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Quando o consumidor manda: o fracasso da Starbucks na Austrália e o consumo de café no Brasil

POR LUIZ GONZAGA DE CASTRO JUNIOR

E EDUARDO CESAR SILVA

ESPAÇO ABERTO

EM 12/12/2012

3 MIN DE LEITURA

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A Austrália é uma próspera nação, com bons indicadores econômicos e sociais. É também um mercado sofisticado quando se trata de café. O consumo per capita está em torno de 3,0 kg atualmente, uma considerável evolução diante dos 2,4 kg consumidos em 2001. Apesar de estarem distante, no quesito consumo, de muitos países europeus, assim como do Brasil e dos EUA, os australianos são ávidos frequentadores de cafeterias, que são abundantes no país.

Algumas grandes redes de cafeterias são de origem nacional, como a Gloria Jeans Coffee e a The Coffee Club. Outro empreendimento, originário de lá e que chama a atenção dos consumidores de café, é a rede de cafeterias móveis Café2U. A partir de um sistema de franquias, a rede oferece vans equipadas com máquinas de espresso. Com isso, os empresários podem ir até os locais de maior movimento e trabalhar em eventos, por exemplo. Além desses grandes empreendimentos, existem milhares de cafeterias independentes nos grandes centros urbanos do país.

Com um setor de cafeterias tão movimentado, a Austrália entrou nos planos de expansão da Starbucks. A rede iniciou suas operações no país no ano de 2000, com a abertura da primeira loja. Em 2008 já eram 84 estabelecimentos. As lojas da Starbucks na Austrália seguem o formato utilizado no mundo todo: a mesma decoração, o mesmo cardápio, os mesmos blends. Nada de errado poderia acontecer. Mas aconteceu.

Em 2008 a rede anunciou o fechamento de 61 lojas no país, mais de dois terços do total. A medida foi tomada em um momento em que a Starbucks passava por dificuldades financeiras, o que a levou a fechar mais de 600 lojas nos EUA. No entanto, apesar dos números absolutos inferiores, proporcionalmente, o número de lojas fechadas na Austrália foi muito superior. Nos EUA, as 600 lojas em questão eram apenas uma reduzida fração das mais de 11 mil que a rede possui.

Algo deu muito errado para a Starbucks na Austrália. Mas o que teria sido? A resposta é surpreendente. A companhia de Seattle era pouco sofisticada para os exigentes consumidores locais. A afirmação pode soar estranha, afinal de contas, a maior rede de cafeterias do mundo criou o conceito de "experiência" em cafeterias. Seus variados drinks à base de espresso possuem custo elevado e suas lojas são sinônimo de sofisticação. Mas isso não bastou para os australianos.

O CEO da empresa, Howard Schultz, alegou "problemas únicos, referentes ao mercado australiano". Diversos jornalistas e analistas locais concordam que a Starbucks tentou o mesmo que vender gelo aos esquimós. A explicação está na forte cultura do café presente no país. Segundo esses analistas, quando a Starbucks chegou, diversas outras redes e empreendimentos individuais já haviam consolidado um refinado gosto por cafés especiais entre a população.

Em diversos países, a Starbucks ajudou a criar uma cultura de consumo de cafés especiais fora do lar, mas na Austrália isso já existia. Além disso, o café oferecido pela rede é comumente considerado "ruim" pelos consumidores locais.

Com isso, os australianos não viram muitos motivos para trocar sua tradicional cafeteria por uma Starbucks. Como resultado, dezenas de lojas operando no vermelho. Com o agravamento da crise enfrentada pela empresa ao fim da última década e o plano de reestruturação, as lojas foram fechadas.

Na verdade, a Starbucks não foi a única grande rede internacional a sofrer com o gosto dos australianos. Em 2011, o McCafé se desculpou publicamente com consumidores locais pela baixa qualidade do café oferecido. A rede vinha recebendo críticas constantes sobre o café servido. Após o pedido de desculpas, o McCafé prometeu melhorar a qualidade do produto e contratar baristas treinados.

O caso apresentado ilustra o poder que os consumidores podem exercer em um determinado mercado. Ao invés de impor um padrão de qualidade, as companhias devem atender ao que é demandado pela população. Infelizmente, isso se aplica aos produtos de baixa qualidade também. Em mercados onde se compra preço, caso do café torrado e moído brasileiro, introduzir produtos de alta qualidade exige cautela.

No entanto, é interessante e desejável que haja uma elevação no consumo de cafés especiais. Nesse caso, é preciso educar os consumidores. Eles precisam conhecer as vantagens do produto de qualidade e optar livremente por ele. Dessa forma, o padrão de qualidade da indústria será elevado gradualmente.

O Brasil está prestes a se tornar o maior consumidor de café do mundo. Quando essa ambiciosa meta for alcançada, já é preciso estabelecer a próxima: colocar o país entre os maiores consumidores de cafés especiais do planeta. Educar o consumidor nacional será fundamental para isso.

LUIZ GONZAGA DE CASTRO JUNIOR

Doutor em Economia Aplicada pela ESALQ/USP e professor associado da Universidade Federal de Lavras. Coordenador do Centro de Inteligência em Mercados (CIM).

EDUARDO CESAR SILVA

Coordenador do Bureau de Inteligência Competitiva do Café.

Doutorando em administração pela Universidade Federal de Lavras e mestre em administração pela mesma instituição.

É tecnólogo em cafeicultura pelo IF Sul de Minas - Campus Muzambinho.

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VAGNER NICODEMOS

EM 21/06/2016

Concordo com o Marco Antônio Jacobs, pois nosso café além de baixa qualidade ainda é super caro pro consumidor final. Cadê os órgãos fiscalizadores???
MARCO ANTONIO JACOB

ESPÍRITO SANTO DO PINHAL - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 25/04/2013

Eduardo ,



é super valido seu artigo , porem nosso problema brasileiro não é cafés gourmets , nosso maior problema é os cafés torrados e moídos standarts , se é que podem ser chamados de café.



minha proposta é de qualidade minima de café, não uma tinta preta de lixo de café.



por incrível que pareça, as industrias brasileiras conseguiram mudar a cor café , pois o café na xícara é preto.



minha proposta que vc tem conhecimento é dar um acordão (do verbo acordar) no mercado brasileiro , todos vão ganhar , produtor , industria , comercio e consumidores , me esqueci , quem mais ganha é o governo , pois vai receber polpudos impostos do setor.
EDUARDO CESAR SILVA

LAVRAS - MINAS GERAIS - PESQUISA/ENSINO

EM 14/12/2012

Prezado Felipe,

Agradecemos as informações adicionais. Concordamos com você quanto à influência do modo de pensar de cada povo, exemplificado pelo "Tall Poppy Syndrome". Com certeza se trata de um aspecto relevante.

Nossa argumentação sobre a Starbucks foi elaborada a partir de análises da própria mídia australiana sobre o fechamento das lojas em 2008. Embora sejam fontes de informação válidas, reconhecemos que podem haver limitações.

No entanto, a ideia central de que as escolhas do consumidor orientam a cadeia produtiva ainda é verdadeira. Isso é especialmente válido para o mercado de cafés especiais.

Contamos com suas valiosas contribuições para os próximos artigos.

Abraços.
FELIPE BARRETTO CROCE

MOCOCA - SÃO PAULO - PROVA/ESPECIALISTA EM QUALIDADE DE CAFÉ

EM 14/12/2012

Caros Luiz e Eduardo,

Obrigado pela aula.

Talvez para entender melhor nesse caso é importante nos aprofundar um pouco mais sobre o comportamento dos consumidores. Os Australianos e Americanos são povos bastante diferentes entre si. Enquanto os Americanos respeitam tudo o que é marca grande e compram quantidade primeiro e depois qualidade, os Australianos fazem o oposto. Existe um termo na Australia chamado ´Tall Poppy Syndrome´ que explica a forma dos Australianos pensarem contra aqueles que aparentam grandes e arrogantes e sempre preferem apoiar os pequenos e humildes.

Quando falamos nos cafés de commodity, o Starbucks não perde nada para um Gloria Jeans mas a imagem deles e um pouco menos corporativa. O que a Starbucks tem feito na Australia é mudar e refinar o logo e as lojas para serem mas discretos e ´descolados´. Mesmo assim hoje a frequencia é maior de gringos nos Starbucks da Australia.

abraços

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