Colômbia é sinônimo de café. Além disso, é um verdadeiro caso de sucesso no marketing agrícola, graças a um trabalho contínuo de promoção que teve início décadas atrás e apresentou ao mundo o já lendário Juan Valdez. O sr. Valdez se tornou um ícone mundial. Já fez participação especial em filme de Hollywood e tem sua própria rede de cafeterias.
No Brasil, é também sinônimo de cafeicultura bem sucedida, onde os cafeicultores recebem preços bons pelo seu produto, graças aos elevados ágios na cotação de Nova York. O que se percebe, de modo geral, é que existe um sentimento de admiração pela cafeicultura colombiana em nosso país. Às vezes os sentimentos não são tão nobres, é verdade, e isso ocorre devido a percepção de que no Brasil as coisas poderiam ser melhores, poderiam ser como na Colômbia¹.
A recente greve dos cafeicultores colombianos expôs uma realidade diferente. Cafeicultores em dificuldade no atual cenário de cotações deprimidas e revoltados contra a inércia do governo local. Diante da enorme manifestação, as autoridades aprovaram um aumento no subsídio pago aos cafeicultores, mas pela primeira vez um líder da Federacafé renunciou².
Embora as baixas cotações do café arábica sejam uma dura realidade enfrentada por todos os países produtores, uma análise mais detalhada evidencia que os problemas colombianos são mais antigos e profundos.
Nos últimos anos, a queda na safra colhida pelo país chamou a atenção. Mas os dados mostram uma tendência de redução nos volumes produzidos pela Colômbia desde a década de 1990. A conclusão mais simples para isso, de acordo com a economia, é que a cafeicultura é menos rentável que outras atividades, sendo gradativamente substituída. O gráfico apresenta a série histórica de produção anual de café colombiano.
Mas como explicar essa redução na safra se o café colombiano é cotado com prêmios significativos na bolsa de Nova York? A resposta foi oferecida por Vegro (2009)3. Segundo o pesquisador, as cotações da bolsa são apenas isso: cotações. Não representam necessariamente o que é pago ao produtor. A partir de dados da OIC, calcula-se que, em 2012, as cotações do café colombiano na ICE foram 34,5% superiores ao preço 'pago ao produtor'.
O diferencial de preços entre o café brasileiro e o colombiano em NY é fonte de constante indignação por parte dos cafeicultores nacionais. Mas a injustiça não é tão grande. Primeiramente, é preciso lembrar que nossos hermanos produzem café despolpado, enquanto nós produzimos, majoritariamente, café natural. Para o mercado internacional, o primeiro vale mais que o segundo.
Indo um pouco mais longe nessa questão, foi calculada a diferença entre os preços pagos, efetivamente, ao cafeicultor colombiano e brasileiro. Em seguida, calculou-se o diferencial das cotações de Nova York para os dois tipos de café. O resultado é interessante. Mostra que o diferencial entre os grãos dos dois países realmente existe, mas o valor verdadeiramente auferido pelo cafeicultor colombiano é bem menor do que se supõe tipicamente. O Gráfico 2 ilustra a questão.
Como se pode observar, em 6 dos 13 anos analisados o cafeicultor colombiano recebeu menos de 10 dólares a mais por saca de 60 kg, em comparação com os cafeicultores nacionais. Em apenas 2 anos o diferencial foi superior a 30 dólares. Considerando que a produtividade média do país nunca foi maior do que 17 sacas/ha e que a grande maioria dos cafeicultores possui 5 ha ou menos de lavoura, é difícil imaginar boas perspectivas de rentabilidade.
Embora receba menos por saca, o cafeicultor brasileiro é mais produtivo e possui uma escala de produção maior (lavouras maiores). Essas características precisam ser levadas em consideração.
Para se ter uma real dimensão das diferenças entre Brasil e Colômbia, seria necessário considerar outros fatores como inflação, salário mínimo e custos de produção, o que poderá ser feito em artigo futuro. No entanto, fica evidente que nem tudo são flores na Colômbia. A partir disso, pode-se até mesmo questionar o sucesso do seu marketing, já que o pequeno cafeicultor do país parece não ter se beneficiado tanto do sucesso do sr. Valdez.
Considerações finais
Os dados aqui apresentados evidenciam que a cafeicultura brasileira de arábica é competitiva frente a cafeicultura colombiana. Uma análise comparando os demais produtores dessa espécie provavelmente evidenciará que o Brasil é muito competitivo no segmento4.
No entanto, as preocupações de todos os produtores arábica do mundo repousam sobre o robusta. O estreitamento dos diferenciais nas cotações e o seu uso cada vez maior pela indústria causam preocupação. Uma análise sobre o tema será apresentada em nosso próximo artigo, avaliando questões como a competitividade do robusta e do conilon e novos fatores tecnológicos que tem favorecido o uso cada vez maior dessas variedades nos blends.
¹ Inúmeras notícias, artigos e reportagens televisivas evidenciam que, no Brasil, existe esse sentimento de que a cafeicultura colombiana é melhor.
² Greve de cafeicultores da Colômbia gera primeira renúncia da Federacafé. Disponível em < https://www.cafepoint.com.br/cadeia-produtiva/internacionais/greve-de-cafeicultores-da-colombia-gera-primeira-renuncia-da-federacafe-82911n.aspx > Acesso em 14 mar. 2013.
³ VEGRO, C. L. R. Arquitetos do quebra-galho. Disponível em <
https://www.cafepoint.com.br/mercado/relatorios-mensais/arquitetos-do-quebragalho-55870n.aspx > Acesso em 14 mar. 2013.
4 Como exemplo, podemos citar uma estatística simples: Entre 1990 e 2012, a produção mundial de café arábica teve um incremento de 16,7 milhões de sacas. Somente o Brasil foi responsável por 13,7 milhões, ou 82% do crescimento no período. Esse é um claro indicador de competitividade.
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