Por: Samuel Lopes, coordenador de cooperativas de café do Sescoop/ES, com contribuições de Alex dos Santos, mestrando em Administração pela Ufla.
Em um cenário marcado por fortes oscilações no mercado do café, com diferentes quantidades colhidas, em algumas localidades, fortes prejuízos e em outras, uma expectativa de recuperação dos ganhos de prejuízos de safras passadas, somado a discursos desconexos de algumas lideranças políticas quanto ao momento da cafeicultura, cabe refletirmos sobre o papel do produtor rural associado às cooperativas.
Esse é um ponto que precisamos debater e compreender melhor. É um problema antigo, mas sempre necessário ser debatido e combatido. Vejamos, se todas essas variáveis externas tendem a minimizar a competitividade das cooperativas que tentam trabalhar de forma honesta, profissional, respeitando a ética do mercado, onde estaria a força dessas organizações? Esse questionamento pode ser melhor compreendido quando pensamos que, a força destas organizações está na sua base, nos milhares de cooperados que as possui. Para tanto, é preciso compreender o papel destas cooperativas.
Considerando que são sociedades de pessoas, tanto por definição quanto por verdadeira formação, e ao somarmos um quantitativo que por natureza singela de organização já traz relevantes vantagens, no que tange a força de balizamento de mercado, aqui sim, podemos enxergar com mais clareza o papel do cooperado e força das cooperativas, que são os seus cooperados, ou melhor, os produtores rurais (cafeicultores). Ainda sim, aproveitando o pensamento de Horta Valadares, que definiu a sociedade cooperativa como sendo a extensão do cooperado no mercado, os pensamentos começam a clarificar.
Nesse momento de colheita, algumas atitudes são mais intensas, entre elas a tão conhecida infidelidade do quadro social no momento da entrega e comercialização do produto via cooperativa. Talvez você, leitor, se assuste da forma como colocamos esse assunto, mas esse ponto é crucial. Vamos lá, talvez você tenha em mente que isso possa realmente acontecer, mas será que nós sabemos os motivos, os fatores que levam os produtores a agir de forma destoante da tão sonhada competividade ao estarem organizados em cooperativas? Haveria razões para o produtor rural agir desta forma, pois, se os objetivos coletivos fossem atingidos, por consequência seus objetivos pessoais também não o seriam?
Bom, talvez a falta de clareza dos serviços que as cooperativas oferecem (essa tal vantagem competitiva é rotineiramente esquecida), preços nem sempre competitivos, Funrural (ainda um assunto em aberto), ausência de um processo de formação do quadro social quanto em questões de educação cooperativista, lideranças cooperativas e dirigentes distantes do quadro social, sem conhecerem as necessidades dos cooperados e da oferta de serviços condizentes com a realidade dos mesmos, possam figurar como alguns dos fatores possíveis que os levem a serem infiéis à sua organização. Outras questões podem ser o fato, desses produtores serem infiéis a elas por não se sentirem parte do processo, por não enxergarem-se dentro da cooperativa, por não perceberem nenhum incentivo a parte daquele oferecido aos demais membros do grupo. Para finalizarmos, será que nossas cooperativas estão refletindo sobre qual é a verdadeira necessidade de nosso produtor rural ou estariam elas olhando para o horizonte e esquecendo de olhar para dentro, para sua base, para o que realmente ela se propôs a ser, a extensão da economia de seus produtores rurais.
Por: Samuel Lopes, coordenador de cooperativas de café do Sescoop/ES, com contribuições de Alex dos Santos.