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Água seca

POR XICO GRAZIANO

ESPAÇO ABERTO

EM 19/02/2014

4 MIN DE LEITURA

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Prepare-se: vai faltar água na torneira. A situação é extremamente crítica. Em pleno verão, época de abundantes chuvas, os reservatórios estão minguados. Na agricultura, o forte calor associado às baixas precipitações estorrica as lavouras. Anda em busca de explicações o inusitado fenômeno climático.

Prato cheio para o catastrofismo ecológico. Estrilam sua voz os que apregoam o fim do mundo pela nefasta ação do homem sobre o meio ambiente. Na teoria das mudanças climáticas, o efeito antrópico sobrepõe-se às causas naturais. E uma de suas consequências, nessa questão hídrica, seria a maior variabilidade na lavanderia de São Pedro: épocas muito chuvosas se alternariam com outras muito secas, no mesmo local. Tempo maluco.

Em decorrência do aquecimento global, causado pelo acúmulo de CO2 na atmosfera, haveria também um deslocamento das zonas úmidas. No caso brasileiro, por exemplo, supõe-se que até o final deste século a floresta amazônica se transforme numa savana, um bioma árido semelhante ao cerrado do Centro-Oeste. Nesta região, inversamente, passaria a chover mais. Vai saber.

Há quem, observando as margens dos mananciais, jogue toda a culpa da falta d'água na supressão das matas ciliares, aquelas que protegem as beiradas dos rios, córregos e nascentes. É exagero, mas a questão existe. Houve, nos campos e nas cidades, uma ocupação desordenada dessas áreas ribeirinhas, prejudicando os recursos hídricos. Pelo interior afora se contam inúmeras minas d'água que tristemente secaram por causa do intenso desmatamento.

Hoje em dia, porém, a situação está melhorando. Aqui, no Estado de São Paulo, o desmatamento cresceu até os anos 1990, verificando-se um processo de recuperação ambiental desde então. Dados do Inventário Florestal indicam que a vegetação natural cobre atualmente uma área de 4,3 milhões de hectares, correspondente a 17,5% do território paulista. Antes eram 13,9%. Maior conscientização somada à repressão policial trocou a página da supressão vegetal, abrindo a da regeneração florestal. Com ajuda das áreas canavieiras, formam-se corredores de biodiversidade serpenteando os cursos d'água no campo. Fauna e flora agradecem.

Pode ser que as mudanças climáticas e a ocupação humana estejam afetando o regime de chuvas. Seca, porém, não é privilégio contemporâneo. Na História da humanidade verificam-se terríveis períodos com pronunciada falta d'água. Sua repetida ocorrência é arrolada por Jared Diamond entre as explicações do colapso da civilização maia. Somados à exploração exaustiva dos recursos naturais na península mexicana de Yucatán, longos períodos de severa estiagem explicam a derrocada de Tikal, por volta de 600 d.C. Era apenas o começo da desgraça. Todo o povo maia acabou terrivelmente afetado por uma grande seca iniciada em 760, cujo auge se deu 40 anos mais tarde. Uma década depois, em 810, seguidos anos com pouquíssima chuva aniquilaram essa agricultura pré-colombiana. Ferozes reis guerreavam buscando alimento e água. Até que, a partir de 910, uma seca de seis anos seguidos arrematou a tragédia.

Falar em seca aqui, no Brasil, lembra o Nordeste. Vem de longe o recorrente problema. O primeiro relato da falta de chuvas na região é de 1583, descrito pelo padre Fernão Cardim, então apiedado pelo sofrimento dos índios do sertão. Quase dois séculos depois, entre 1877 e 1879, parte importante dos moradores de Fortaleza pereceu em devastadora seca que afetou especialmente o Ceará. De tempos em tempos o nordestino padece no tórrido chão. Há dois anos, metade do gado bovino morreu no semiárido, durante a maior seca dos últimos 50 anos.

Os eventos históricos mostram, à farta, que muito antes de os cientistas se preocuparem com o meio ambiente as secas já danificavam economias e arrasavam populações. Os dramas mais recentes, desnudados pela facilidade das comunicações, ganharam viés ecológico, impressionando a opinião pública. Mas, cientificamente, ninguém garante os motivos que levaram a Austrália a ver sua competitiva agropecuária decaída por uma década de atípica de chuvas no início deste século. Na Califórnia (EUA), atormentada pelo terceiro ano seguido extremamente seco, o fenômeno continua sem explicação.

Pouco importa descobrir culpados, sejam humanos ou celestes. Em face do crescimento populacional e do consumo crescente, é imperativo investir seguidamente na proteção dos recursos hídricos, elevando a capacidade de "produção" e armazenamento de água. No curto prazo, com a ameaça de a torneira secar, resta somente uma alternativa: combater desperdícios, reduzir o gasto do precioso líquido. Nessa hora, desgraçadamente, se descobre que nossa cultura beira o esbanjamento, não o racionamento. É terrível.

Noutro dia, deparando com o zelador do prédio vizinho ao meu lavando a calçada com mangueira, tive a ousadia de interpelá-lo: "Vamos economizar água, meu amigo!" Tomei como resposta um xingo irônico: "Quem vai pagar a conta é você?". O incauto não tinha a menor ideia da gravidade da situação de nossos mananciais.

Desperdiçar água simboliza o passado. O Amazonas e os demais grandes rios brasileiros sempre transmitiram uma noção equivocada de fartura do precioso líquido, criando entre nós a impressão de ser a água um bem infinito. Essa incompreensão só se conserta com educação ambiental. É nos bancos da escola que se descobre que apenas 2,7% de toda a água existente na Terra é doce e que os rios e lagos respondem por ínfimos 0,3% dessa quantidade.

As crianças, educadas com novas atitudes, sabem que economizar água significa civilidade. Por isso não lavam calçadas.


*Xico Graziano é agrônomo e foi secretário de Agricultura e secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xicograziano@terra.com.br

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ALEXANDRE CASTRO CAMBRAIA

OLIVEIRA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 19/03/2014

(Continuação) ocasionada provavelmente pela própria lei que tentou impedir isso. Infelizmente nesse país as leis só ficam no papel porque a fiscalização e ineficaz e so trabalha com denúncias que naturalmente não chegam porque um vizinho acoberta o outro. Conseqüência disso: Todas as minas estão secando relatos de minas que brotam água a cem anos sem nunca parar e secaram!!! Represas vazias aos montes!!! Corregos secos...Riachos correndo 1/2 mm de água!!! Até uma cachoeira aqui perto que era um "véu de noiva" correndo milhares de litros de agua por segundo secou!!! Já ouvi relatos de cisternas e até de poços artesianos secando!! Que dia que o Ser Humano vai enxergar que somente ele mesmo eh o único responsável por tudo que acontece a sua volta?
ALEXANDRE CASTRO CAMBRAIA

OLIVEIRA - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE CAFÉ

EM 19/03/2014

A situação da estiagem eh gravíssima!! Em meus 35 anos de vida nunca vi nada igual! Recordo que na minha infância chovia nos meses de outubro novembro e dezembro quase sem parar aqui na fazenda; chegava a invernar umas duas semanas sem parar de chover sem sequer um raio de sol. Com o passar dos anos as chuvas foram diminuindo durando só nov. E dez. Depois só dezembro e agora nem isso! Como não raciocinar que a explosão demográfica populacional aliada ao desmatamento sem controle e sem critério ocasionaram  isso? E agora com a nova lei florestal que me parece muito sensata; que se danem os que falam em prejuízo econômico esses são escravos do dinheiro. Na minha propriedade todas as exigências do novo código sempre foram cumpridas desde o tempo de meu avô 30 m de app. Reserva legal de 20% registrada em cartório tudo conforme a lei. E nunca tivemos prejuízo por causa disso. A fazenda vai muito bem obrigado. Porém o que vejo ao redor eh uma corrida ao desmatamento sejam em grandes propriedades ou pequenas ocasionada
CARLOS DARIO ARAUJO PORTELA

TERESINA - PIAUÍ

EM 21/02/2014

Quero ver em dinheiro quanto SP,MG e outros vão receber- arrisco e de milhão pra frente , enquanto o NE fica com as cisterna em campo de futebol , que após reportagem do G.Rural foram encaminhada ao campo .

Agora é ver gente na calamidade(quase decretada) com 3m de de seca na minha região foi 8m em 2013 fora 2012.

WILSON MASSAMBANI

APUCARANA - PARANÁ - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/02/2014

Como explicar a seca ocorida no Paraná em 1963 após uma geada e que levou a muitos incêdios chegando a atigir uma área de 21.000 km2 (10% da área do estado) causando um dos maiores desatres ambiental do estado?
EDMUNDO BENEDETTI

UBERLÂNDIA - MINAS GERAIS - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 21/02/2014

Graziano seu artigo é incontestável e oportuno. Nós brasileiros ainda não demos conta da gravidade de uma prolongada ou breve estiagem na nossa vida. A falta de conhecimento sobre os aspectos hídricos reinantes no nosso país passam longe da consciência dos nossos, ou melhor, da maioria dos nossos irmãos brasileiros. Este artigo deve ser mais divulgado para a massa populacional.

Obrigado por ele!!!
JOAO HERBERT

POTÉ - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/02/2014

Excelente artigo.

Nesse ponto de vista devemos ser bem críticos, um país que está entre os de imposto mais alto do mundo, cabe a nós população cobrar e sermos menos passivos em relação a estas situações, taxas e impostos estão presentes em nosso orçamento e não são devidamente destinados como deveriam.

Ao governo, que vergonha! sem comentários, quando o próprio responsável é acomodado, e ao invés de boas modificações, só ouvimos sobre roubos e desvios multimilhonários no noticiário.

Onde estão as políticas de preservação, assistência e até mesmo a própria fiscalização  neste meio?
EMANOEL CHEQUETTO

VILA VALÉRIO - ESPÍRITO SANTO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 20/02/2014

Muito bom o artigo.



Em termos de economia seja ela de água, ou qualquer recurso natural ou não, todos pecamos! Apesar de estar embutido dentro do nosso cérebro a importância da preservação, da conservação, da economia e da reciclagem, nós, na hora de por em prática, não o fazemos com tanto afinco.



O mais impressionante é que os extremos, fossem eles de secas ou de inundações, aconteciam em intervalos de tempos maiores. Hoje, acontecem simultaneamente nas mesmas regiões. Como o exemplo do Espirito Santo que no mês de dezembro de 2013 teve uma pluviometricidade na casa dos 700mm e em janeiro e até o dia 18 de fevereiro sofreu com elevadas temperaturas e clima seco, com evapotranspirações nas casas dos 7mm dia, comprometendo a fase principal da granação do café.



Abraços.  
ROGÉRIO TREVISOLI

CAÇU - GOIÁS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 19/02/2014

Muito Boa Professor. Seu texto foi muito didático e realista, como os são, sempre. Por aqui na minha região a estiagem também está ocorrendo.

Abraços.
JOSE CELSO PUPIO

PINDAMONHANGABA - SÃO PAULO

EM 19/02/2014

Prezados

Acho que é tudo devido ao fenomeno "EL HOMEM". Em nosso país, já há algum tempo, existe uma certa consciência em preservação, e isso já vem ocorrendo efetivamente.

Ocorre, que não adianta só o Brasil, ou somente alguns países agir assim, é extremamente necessário que o Mundo todo pare de agredir, pois, nem sempre a fumaça de uma chaminé, irá poluir aquele local, isto é: estamos sentindo, muitas vezes, mudanças climáticas provocadas por outros países extremamente poluidores.

att

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