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Esforços conjuntos: sustentabilidade e os pequenos produtores

POR CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

P&A MARKETING E EQUIPE

EM 14/05/2014

4 MIN DE LEITURA

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O Brasil é reconhecido internacionalmente como um país de produtores de café de porte médio e grande, mas a área média das propriedades de café é cerca de 7 ha. e a quantidade de pequenos produtores é bem maior que a dos demais. Uma vantagem no Brasil é a legislação que previne a subdivisão da propriedade abaixo de um mínimo considerado economicamente viável para as culturas predominantes de cada região. Ou seja, a subdivisão da terra tem um limite que, quando atingido, força os herdeiros a tocarem a propriedade de forma conjunta.

Se o mercado de café está preocupado com a sustentabilidade da cadeia e, se a maioria dos produtores brasileiros é de pequenos cafeicultores, a pergunta que se faz é: o pequeno produtor é sustentável nos médio e longo prazos? Se por um lado existe uma tendência natural do tamanho médio das propriedades caírem em virtude do “efeito-herança”, por outro lado não só o custo de vida cresce com o tempo, mas as aspirações dos produtores rurais também crescem como um resultado natural do desenvolvimento econômico. Para piorar as coisas, há uma tendência de queda real de preços das commodities no longo prazo como resultado de avanços tecnológicos e outros fatores. Em suma, não é um cenário promissor ao pequeno cafeicultor!


Talvez forças de mercado ou ações do governo cuidem do problema e provoquem grandes fluxos migratórios do campo para as cidades e seus efeitos consequentes como a urbanização descontrolada (favelas, desequilíbrios sociais etc). Algo que já aconteceu em alguns países e está em curso em outros. Pela diminuição no total de produtores, este processo pode levar a um aumento relativo do cultivo sustentável. Mas isso significará um mundo mais sustentável?

As deseconomias de escala presentes na produção agrícola de pequeno porte são enormes, especialmente no acesso a tecnologia, um assunto que nós da P&A dominamos no que tange ao processamento do café pós-colheita. O investimento em máquinas de um benefício úmido somente dobra quando a capacidade do benefício é quadruplicada. Um secador de café grande custa somente o dobro de um equipamento menor com um décimo de sua capacidade. Algo similar acontece com outros tipos de máquinas e implementos, por exemplo: tratores, pulverizadores e equipamentos de irrigação. Tentativas de desenvolvimento de equipamentos para produtores de pequeno porte geralmente são bem sucedidas na parte técnica, mas falham na parte do custo. As dificuldades desta falta de escala são somadas à falta de acesso ao crédito para produtores pequenos adquirirem estes equipamentos e insumos.

A questão do crédito evidencia outro problema que afeta os pequenos cafeicultores: a falta de poder de barganha não só para comprar equipamentos e insumos, mas também na venda de seus cafés. Não é necessário um doutorado em economia para saber que, na média, um cafeicultor de pequeno porte compra seus insumos mais caro e vende seu café por menos que seus pares de médio e grande porte. Do mesmo modo que os produtos em uma venda de bairro geralmente são mais caros que os mesmos produtos em grandes redes de varejo.

Ao cafeicultor de pequeno porte só resta como vantagem competitiva seu próprio baixo custo de mão de obra, mesmo que ele geralmente seja forçado a “consumir” suas restritas economias ou seu capital limitado. A verdade é que esta mão de obra não é de baixo custo, mas acaba sendo “vendida” ou contabilizada (ou não) em um nível abaixo do mercado. Sem exageros, as perspectivas parecem amplamente desfavoráveis para o pequeno produtor que depende exclusivamente da cultura agrícola para viver. Existe alguma saída?

Foto: Guilherme Gomes/ Café Editora
Foto: Guilherme Gomes/ Café Editora

A receita pode ser mais simples do que se possa imaginar. Ao invés de se fazer a tecnologia se adaptar para a cafeicultura de pequeno porte e de se subsidiar crédito para o segmento, o foco deveria ser em unir os cafeicultores em grupo para se beneficiarem das economias de escala na tecnologia de processamento e para ganharem poder de barganha nas compras e vendas do grupo. Compartilhamento de equipamento, unidades de benefício comunitárias, compras em grupo, grupos de certificação e comercialização conjunta do café são alguns caminhos que deveriam ser trilhados. Obviamente isto é mais fácil de ser dito do que feito, mas estamos nos esforçando o suficiente?

Cooperativas existem há mais de 100 anos e associações de produtores não são tão novas também, mas seu uso e adesão não estão tão disseminados como desejado. Talvez estas formas tradicionais de associação devessem ser revitalizadas e formas inovadoras de associação devessem ser desenvolvidas para atender as necessidades dos pequenos produtores e dar-lhes maior poder de barganha. Caso contrário, estes produtores tendem a desaparecer no longo prazo. As verdadeiras barreiras parecem ser mais comportamentais e sociológicas do que tecnológicas e elas, portanto, devem ser tratadas como tais. Este é o desafio para os governos, agências de desenvolvimento e companhias preocupadas com a situação do pequeno cafeicultor.

CARLOS HENRIQUE JORGE BRANDO

Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP; pós-graduação à nível de doutorado em economia e negócios no Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA; sócio da P&A Marketing Internacional, empresa de consultoria e marketing na área de café

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ULISSES FERREIRA DE OLIVEIRA

POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 07/10/2014

Prezados, boa tarde!



Bom como colunista do site e principalmente por falar sobre a cafeicultura familiar e o Fair Trade não poderia deixar de expressar minha opinião sobre o tema abordado no artigo:



A opinião de que a cafeicultura familiar é pouco competitiva não me agrada, óbvio, na verdade isso me parece um tanto quanto oportuno, tentar desqualificar a cafeicultura familiar, ora, se não é competitiva, nada mais natural do que valorizar a produção em grande escala.



Faço um convite para que aqueles que não acreditam no poder de organização da cafeicultura em associativismo e cooperativismo que visitem uma associação/cooperativa Fair Trade, sim, tem muitos desafios, mas tem infinitas conquistas.



Recentemente em Poços de Caldas a ASSODANTAS adquiriu uma sede, com secador de café, maquinários para beneficiamento e ainda alugou um armazém onde os associados depositam a produção, sem custos.



O poder de barganha tão enfatizado no artigo, a mesma ASSODANTAS consegue hoje negociar a compra conjunta e ainda distribuir, sem custo, isso mesmo sem custos, para o associado, adubos e matéria orgânica.



Repito tem muitos desafios, mas é um processo interessante e que merece ser destacado.



Associações Fair Trade hoje compram melhor e vendem melhor.



Com o apoio de programas federais como o PRONAF, o PAA e o PNAE esses cafeicultores estão tendo novas perspectivas.



No ponto de vista da sustentabilidade para esses cafeicultores, creio que só não serão sustentáveis caso o avanço de grandes grupos empresariais na cultura do café, principalmente no Cerrado, não seja discutida.



Isso é um desafio não só para a cafeicultura familiar, mas também para as propriedades de médio porte.



Finalmente não acredito na terminologia pequenos cafeicultores (seria melhor dizer cafeicultores ou empresários rurais proprietários de pequenas propriedades). Ao dizer pequeno cafeicultor estamos rebaixando o cafeicultor, ou dizendo que realmente se trata de um cafeicultor de baixa estatura?
FREDERICO DE ALMEIDA DAHER

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 21/05/2014

Meu Caro Carlos Brando;

Bela reflexão.Aqui no ES,que o amigo conhece bem,Associações de Pequenos Produtores existem em profusão.A disponibilidade de credito para investimento atendendo os pequenos também é grande a custos que não excedem 2% a.a.

O que tem dificultado,em muito,a implementação de suas ótimas sugestões é a questão cultural do cafeicultor agir sempre individualmente nas suas tomadas de decisões.

Reconhecemos que temos bons exemplos a seguir,mas infelizmente são poucos.

Realmente,sozinho, fica muito difícil para esse grupamento majoritário de cafeicultores seguir vencendo.

Temos através do CETCAF com apoio de seus parceiros tentado mudar essa concepção de vida de nosso cafeicultor,mas ainda há muito chão pela frente.

Em nossos trabalhos de transferência tecnológica um tema que nunca falta nas nossas temáticas tem sido o associativismo e cooperativismo.

Vamos continuar trabalhando nesse ideário.
CELSO FURTADO FERREIRA

MANHUMIRIM - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 19/05/2014

Parabéns pelo artigo. Acredito que o pequeno produtor, principalmente desta minha região das Matas e Montanhas de Minas onde as operações mecanizáveis são limitadas, devem se unir conforme foi dito. Mas também penso na união e compartilhamento das atividades entre os membros da família e da comunidade mais próxima evitando importação de mão-de-obra temporária. Selecionando as melhores áreas para trabalhos e produção de café (preferencialmente de qualidade) e as restantes diversificando com culturas que ofereçam uma melhor dieta e saúde do grupo e assim economia interna do mesmo. Assim diminuindo a oferta de cafés comuns, diminuindo a demanda de mão-de-obra externa, aproximando e conhecendo melhor os vizinhos, fazendo permuta de produtos alimentícios colhidos na comunidade, permutas de dias de trabalho, informações, experiencias de vida e técnicas particulares de cada indivíduo; chegará o momento da formação de um grupo consciente e ativo para a formação de associação conforme seu artigo sugere. A redução da área cultivada com café disponibilizará maiores atenção e cuidados com a cultura trazendo maior produtividade, qualidade, agregação de valor e redução de custos. Menos cafés inferiores(mercado mais enxuto), mais destaque para a região e também melhores preços. Eh assim meu pensamento.  
REGINALDO MOACIR BELEZE

IPAUÇU - SÃO PAULO - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 16/05/2014

Na minha visão o pequeno produtor ainda não percebeu que cuidar dos afazeres fora da porteira e tao importante quanto trabalhar na propriedade produzindo. Quando se forma uma Associação é fácil achar um vice Presidente porque aparentemente não precisa fazer nada, mas Presidente ninguém pode, e assim com os outros cargos, e ainda acham que vão trabalhar de graça para os outros associados. Como os membros da Diretoria de uma Associação não são remunerados ninguém se dedica e a Associação tem vida curta. Enfim, o produtor não vai deixar de ser individualista, e o caminho mais curto para sua sobrevivência é a Associação. Para isso é necessário que haja uma fonte segura de receita, como as Associações de produtores de cana de açúcar, para cobrir os custos e um gerente capacitado e  remunerado para resolver tudo para os produtores. Crédito é o que mais tem, inclusive dentro do projeto de microbacias hidrográficas-acesso ao mercado, justamente para Associações, onde o governo de Sao Paulo paga 70% do investimento.
ARTUR SAABOR

EM 16/05/2014

Ótimo artigo. Mexe um pouco com a questão do associativismo. Mistura a questão das oportunidades dos pequenos com sua sustentabilidade a com a "impossibilidade da existência dos pequenos, enquanto unidades de produção potencialmente eficientes". Mas mantém os fabricantes de máquinas e equipamentos na sua cômoda situação de oferecê-los para grandes e médios. Os pequenos que se associem... ou não terão acesso . Por que não sair do comodismo tecnológico e trabalharmos na criação/adaptação de máquinas e equipamentos para os pequenos cafeicultores?
ISLÊ FERREIRA

ESPÍRITO SANTO DO PINHAL - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 15/05/2014

Carlos bom dia. Realmente você tem razão ao afirmar que as razões das dificuldades do associativismo e cooperativismo residem mais em problemas comportamentais e sociológicos. O cerne dessa questão é que a maioria dos produtores, independente de seu porte, possuem uma índole individualista, o que os leva a não entender ou desprezar o espírito associativo ou cooperativo. Não é crítica. É constatação. Daí, iniciativas que procuram elevar o poder de barganha dos pequenos produtores à partir do estímulo à sua agregação em associações ou cooperativas levam sempre ao insucesso. Ou, às vezes, a um processo de sucesso mascarado, onde os benefícios do negócio, apesar de aparentemente vantajosos, não alcançam todos os componentes do empreendimento. Fica sempre restrito a um pequeno grupo que normalmente é sempre mais participativo e que acaba criando, intencionalmente ou não, um pequeno feudo privado.  Acredito, com base em minha simples experiência, que devemos sim estimular a ação individual dos pequenos produtores. E esse estímulo vir acompanhado de orientação técnica e acesso a crédito oficial. A afirmação de que esse segmento não tem acesso a crédito creio não ser totalmente verdadeira. Quem conhece os inúmeros programas governamentais, as linhas de crédito do PRONAF, do PRONAMP, do BNDES  e a profusão de bancos, além dos oficiais, que hoje trabalham com crédito rural, sabe que o pequeno produtor, ainda que lutando às vezes com alguma burocracia, tem acesso ao crédito. E pode programar-se para adquirir maquinários, melhorar o nível tecnológico de suas lavouras e tornar mais efetivo e duradouro seu negócio. E isso tem acontecido muito mais frequentemente do que se imagina.
JOÃO RAIMUNDO BELAS OLIVEIRA

UTINGA - BAHIA - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 15/05/2014

Concordo com seu pensamento. Vejo sua sugestão como uma forma que só depende de nós, pequenos produtores, conseguir sobreviver na cafeicultura. Não tenho dúvida de que unidos seremos mais fortes.

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