ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Doha - ambição e essência

POR MARCOS SAWAYA JANK

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 20/07/2006

4 MIN DE LEITURA

0
0
A Rodada de Doha encontra-se à beira de uma grave crise. A sua origem está na incapacidade de os negociadores porem o interesse geral acima das pressões de grupos que gritam muito e representam poucos. Neste momento há quatro hipóteses para o fechamento da rodada: a) O fracasso das negociações, que geraria um impasse no sistema multilateral; b) o adiamento da rodada por dois a três anos, após as eleições nos EUA e na França; c) um acordo tímido, muito aquém do Mandato de Doha; d) um acordo amplo e ambicioso.

Se fizéssemos hoje uma enquete com negociadores e especialistas, a hipótese d) provavelmente receberia menos de 5% dos votos.

Enquanto defensor convicto do sistema multilateral de comércio, apresento neste artigo sete pontos que poderiam gerar um acordo mais ambicioso e evitar certas armadilhas.

Em acesso aos mercados agrícolas dos países ricos, a bola está nas mãos da União Européia (UE). As sucessivas reformas da Política Agrícola Comum tornaram os subsídios europeus menos danosos ao comércio. A UE precisa, porém, apresentar uma proposta que garanta um acesso mais efetivo para os produtos agrícolas que ela vai classificar como "sensíveis". O que os países estão pedindo é acesso real para volumes de importação que, na maioria dos casos, não ultrapassam 10% do consumo interno da UE. Não é nenhum absurdo!

No caso dos EUA, o problema são os subsídios domésticos a seus agricultores, já que a Lei Agrícola de 2002 dobrou o montante de subsídios distorcivos. Grãos, oleaginosas e algodão são os grandes beneficiários. Dois terços dos agricultores americanos simplesmente não recebem subsídios. A expectativa geral é que os EUA limitem o uso destes subsídios a um teto máximo de US$ 12 bilhões anuais, aceitando disciplinas adicionais que evitem reformas oportunistas de determinados instrumentos de política que continuam distorcendo os mercados e a migração de subsídios de um produto para outro.

As grandes economias emergentes, como China, Índia, Coréia, Indonésia e Filipinas, deveriam parar de jogar só na "defensiva agrícola". É verdade que esses países contam com dezenas de milhões de pequenos agricultores que precisam do apoio dos seus governos. Só que estas nações estão se urbanizando e industrializando rapidamente, e uma OMC fortalecida lhes será útil para garantir maior estabilidade das regras do jogo do comércio no longo prazo. Além disso, as políticas de que seus agricultores mais precisam - pesquisa, extensão, educação, infra-estrutura, etc. - são totalmente permitidas. A maioria dos instrumentos de proteção que estes países estão pleiteando é redundante e desnecessária.

Países como Brasil, Argentina e Índia terão de fazer esforços adicionais em acesso a seus mercados de bens industriais. As exceções previstas e o longo período de implementação podem atenuar os impactos negativos. No caso do Brasil, a fixação de uma tarifa máxima em torno de 20% a 25% serviria para reduzir profundas discrepâncias em termos de uma altíssima proteção efetiva, que atinge 60% no caso dos automóveis.

A OMC precisa aportar soluções para os chamados temas sistêmicos, que não serão jamais resolvidos via acordos regionais e bilaterais, como, por exemplo, o disciplinamento do uso de subsídios agrícolas, antidumping e salvaguardas. Outra conquista que precisa ser preservada e melhorada é o mecanismo de solução de controvérsias da organização.

A OMC foi construída em cima do princípio da Nação Mais Favorecida, que estipula que as vantagens concedidas bilateralmente por um país precisam ser estendidas a todos os demais membros. Portanto, o objetivo é fixar cortes e regras horizontais para todos os países, e não mecanismos que geram privilégios para uns em detrimento de outros membros. Por exemplo, o Acordo Agrícola da Rodada Uruguai estabeleceu várias exceções e instrumentos temporários, como as salvaguardas especiais (que aumentam as tarifas quando os preços caem ou os volumes importados crescem) e a caixa azul (subsídios distorcivos atrelados a mecanismos de controle de oferta). Só que, em vez de eliminar estes escapes, muitos negociadores estão hoje empenhados em ampliá-los.

Novas cotas tarifárias, novos tipos de salvaguardas especiais, exceções para produtos sensíveis e especiais são exemplos de instrumentos que estão sendo gestados em Genebra neste momento. Em vez de simplificar, está se complicando mais e mais. O tema das preferências comerciais é outro exemplo. A OMC foi criada para erodir preferências comerciais, e não para oficializá-las de forma discriminatória. No passado, países como Argentina e Brasil pagaram caro por não gozarem das preferências que o Reino Unido garantia aos membros do Commonwealth. Hoje, a América Central e a Comunidade Andina são vítimas das preferências que a UE quer oficializar para as suas ex-colônias da África, do Caribe e do Pacífico.

Minha última observação tem a ver com a famosa frase "um mau acordo é melhor que nenhum acordo". Se "mau acordo" for definido como aquele incapaz de criar mais comércio e investimentos, ou um acordo que amplia as exceções, ou, pior, que traz retrocessos em relação à Rodada Uruguai (por exemplo, o mecanismos de salvaguardas especiais que foi proposto pelo G-33, o grupo de países em desenvolvimento mais protecionistas), sou totalmente favorável ao "nenhum acordo". Não tem cabimento sairmos da rodada pior do que entramos!

O Brasil é um dos seis países que estão comandando o processo negociador neste período crítico. Os negociadores passarão para a História se conseguirem assinar o acordo ambicioso que foi previsto no Mandato de Doha. Ou cairão no esquecimento, se sua única competência for a construção de proteções desnecessárias e a preservação de incompetências anacrônicas.

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe CaféPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do CaféPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

CaféPoint Logo MilkPoint Ventures