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Sistema de Inteligência da Concorrência: Índia

GIRO DE NOTÍCIAS

EM 16/04/2009

21 MIN DE LEITURA

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1. Contextualização

A República da Índia é um país localizado no sul da Ásia que ocupa a maior parte do subcontinente indiano. É o sétimo maior país do mundo em área geográfica, o segundo mais populoso e a democracia mais populosa do planeta. Em julho de 2009, sua população será de 1,166 bilhão de pessoas de acordo com o "World Fact Book". A Índia possui 7.517 km de costa e é banhada ao sul pelo Oceano Índico, a oeste pelo mar Arábico e a leste pela baía de Bengala. O país limita ao norte com a China, Nepal e Butão; a leste com Blangladesh e Mianmar; e a oeste com o Paquistão. O país faz divisa pelo Oceano Índico com o Sri Lanka, as ilhas Maldivas e a Indonésia.

FIGURA 1 - Mapa político da Índia


Fonte: CIC, 2009.

A Índia tornou-se uma nação independente em 1947, após um movimento pela independência liderado por Mahatma Gandhi e Jawaharlal Nehru que levou milhares de pessoas a realizar manifestações de desobediência civil não-violentas. Em 26 de janeiro de 1950, a Índia passou a ser uma república e uma nova constituição foi promulgada. O subcontinente foi então dividido em 2 países: a Índia e um estado menor de maioria islâmica, o Paquistão. Em 1971, como resultado da terceira dentre as quatro guerras entre estes dois países (1947, 1965, 1971 e 1999), o estado do Paquistão Oriental se tornou um país independente, Bangladesh. Desde sua independência, a Índia enfrenta problemas com conflitos religiosos, terrorismo e movimentos separatistas.

Grandes mudanças no âmbito econômico e social ocorreram a partir de 1991, quando o país iniciou reformas econômicas que o transformaram numa das economias mais dinâmicas do mundo. Porém, apesar destes grandes avanços, o país ainda enfrenta graves problemas como a superpopulação, degradação ambiental, pobreza extrema e conflitos étnicos e religiosos.

Geograficamente, os estados indianos do norte e do nordeste estão parcialmente localizados nos Himalaias, a cadeia de montanhas mais alta do mundo e que se situa entre a planície indo-gangética, ao sul, e o planalto tibetano, ao norte. A planície indo-gangética se estende pelo norte, noroeste e leste. O planalto do Decão é uma vasta área que forma a maior parte do centro e do sul do país e situa-se ao sul da planície indo-gangética, limitado a oeste pela cordilheira dos Gates Ocidentais (que percorre os principais estados cafeeiros de Karnataka, Tâmil Nadu e Kerala) e a leste pela cordilheira dos Gates Orientais. A Índia conta ainda com diversos grandes rios, como o Ganges, o Bramaputra, o Yamuna, Godavari, Kaveri, Narmada e Krishna.

O clima da Índia varia entre o tropical, ao sul, e o temperado, ao norte. Nas regiões setentrionais neva com freqüência no inverno. O clima é fortemente influenciado pela cordilheira do Himalaia e pelo deserto de Thar (localizado ao noroeste da índia e a leste do Paquistão). Ambos são responsáveis pelos movimentos sazonais dos ventos de monção. A cordilheira do Himalaia impede que os ventos frios provenientes da Ásia Central adentrem no continente, o que mantém as temperaturas mais elevadas do que em outras regiões do mundo em latitudes semelhantes. O deserto de Thar por sua vez, desempenha um importante papel ao atrair ventos carregados de umidade vindos do sudoeste - as monções de verão - que entre junho e setembro ocasionam a maioria das chuvas na Índia. As monções influenciam enormemente a produção de café no país. Quatro grandes agrupamentos climáticos predominam na Índia: tropical úmido, tropical seco, subtropical úmido e de montanha.

FIGURA 2 - Estados e territórios da união


Fonte: Fabulous India, 2009.

Politicamente a Índia é uma República Federativa de 28 estados e sete territórios da união. Todos os estados e dois territórios, Puducherry e a Capital Nacional Delhi possuem governos eleitos. Os outros cinco territórios da união possuem administradores centrais indicados pelo Presidente. Os estados foram organizados em 1956, de acordo com a língua predominantemente falada na região. Desde então esta estrutura permanece basicamente a mesma. Os estados e territórios estão divididos em 610 distritos, que podem estar divididos em tehsils ou vilas.

A economia indiana é diversificada e engloba desde a agricultura de subsistência em vilarejos à moderna agricultura empresarial, do artesanato à um grande número de modernas indústrias, contando com um forte e diversificado setor de serviços. Este último é responsável pela maior parte do crescimento do país, respondendo por mais da metade do PIB indiano (54%) utilizando menos de 1/3 de sua força de trabalho. Por outro lado a agricultura é responsável pela ocupação de 60% da mão-de-obra e representa 17% do PIB. Já o setor industrial ocupa 12% da mão-de-obra e representa 29% do PIB. A força de trabalho indiana conta com um total de mais de 500 milhões de pessoas. A estimativa do PIB indiano para 2008 está em torno de US$ 1,237 trilhão, o que coloca a economia indiana como a 12° do mundo. As maiores indústrias do país estão na área têxtil, química, de processamento de alimentos, ferro, transporte de equipamentos, cimento, mineração, petróleo, máquinas e software.

Desde 1997, o crescimento médio anual do país está em torno de 7% ao ano. O país atingiu um crescimento em seu PIB de 8,5% em 2006, 9,0% em 2007 e de 7,3% em 2008. Este forte crescimento é suportado principalmente pelo grande número de pessoas qualificadas e fluentes na língua inglesa, que faz com que o país seja um grande exportador de serviços de software e de profissionais ligados à área de tecnologia da informação. Este crescimento, combinado com o abundante crédito pessoal e uma explosão imobiliária fez as autoridades do país se preocuparem com a inflação entre os anos de 2006 e 2008, o que levou o Banco Central indiano a aumentar as taxas de juros no país (12,5% em janeiro de 2009) e a diminuir a oferta de crédito. Apesar do grande crescimento obtido nas últimas duas décadas, a grande causa de problemas sociais, econômicos e ambientais ainda é a grande e crescente população de mais de 1,1 bilhão de pessoas. Desta população, mais de 40% viviam abaixo da linha de pobreza em 2005, ou seja, ganhavam menos que US$ 1,25 por dia de acordo com o Banco Mundial. O PIB per capita também é baixo, ao redor de US$ 941,00. Por outro lado, o país conta com mais de 300 milhões de pessoas na classe média, que estão cada vez mais acostumadas e interessadas nos hábitos ocidentais.

Para alimentar este grande contingente de consumidores a Índia investiu fortemente na busca pela auto-suficiência na produção de alimentos. O agronegócio sempre foi o setor mais importante da economia indiana, e apesar da diminuição de sua participação no PIB total, ele ainda desempenha um importante papel sócio-econômico no desenvolvimento do país. Estima-se que a agricultura seja responsável pela renda de mais de 115 milhões de famílias. De uma nação dependente da importação de alimentos, hoje a Índia é auto-suficiente em grãos. O progresso obtido na agricultura indiana nos últimos 40 anos se iniciou na década de 70 quando ocorreu a "Revolução Verde", uma série de ações para a elevação da produção agrícola como abertura de novas áreas de cultivo, expansão da irrigação, e o uso de variedades melhoradas e mais produtivas.

Variadas condições climáticas e sistemas de cultivo propiciam uma grande variedade de culturas agrícolas. A topografia, solos, chuvas e disponibilidade de água para irrigação são os fatores determinantes para a distribuição geográfica da agricultura indiana. As monções influenciam enormemente o tamanho e abundância da safra agrícola, sendo que hoje o governo busca soluções para diminuir a dependência de sua produção em relação às mesmas.

Em relação aos principais produtos de seu agronegócio, o país é o maior produtor mundial de leite, coco, chá, gengibre e açafrão. É o segundo maior produtor do mundo de trigo, arroz, açúcar, amendoim, frutas e hortaliças, e peixe; é o terceiro maior na produção de tabaco. Também possui o maior rebanho bovino do mundo. Ou seja, assim como o Brasil, o agronegócio indiano é muito forte, porém, a maior parte de sua produção abastece o gigantesco mercado interno.

Os desafios para o agronegócio indiano no futuro são enormes e apesar de gigantesco, o setor também enfrenta problemas. A população estimada para 2020 está em torno de 1,4 bilhão de habitantes. E esta população adicional em conjunto com o aumento da renda per capita gerará um grande aumento na demanda por alimentos. Estima-se que para atender esta nova demanda, o agronegócio indiano deverá crescer em média, e consistentemente, 4% ao ano.

As atuais práticas agrícolas não são economicamente e ambientalmente sustentáveis no longo prazo, e em comparação com outros países as produtividades são baixas. Boa parte dos sistemas de irrigação se encontram em estado precário e o serviço de extensão rural é deficiente. Assim como no Brasil, o acesso logístico aos mercados também é ineficiente, com muitas estradas em péssimas condições. A forte regulação do governo sobre a agricultura é vista como outro entrave. Os subsídios agrícolas, apesar de benéficos no curto prazo, limitam o investimento em tecnologia e produtividade.

FIGURA 3 - Visão geral do agronegócio na Índia


Fonte: Ministério da Agricultura da Índia, Worldbook Encyclopedia (1996) Encyclopedia Americana (1996) e CIC, 2008.

2. Produção

Um popular conto indiano diz que em peregrinação à Meca no século 16, Baba Budan, um religioso muçulmano muito conhecido na Índia, descobriu as maravilhas da bebida café e contrabandeou 7 sementes do porto de Mocha, no Yemen. De volta para casa, ele plantou as sementes nas encostas da montanha Chandragiri, no distrito de Kadur, no atual estado de Karnataka. Esta montanha ficou conhecida como "Baba Budan Hills" e é possível visitar seu túmulo até hoje. Porém, o cultivo comercial do café efetivamente teve início em 1820, introduzido pelos Britânicos. A ferrugem cafeeira dizimou boa parte das primeiras variedades, conhecidas como "Chick", "Coorgs" e "Kents". A partir de 1930 surgiram novas variedades mais produtivas e resistentes à ferrugem cafeeira.

FIGURA 4 - Mapas com as regiões produtoras de café na Índia


Fonte: Coffee Board of India e CIC, 2009.

A Índia é o terceiro maior produtor de café da Ásia, atrás do Vietnã e Indonésia, com uma produção média que gira em torno de 4,5 a 5 milhões de sacas de 60 kg. Os principais estados produtores são Karnataka, Kerala e Tamil Nadu, todos no sul da Índia. Áreas não tradicionais e com novos plantios aparecem dispersas nos estados de Andhra Pradesh, Orissa e nos 7 estados da região nordeste (Assam, Manipur, Meghalaya, Mizoram, Tripura, Negaland e Arunachal Pradesh).

As regiões cafeeiras indianas possuem uma grande diversidade de condições climáticas, que favorecem o cultivo de diferentes tipos de café. Algumas regiões de elevada altitude são apropriadas para Arábicas de qualidade, enquanto que as regiões de menor altitude, mais quentes e úmidas são melhores para o cultivo de Robusta. Em alguns casos é possível encontrar cultivos de Robusta e Arábica lado a lado. A produção de café Robusta cresceu muito mais rápido que a de Arábica e hoje representa aproximadamente 65% da produção total, enquanto que nos anos 1980 representava 50% da produção. São produzidos Robustas e Arábicas tanto lavados quanto naturais, sendo que a Índia é responsável por produzir os melhores Robustas lavados do mundo, muito apreciados pela crescente indústria do café espresso. Estima-se que 75% dos plantios possuem menos de 10 ha, sendo responsáveis por 70% da produção, enquanto que fazendas maiores (acima de 10 ha) respondem por 30% do total.

FIGURA 5 - Principais regiões produtoras


Fonte: Coffee Board of India, 2009.

A cafeicultura indiana possui algumas peculiaridades e a principal delas é a predominância do cultivo de café sombreado. A característica principal deste sistema consiste na utilização de duas camadas bem distintas de vegetação concomitantes ao café, com frutíferas de menor porte e árvores leguminosas perenes. Aproximadamente 50 espécies de árvores para sombreamento podem ser encontradas nas lavouras. Outra característica importante é a diversificação das lavouras com o cultivo de especiarias e frutas como pimenta, cardamono, baunilha, laranja e banana, que são plantadas entre os pés de café. Algumas espécies de árvores são exploradas para extração de madeira.

FIGURA 6 - Cafezal sombreado na Índia, com destaque para o cultivo de laranja e pimenta em conjunto com o café


Fonte: Coffee Board of India, 2009.

A grande diversidade das regiões cafeeiras indianas é muito bem usada como estratégia de marketing para atingir o mercado de cafés especiais. Cada região possui seu próprio selo indicativo, com explicações sobre a geografia do local, a vida selvagem e, principalmente o cultivo e a qualidade dos cafés. Abaixo segue um exemplo e alguns selos usados no marketing dos cafés da Índia.

FIGURA 7 - Exemplo de selo característico de uma região indiana


Fonte: Coffee Board of India, 2009.

FIGURA 8 - Outros selos de diferentes regiões


Fonte: Coffee Board of India, 2009.

Alguns cafés especiais se destacam por seu local de produção e sistema de benefício e qualidade. Dentre eles, chama a atenção o café das monções, ou "Monsooned coffee". A curiosa história deste café tem origem na época das grandes navegações, quando navios com os grãos de café demoravam meses até chegar a Europa. Durante a viagem, os ventos úmidos faziam os grãos absorverem umidade, mudarem de cor e adquirirem um sabor distinto. A evolução tecnológica e a redução dos tempos de viagem à Europa fizeram com que hoje os cafeicultores buscassem recriar os efeitos dos ventos das monções na própria Índia. Os cafés são preparados em armazéns especiais no sudoeste da Índia, onde os ventos das monções circulam entre os grãos de café e os umedecem. Este processo amarela o café e reduz a acidez, dando um sabor especial ao grão. Para preparar este café especial são utilizados grãos de Arábica e Robusta secos de forma natural.

A Índia é o 7° maior produtor de café do mundo, com estimativa total de produção de 4,17 milhões de sacas de 60 kg para o ano safra de 2008/09, sendo que deste total, 3,07 milhões de sacas são de Robusta e 1,10 milhão de sacas são de Arábica (Coffee Board of India, 2009).

GRÁFICO 1: Produção de café na Índia nos últimos 10 anos


Fonte: CIC e USDA

A estimativa de produção de 2008/2009 é 4,5% menor em comparação com 2007/2008, cujo total foi de 4,37 mi sacas de 60 kg. Esta redução deve-se principalmente aos problemas enfrentados nas lavouras de café Arábica, cuja estimativa de produção é 27% menor se comparada com o ano anterior. A produção de Robusta, por sua vez, cresceu 8,6%, de 2,8 mi de sacas em 2007/2008 para 3,07 mi de sacas no ano safra 2008/2009.

A perda estimada para a produção de Arábica varia muito de acordo com a fontes consultada e novas estimativas deverão confirmar o tamanho da mesma. A causa foi a irregularidade das chuvas durante novembro e dezembro. Chuvas intensas castigaram principalmente o estado de Karnataka. Outro grande problema enfrentado pela produção de café Arábica na Índia é a disseminação da praga conhecida como "broca branca do caule" ("white stem borer"). A rápida disseminação desta praga é contida através do uso de melhores práticas agronômicas, porém, para evitar a disseminação, as plantas infestadas devem ser erradicadas e substituídas por novas. Estas novas plantas demoram até três anos para entrar em produção, e estima-se que a área de replantio seja menor que a área de plantas eliminadas.

A área total cultivada gira em torno de 387 mil ha, sendo que a área em produção é de 343 mil ha. A expansão de novos plantios tem ocorrido de maneira constante ano após ano, com maior crescimento de plantios de Robusta. Em áreas onde tanto o Robusta quanto o Arábica podem ser cultivados, os cafeicultores preferem o Robusta por sua alta produtividade e menor risco a pragas e doenças, principalmente a broca branca do caule. Em anos recentes esta expansão tem ocorrido principalmente em estados produtores não-tradicionais como Andhra Pradesh e Orissa.

O tipo de processamento de café é variado. No Arábica predomina o café despolpado (lavado) enquanto o Robusta é principalmente processado por via seca (natural). O país é conhecido por produzir cafés Arábicas e Robustas despolpados de alta qualidade, muito demandados por consumidores de cafés especiais. A Índia é a principal fonte mundial de cafés Robustas lavados, que recebem prêmios excepcionais sobre as cotações da Bolsa de Londres (LIFFE).

A nova safra referente à 2009/2010, que se encontra em estado de pré-floração, começa a enfrentar problemas devido à falta de chuvas e altas temperaturas registradas entre janeiro e início de março de 2009, principalmente no estado de Kerala. Estas chuvas são essenciais para a nova safra, que deverá entrar no período de floração no final de março e abril. Estas chuvas de verão, também conhecidas como "chuvas da florada" são essenciais para a formação das flores e início da granação dos frutos.

Entre os principais problemas da cafeicultura indiana, destaca-se a falta de mão-de-obra qualificada, que migrou para as cidades aproveitando-se do crescimento econômico alcançado nos últimos anos. A mecanização da cafeicultura é difícil devido à topografia montanhosa, à sombra e ao cultivo em parceria com outras culturas.

3. Disponibilidade de café

O volume de exportações totais de café verde e solúvel para o ano de 2008 foi de 3,4 milhões de sacas, 8% menor que o valor alcançado em 2007. O ano de 2008 atingiu a marca de US$ 521,19 milhões de dólares em exportações, 1,75% acima dos US$ 512,10 milhões de dólares de 2007. Em média, 30% das exportações são de café Arábica, 50% de Robusta e 20% de café solúvel. Os principais mercados são a Itália, Rússia, Alemanha, Bélgica, Espanha, Finlândia e Ucrânia.

A Itália é o maior mercado importador de café indiano, respondendo por 25% do total. As exportações para a Itália têm crescido muito nos últimos anos devido ao grande e recente interesse da indústria de espresso italiana pelo café Robusta despolpado. No ano de 2008, os Robustas despolpados chegaram a conseguir um prêmio médio de US$ 530,00 por tonelada, ou 25% a mais que o preço na Bolsa de Londres. As exportações de Robustas despolpados para os EUA ocorriam de forma esporádica, porém em 2008, o interesse dos torrefadores estadunidenses pelo Robusta despolpado indiano aumentou. A Rússia é o segundo maior mercado, importando principalmente o café solúvel indiano. Grande parte do segmento do café solúvel destina-se à exportação, sendo que este mercado é dominado por multinacionais como Nestlé e Unilever, e o conglomerado indiano Tata Group.

A Índia importa café do Vietnã e Indonésia para re-exportação como solúvel. Existe um programa governamental chamado "Unidades 100% Orientadas para Exportação" que garante a importação de café sem nenhum imposto, desde que para posterior re-exportação com valor agregado. Este é um procedimento que tem crescido muito nos últimos anos.

A cafeicultura indiana é altamente dependente das exportações. O setor está sofrendo o impacto da recessão mundial, principalmente na exportação de cafés especiais para EUA e Europa e de café solúvel para a Rússia. No entanto, a desvalorização da moeda local, a rúpia, frente ao dólar, pode favorecer os ganhos com as exportações. Outro problema enfrentado é a recente quebra na produção, principalmente de café Arábica.

O consumo de café tem crescido na Índia nos últimos anos, impulsionado pelo aumento do consumo em regiões não-tradicionais do norte do país e pelo crescimento do hábito de tomar café nas cafeterias presentes em grandes cidades. Como exemplo, a maior rede de cafeterias do país com mais de 1.000 lojas, a "Café Coffee Day", cresce em ritmo acelerado abrindo em média 25 novas lojas por mês. A estimativa do consumo em 2007 foi de 1,5 mi de sacas. Em 2008, as estimativas de consumo de 1,58 milhões de sacas indicam um crescimento de 6%, taxa que vem se repetindo ano após ano.

GRÁFICO 2: Consumo de café na Índia nos últimos 10 anos


Fonte: USDA e Coffee Board of India, 2009

Apesar deste rápido crescimento, o consumo per capita ainda é ínfimo se comparado com o de outros países produtores (apenas 0,084 kg per capita). Isto se deve em grande parte à enorme população que é tradicionalmente consumidora de chá, porém, significa que existe um espaço gigantesco para crescimento. Tradicionalmente, o consumo de café na Índia se concentra nos estados do sul. De acordo com uma pesquisa encomendada pela Junta do Café da Índia, 80% do consumo se concentra no sul e do total de consumidores, uma alta porcentagem, de 40%, é de consumidores ocasionais. O consumo médio é extremamente baixo, de apenas 10 xícaras por ano. Tradicionalmente, o café torrado e moído é misturado com pó torrado de raiz de chicória para fazer um café mais forte, sendo que algumas marcas chegam a atingir o limite máximo permitido por lei, de 49% de chicória.

A Junta do Café da Índia está desenvolvendo um plano para aumento do consumo de café no país, concebido com o suporte da empresa brasileira P&A Marketing Internacional. O objetivo é dobrar o consumo de café na Índia, fortalecendo o mercado interno e diminuindo a dependência das exportações. O consumo de café ainda encontra forte concorrência do tradicional chá assim como dos refrigerantes e sucos, que tem maior apelo junto aos jovens.

Há um programa em curso para aumentar a capacidade de torrefação de café no país, em que o governo indiano planeja subsidiar 25% dos custos totais de implantação de novas indústrias, incluindo custos com transporte e impostos. Dentro deste programa, já lançado pela Junta do Café, prevê-se treinamento em torrefação de café, moagem, empacotamento e preparo da bebida. Seu alvo são jovens empreendedores de outras regiões que não o sul do país. O objetivo é ajudar estes empreendedores a instalar no norte e em outras regiões mais de 2.000 novas empresas nos próximos 5 anos.

4. Oportunidades e ameaças à cadeia produtiva brasileira

De maneira geral, a Índia não é uma grande ameaça à produção de café no Brasil, pelo contrário, tem potencial para ser uma grande oportunidade. Analisando a produção de café indiana, podemos dizer que seu espaço para crescimento, tanto em área quanto em produtividade, é limitado. Em relação à expansão da área cultivada, cedo ou tarde a cafeicultura indiana encontrará resistência governamental, pois o café terá que disputar espaço com a produção de alimentos para suprir a gigantesca demanda de seu mercado interno.

O crescimento em produtividade esbarra em questões fitossanitárias, tecnológicas e no próprio modo de produção sombreado e diversificado com outras culturas. Assim, tudo indica que se a Índia se transformar em um grande consumidor de café, como é, aliás, muito factível, ela será importadora de café e portanto cliente potencial do Brasil. Por este motivo, seria oportuno as indústrias brasileiras explorarem este mercado enquanto ainda incipiente para crescerem com ele e aproveitar as oportunidades. Por esta ótica, existe a possibilidade do Brasil explorar também a exportação de café Arábica verde para atender ao crescente mercado interno indiano, já que a maior parte do café Arábica produzido na Índia é lavado e uma boa parcela atinge o patamar de café especial e tem como destino a exportação e não o mercado local.

A produção de café Robusta lavado de melhor qualidade pode ser um grande exemplo e oportunidade para o Conilon brasileiro, pois abre um mercado interessante e de maior valor agregado para os Robustas no mundo.

Como ameaças, podemos citar os Robustas lavados indianos, que podem ameaçar a posição dos Arábicas brasileiros na composição dos blends da indústria de café espresso internacional. Como vantagem, os Robustas lavados possuem uma xícara mais limpa em comparação com os Robustas comuns, e o incremento de sua participação no blend não altera drasticamente os perfis da bebida final. É claro que esta substituição está ligada principalmente aos valores pagos no mercado internacional para Arábicas e Robustas. Os prêmios pagos pelos Robustas lavados indianos e sua boa produtividade têm incentivado a expansão do cultivo na Índia. O café Arábica indiano por sua vez é substituto importante do café Arábica brasileiro na Itália, onde vem tomando nosso espaço. Apesar de ser uma ameaça limitada devido à baixa produção, ela é importante, pois alcança o estratégico mercado italiano.

Talvez a maior ameaça não esteja na produção de café verde. A Índia tem expandido consistentemente sua capacidade de produção de café solúvel. Primeiramente, a Índia possui uma posição geográfica privilegiada em relação aos principais mercados emergentes (Rússia, China e Leste Europeu) em comparação com o Brasil. O próprio mercado indiano pode se tornar um grande consumidor de café solúvel. Outra vantagem, é que a indústria de solúvel indiana é favorecida pela importação de cafés baratos do Vietnã e Indonésia para posterior re-exportação com valor agregado. O aumento da oferta de matéria-prima local, o Robusta, também fornece uma segurança para os industriais. Como reflexo desta conjuntura, o número de indústrias de café solúvel e extrato de café na Índia cresce ano após ano, com ênfase na expansão da produção de café liofilizado, de melhor qualidade e mais caro.

A Índia é um país fascinante, de uma diversidade cultural, religiosa e econômica de proporções continentais. Vários "países" podem ser descobertos na Índia. O mercado indiano ganha ano após ano maior importância para o mundo do café. Se cada indiano consumisse 1 kg de café por ano, teríamos um adicional de 17,5 milhões de sacas de 60 kg, o que representa aproximadamente o consumo do Brasil hoje, que é o segundo maior mercado do mundo. Ou seja, é um mercado estratégico para o futuro do café e o Brasil pode aproveitar esta oportunidade para cravar marcas brasileiras de café por lá. Que café os indianos irão consumir no futuro?

As informações são do Centro de Inteligência do Café - CIC. Acompanhe outros relatórios do CIC já publicados no CaféPoint:

Etiópia

Guatemala, Costa rica e El Salvador

Indonésia

Peru

Vietnã

Colômbia

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