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Cenário e tendências do mercado mundial de café

POR HANS CHRISTIAN SCHMIDT

ESPAÇO ABERTO

EM 03/10/2006

11 MIN DE LEITURA

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Retrospectiva da evolução do mercado

Desde meados da década de 90 a produção mundial de café tem apresentado um aumento significativo, não acompanhado pelo consumo. A oferta excessiva supera, nesse período, em quase 10% a demanda, elevando, assim, os estoques mundiais e acarretando queda das cotações do café.

Em 2001, a produção mundial de café alcançou o recorde de 120 milhões enquanto o consumo foi de 107 milhões de sacas. A elevação dos preços, em decorrência de geadas (em 1994) e seca (em 1997) nas regiões produtoras no Brasil, impulsionou este aumento de produção, uma vez que os preços altos, aliados às baixas barreiras à entrada atraíram novos e antigos produtores para o setor. Houve expressivo crescimento do parque cafeeiro na maioria dos países produtores, com destaque para o Vietnã e Brasil.

O aumento da oferta mundial repercutiu no aumento dos estoques nos países consumidores. No início da década de 1990, os estoques também eram altos, mas a sua maior parte se concentrava nos países produtores, especialmente no Brasil. Durante a década, os estoques foram sendo consumidos em função da escassez de oferta, chegando aos níveis mais baixos em 1998. A partir daí, o crescimento da oferta e dos embarques elevaram novamente os estoques, só que, desta vez, nas mãos dos consumidores, que passaram a deter quase 50% deles.

Esta situação favoreceu muito o poder de barganha dos compradores, resultando, em 2001, em patamares de preços 60% menores do que os obtidos em 1997. Se no início da década de noventa, as vendas mundiais de café no varejo eram da ordem de US$ 30 bilhões por ano; desse montante, os países produtores ficavam com um terço (US$ 10-12 bilhões). Em 2001, quando as cifras chegaram em cerca de US$ 70 bilhões, os mesmos países produtores ficaram com apenas US$ 5,5 bilhões desse montante (8%). Esta queda contrasta com o crescimento contínuo do valor das vendas varejistas nos países consumidores, que subiu de cerca de US$ 30 bilhões nos anos 80 para cerca de US$ 80 bilhões atualmente.

Os maiores importadores/consumidores de café no mundo são Estados Unidos, Alemanha, Japão, França, Itália, Espanha, Bélgica, Luxemburgo, Holanda e Inglaterra. Os cinco primeiros consomem em torno de 70% do café exportado. O mercado internacional de café no varejo encontra-se concentrado em poucas empresas (oligopolizado).

Atualmente, as cinco maiores indústrias de torrefação (Nestlé, Kraft Foods, Procter & Gamble, Sara Lee e Tchibo) adquirem quase a metade da oferta mundial de café verde. Nesta fase de crise, a indústria nos países importadores floresceu, produtos novos foram desenvolvidos, o valor do mercado varejista mais que dobrou e os lucros se avolumaram.

O fracasso das políticas de regulamentação e a crise da cafeicultura, com a conseqüente perda de receita, teve um impacto significativo na vida econômica e social de muitos países em desenvolvimento bem sobre sua capacidade produtiva e de investimento e as condições ambientais.

O empobrecimento de uma parcela significativa dos 25 milhões de produtores espalhados nos países de terceiro mundo levou movimentos de ONG´s, a proporem ações para reverter este quadro, visto que grande parte dos produtores dependem diretamente do café para o sustento de sua família. A Oxfam Internacional liderou tais ações, com o lançamento da campanha "O que tem no seu café" em 2002. A crise da cafeicultura e a busca de instrumentos que possam garantir a sustentabilidade da produção e melhor renda para os cafeicultores dominaram as discussões desde então em diversos fóruns nacionais e internacionais, envolvendo setor público, sociedade civil e setor privado.

Tendências do mercado

A qualidade e sustentabilidade em foco

Como conseqüência da crise há uma crescente preocupação sobre o desenvolvimento sustentável da cafeicultura, dentro dos enfoques mais recentes da Agenda 21, que preconiza conciliar os aspectos econômico, social e ambiental.

Dentro desse processo, o comércio internacional vem sendo afetado por exigências que visam qualidade e uniformidade de produtos, com alguma inspiração nos padrões das normas de qualidade ISO 9000, ou cuidados com o meio ambiente, dentro das normas da série ISO 14000.

Por outro lado, multiplicam-se mecanismos que procuram controlar todos os procedimentos ao longo da cadeia produtiva, com o objetivo de garantir, além do resultado econômico, a preservação ambiental, a adequação social do processo produtivo e a segurança dos produtos (segurança alimentar), inclusive permitindo a rastreabilidade das práticas adotadas.

Isso foi reforçado por diversos escândalos de contaminação de alimentos a nível mundial e sua conseqüência para a saúde humana. O mais famoso deles é da ¨vaca louca¨. No caso do café temos a preocupação com a Ochratoxina A (OTA). Associado a isso, a nível de consumidor, principalmente no exterior, mas também no Brasil, cada vez mais o nível de consciência e preocupação, sobre a situação crítica vivida pelos produtores e sobre os impactos do meio ambiente aumentam (aspectos sociais e ambientais).

Essa situação, tem levado à transformações no mercado de café nos últimos anos, promovendo uma maior diversificação de produtos e o surgimento de nichos de mercado, Cafés especiais - specialty coffees, que se baseiam em padrões ambientais, sociais, de qualidade e origem e algumas vezes combinações destes:

- Café Orgânico

- Café Fair Trade (Justo e solidário)

- Café e Conservação dos Recursos Naturais (florestas, biodiversidade, água)

- Café de qualidade superior/ finos/ gourmet

- Café de origem (geográfica)

O café tradicionalmente tem sido classificado (e remunerado) baseado em um sistema que leva em conta os seguintes aspectos:

- Tipo (numero de defeitos e impurezas)

- Bebida (Rio Zona, Rio, Riada, Dura e Mole)

- Peneira (tamanho do grão)

- Cor

A diferenciação de cafés gourmet e de origem certificada tem como base atributos físicos e sensoriais, como qualidade da bebida superior ao padrão. O consumidor, com um certo conhecimento sobre esse mercado pode distinguir pelas características da bebida, o café padrão do café de qualidade superior. São os chamados bens de experiência.

Neste caso, a informação a respeito da qualidade superior do produto só é obtida depois de experimentar o produto, ou seja, depois de efetivada a compra e o consumo. Para resolver esse problema é necessário, que se sinalize adequadamente, as informações relevantes como a qualidade atribuída a uma marca, por exemplo.

No que diz respeito aos cafés orgânico e Fair Trade, que além de atributos físicos também incorporam preocupações ambientais e sociais, o problema de mensuração das informações é mais complexo.

Também conhecidos como cafés conscientes, esses segmentos estão ampliando sua parcela no mercado de cafés especiais, em função do aumento da preocupação dos consumidores com as dimensões ambientais e sociais de seus padrões de consumo, o que tem estimulado suas preferências por bens produzidos de forma mais sustentável.

O consumidor, contudo, não consegue distinguir mesmo após o consumo se o produto possui os atributos desejados. São os chamados bens de crença. O consumidor deve confiar no organismo certificador, acreditando na veracidade do selo impresso na embalagem. Para isso é necessário, que se crie uma reputação e todo o caminho do produto ao longo do sistema produtivo seja rastreado para que não haja perda de informação.

Na maioria das vezes o aumento de custo de produção em função de adequações no sistema de produção, técnica de colheita e pós-colheita, investimento em equipamentos e infra-estrutura, certificação e marketing são compensados por preços superiores (ágio) que oscilam entre 50 e 100%, e em casos específicos até mais. Cabe ressaltar porém, que se trata de volumes reduzidos.

O segmento de cafés especiais representa atualmente cerca de 12% do mercado internacional, sendo que 5 % referente aos cafés com certificação sócio-ambiental. O Brasil não é um tradicional produtor de specialty coffees embora esse segmento venha crescendo significativamente nos últimos anos, sendo que, em 2005 foram produzidas 1 milhão de sacas, o que representa uma participação, em torno de 2,5% da produção total.

Podemos afirmar, que principalmente no caso do café arábica, o aspecto da melhoria da qualidade tem sido o fator determinante para a agregação de valor e melhor posicionamento no mercado. Deve ser salientado porém, que a classificação de qualidade e demanda de mercado de café também é influenciada por realidades regionais (gosto, nível de renda) e culturais, o que explica o fato de haver demanda específica, por exemplo, para bebida rio.

A crise de imagem, atrelando o café com pobreza, à degradação ambiental e baixa qualidade de produto leva o segmento do mercado principal (mainstream) e principalmente os setores do comércio e da indústria do café a reagirem buscando desenvolver o conceito da produção sustentável. Diversas iniciativas voltadas a implementação e viabilização de uma cafeicultura sustentável surgem após 2002.

Merece destaque o sistema EUREPGAP, organizado por grandes varejistas europeus com o objetivo de melhorar os padrões de frutas, hortaliças e carnes. EUREP refere-se a European Retailers Produce Working Group (Grupo de Trabalhos de Varejistas Europeus), que preparou um protocolo de Boas Práticas Agrícolas (Good Agricultural Practices - GAP), que devem ser seguidas pelos produtores, que recebem certificação de uma terceira parte. O protocolo de boas práticas agrícolas do EUREPGAP é considerado um código de conduta e já é adotado para certificação na cafeicultura por organização européia.

Com objetivos similares surgiu outra organização, conhecida como SAI - Sustainable Agricultural Iniciative (Iniciativa de Agricultura Sustentável), criada por três gigantes do comércio de alimentos: Danone, Nestlé e Unilever.

Uma outra iniciativa, a CCCC - Common Codes for the Coffee Community (Código Comum da Comunidade Cafeeira), surge em 2003 através da parceria da Associação Alemã de Café (DKV) e a Cooperação Técnica Alemã-GTZ, articulando diversos atores dos países produtores, industria e comércio e sociedade civil da cadeia de produção do café. Essa iniciativa desenvolveu, através de um processo participativo um código de conduta para a produção, processamento e o mercado de café, levando em conta as dimensões social, ecológica e econômica da sustentabilidade da produção.

Diversos projetos pilotos estão sendo implementados nos diversos países produtores da América Latina, África e Ásia por essas diversas iniciativas para aportar experiências para o desenvolvimento dos ¨Códigos de Conduta¨ e verificar e adequar os diferentes aspectos da sustentabilidade, que estão sendo identificados e implementados.

Diferente dos cafés especiais atualmente não há garantias de recebimento de melhores remunerações - o estímulo deve vir da redução de custo do sistema de produção, agregação de valor através de melhoria do produto, gestão da comercialização e benefícios ambientais e sociais. Algumas empresas como a Starbucks e a Neumann Kaffee Gruppe vem fazendo um pagamento diferenciado tendo como base um sistema de pontos. Empresas como a Procter & Gamble, Kraft e Nestlé também estão iniciando operações com cafés sustentáveis e especiais, fazendo pagamento diferenciado e oferecendo outros incentivos como contratos anuais e crédito.

A recuperação dos preços

Nos últimos tempos o mercado internacional vem apresentado uma recuperação dos preços do café, a crise da cafeicultura e a busca de instrumentos que possam garantir a sustentabilidade da produção e melhor renda para os cafeicultores estudos foram alvo de estudos e diagnósticos (como do Banco Mundial, Organização Mundial do Café - OIC) e dominaram fóruns e debates internacionais, como por exemplo as realizadas durante a II Conferência Mundial de Café em setembro de 2005 em Salvador.

Naquele evento, um significativo amadurecimento foi revelado pelos gestores da política cafeeira brasileira, ao afastarem, definitivamente, o fantasma das intervenções espúrias no mercado de café. Ao que parece, esse foi o principal resultado da conferência internacional de Salvador. Assim, é de se esperar que as ações vindouras sejam pautadas pela racionalidade e planejamento econômico.

Pode se observar uma diminuição dos estoques a nível internacional e nacional e uma produção sem fôlego para acompanhar o consumo. Com isso o mercado de café deve passar nos próximos anos por um período de oferta perigosamente apertada, segundo representantes da indústria, traders, analistas e produtores, o que leva a uma tendência de alta de preços (veja gráfico). Para alguns, o risco de desabastecimento não está descartado. O consumo mundial no ano de 2005 foi de 115,1 para uma produção de 115,04 milhões de sacas. Para 2006 está projetado um consumo em torno de 119 milhões de sacas para uma produção estimada em 108 milhões de sacas.


Fonte: David Neumann - Neumann Kaffee Grupe (NKG) 2005

Um outro fenômeno que merece destaque e o mercado crescente para conilon / robusta em função do crescimento do mercado de café solúvel, principalmente em mercados de consumo emergentes como China e Rússia. Além disso, também se observa que houve um aumento de conilon/ robusta nos blends do café torrado nos países importadores.

Cabe aqui aos gestores da política do café, mas principalmente aos produtores o cuidado de não iniciar um ciclo de expansão exagerada de área de produção, que alimentaria a espiral de sobre-oferta e iria conseqüentemente continuar o movimento de montanha russa (período de alta de preço seguida de crise) a qual caracterizou o mercado nos últimos anos. O princípio de uma cafeicultura sustentável se baseia no equilíbrio entre a oferta e demanda, a existência de produto de qualidade, produzido com responsabilidade social e ambiental, com uma maior transparência e rastreabilidade de mercado, que promove a agregação de valor ao longo de toda a cadeia e contribui com uma imagem positiva do setor.


Bibliografia

APRESENTAÇÃO DO GRUPO NEUMANN DE CAFÉ, David Neumann, 2ª Conferência Mundial de Café, Salvador, Setembro 2005

CADEIA PRODUTIVA DO CAFÉ, Estudo Exploratório 03, DESER, MDA, Curitiba, Abril 2005

CAFÉ: 2005 FOI O FIM DA VIA CRUCIS?, Nelson Batista Martin, Celso Luis Rodrigues Vegro, Artigo IEA, 09/01/2006, www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=4417

COMERCIALIZAÇÃO E TENDÊNCIAS DE MERCADO DO CAFÉ, Schmidt, Hans Christian, Apresentação PPT, Projeto DLS-ES, GTZ/INCAPER, Vitória Março de 2004

CRISE DA CAFEICULTURA FOI FOCO DE DEBATE DURANTE A II CONFERÊNCIA MUNDIAL DO CAFÉ, Notícias ABIC, 03/10/05, www.abic.com.br

DEFINICIÓN DE MISIÓN: POR UN CAFÉ VERDE SOSTENIBLE, SAI Platform, www.saiplatform.org

ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DE CADEIAS INTEGRADAS NO BRASIL: impactos das zonas de livre comércio, Cadeia: Café , Nota Técnica Final, Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (UNICAMP-IE-NEIT), Campinas, Dezembro de 2002

LIÇÕES DA CRISE MUNDIAL DO CAFÉ: UM PROBLEMA SÉRIO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, Néstor Osorio, Diretor-Executivo da Organização Internacional do Café, Comunicação à UNCTAD XI, em São Paulo, Brasil, em junho de 2004

OIC MANTÉM PROJEÇÃO DA PRODUÇÃO EM 108 MILHÕES DE SACAS, Notícias ABIC, 19/11/05, www.abic.com.br

PRODUÇÃO INTEGRADA DE CAFÉ - PIC, van Raij, Bernardo, Relatório de consultoria apresentado ao Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café - Embrapa Café, Campinas, Janeiro de 2004

PEQUENOS PRODUTORES E O SEGMENTO DE CAFÉS ESPECIAIS NO BRASIL UMA ABORDAGEM PRELIMINAR, SOUZA, Maria Celia M.,SAES, Maria Sylvia M., OTANI, Malimiria N., IEA - Instituto de Economia Agrícola, São Paulo

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