor do que iniciar essa busca por perguntas que, em muitos casos, não recebem a atenção que consideramos necessária.

SYLVIA SAES

Professora do Departamento de Administração da USP e coordenadora do Center for Organization Studies (CORS)

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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FRANCISCO SÉRGIO LANGE

DIVINOLÂNDIA - SÃO PAULO

EM 04/05/2009

Cláudio,

Acredito que voce esta correto.
CLÁUDIO JOSÉ DA FONSECA BORGES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 29/04/2009

Certificar uma fazenda de café no Brasil é a mesma coisa que certificar uma fazenda produtora da commoditie café...

Uma saca de bica corrida de altíssima qualidade consegue atingir um preço em torno de R$ 15,00 acima de uma saca de bica corrida e boa qualidade, que por sua vez tem um preço R$ 10,00 acima de uma bica corrida de baixa qualidade.

Isso não dá nem 10% de aumento no preço que se encontra abaixo dos custos de produção.

Enquanto isso, na Colômbia, uma saca de bica corrida de boa qualidade vale quase 100% a mais que a nossa bica de excelente qualidade...

O Caminho então não é produzir uma bica corrida certificada, mas priorizar o marketing da qualidade do nosso café.

A questão é institucional, do Brasil todo, e não do coitado do produtor que está no prejuízo e não tem como investir enquanto o preço estiver nestes patamares. Isso é a mesma coisa que dizer para um mendigo que ele tem que se certificar para ganhar mais esmolas.

Melhorar o visual, ter um procedimento para cada etapa, ou seja, um procedimento para abordagem, outro para checagem do valor recebido, outro para contabilização, outra para criação e controle dos recibos das esmolas (que tem que ter o logotipo do mendigo, que pode ser uma mão aberta estendida p.ex) , sem contar ao procedimento de análise dos dados no final do processo.

As despesas do mendigo farão a festa do organismo certificador (sem contar os consultores e suas auditorias internas) e o mendigo passará a ser um mendigo certificado, o que não lhe garantirá obter uma melhoria nos valores da esmola recebida.

Acho que o problema da cafeicultura nacional é estrutural. E, na prática, as coisas são diferentes.

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