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Reality show agropecuário?

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 30/04/2015

4 MIN DE LEITURA

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Foto ilustrativa: Erico Hiller/ Café Editora
Foto ilustrativa: Erico Hiller/ Café Editora
 
Quem nunca criticou a programação da televisão aberta no Brasil? Os motivos para queixa são os mais variados: falta de opções, sensacionalismo, parcialidade na cobertura jornalística. Em cada roda de conversa, alvos favoritos fatalmente emergem, assim como os argumentos para tal escolha. Entre todos os programas exibidos, porém, talvez os mais polêmicos sejam os "reality shows". De fato, discutir a atual situação da televisão brasileira e não citar o formato é praticamente impossível.

Conforme qualquer pesquisa na Internet rapidamente nos mostra, reality shows têm seus exércitos de ardentes defensores e críticos implacáveis. É interessante notar, de qualquer maneira, que boa parte do mau humor acumulado se deve ao conteúdo apresentado em algumas de suas versões. Há quem odeie a ideia de reunir 15 pessoas em uma ilha deserta, ou que não suporte as competições de aspirantes a artista, apenas para citar dois potenciais alvos. Poucos, entretanto, direcionam sua raiva ao formato trazido por tais programas.

A percepção apresentada acima pode resultar de uma visão distorcida da realidade. Diga-se de passagem, entre as intenções desse texto não está a tentativa de analisar a essência de um reality show. Diante da concorrência de analistas com maior competência para discutir seus fundamentos, juízos de valor serão evitados. Os próximos parágrafos apenas buscam chamar a atenção para um interessante uso do formato no leste da África. O objetivo: disponibilizar informações relevantes para agricultores familiares.

O reality show em questão se chama Shamba Shape Up. Resultado da cooperação entre pesquisadores filiados a diversos centros, empresas, governos e uma produtora, busca levar conhecimento por meio de uma receita inusitada. Em cada um dos seus episódios, uma propriedade rural é visitada pelas câmeras do programa. Em meio ao diálogo com o apresentador, desafios são identificados: erosão do solo, baixa produtividade, etc. Na sequência, dá-se a chegada dos especialistas, cujas dicas auxiliam não apenas o agricultor visitado. Estima-se que o programa tenha mais de dez milhões de seguidores no leste da África.
Assista, abaixo, um dos episódios do programa (em inglês), que visita uma fazenda produtora de café!




Aos agricultores, a interação com o Shamba Shape Up não se resume ao papel de telespectadores, no entanto. Usando outras tecnologias recentemente disponíveis nas zonas rurais do leste da África, como telefones celulares, é possível interagir com o programa. Naquilo que é um dos aspectos mais fascinantes do projeto, indivíduos interessados podem requisitar o envio do conteúdo didático discutido no programa. Interação, nesse sentido, não se limita a táticas comuns, como eleições que influencie os rumos do reality show. Apropriar parte do conhecimento ali gerado certamente faz mais bem para a auto-estima dos telespectadores do que a participação por meio de um serviço pago. Claro, antes é necessário oferecer algo que possa mudar a vida das pessoas.

Muito pode ser dito sobre Shamba Shape Up. Em primeiro lugar, o êxito do programa nos ajuda a avaliar um argumento comum, de que a programação oferecida pela televisão aberta brasileira reflete as preferências dos seus consumidores. Trata-se de uma opinião frágil, sobretudo porque boa parte de seus defensores também costumam elogiar a criatividade e a competência daqueles que preenchem a grade horária diariamente. Ora, se TV se resume a auscutar o que a audiência pede e entregar sem censo crítico algum, valeria a pena discutir qual o sentido de canais optarem - e pagarem - por profissional X e não Y. Em grande medida, o que falta é coragem de testar novas fórmulas ou preencher as existentes com um recheio distinto.

Por outro lado, faz-se necessário reconhecer que determinados formatos caíram no gosto popular. Gostemos ou não do desfecho, a realidade é que milhões de brasileiros estão dispostos a assistir um reality show. Por que não pensarmos em modelos que maximizem a transferência de conhecimento relevante e, ao mesmo tempo, ampliem a interação com os telespectadores? Vendo valor na informação disponibilizada, indivíduos poderão aliar entretenimento com a aquisição de habilidades para sua rotina. Indo além, sentirão que são levados em consideração, algo fundamental em um país onde a participação nos processos econômicos e políticos é, para milhões de cidadãos, apenas teoria.

Casos como o do Shamba Shape Up oferecem um caminho interessante para o futuro. Ao preencherem formatos televisivos de grande popularidade com um informação útil para a rotina de milhões de agricultores africanos, o reality show conseguiu romper uma série de barreiras. A principal delas: demonstrar que, na televisão atual, há espaço para inovar tanto nos formatos quanto nos conteúdos. Não é pouco, tendo em vista o marasmo apontado por muitos na televisão aberta brasileira.

O programa, ademais, nos obriga a lembrar que, por trás da centralidade dos aparelhos de TV nas residências ao redor do mundo, costumam existir concessões públicas. Logo, é recomendável maior diálogo e cooperação para que canais ofereçam conteúdo condizente com objetivos com alto grau de aderência em uma determinada sociedade. Por exemplo, ninguém se oporia à afirmação de que "famílias devem ter acesso à maior informação possível para seu planejamento financeiro". Por que não usar as televisões para oferecer mais sobre o tema?

Finalmente, o exemplo aqui descrito serve como um alerta para os pesquisadores brasileiros. É fundamental refletirmos se nossas "boas intenções" estão dando os frutos esperados. Ou, para dizer de outra forma: estaremos divulgando da forma mais efetiva o conhecimento que, acreditamos, poderia ajudar milhões de pessoas a ter uma vida melhor? Olhar o lado menos otimista da história também é importante. Fazendo a lição de casa, talvez cheguemos à conclusão de que uma parcela do conteúdo produzido atualmente por cientistas sociais tem pouca ligação com a realidade imediata de seus potenciais usuários. Certo ou errada a hipótese, só saberemos se aumentarmos a interação com a população.
 
 

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 05/05/2015

Prezado Nisio,



Agradeço as palavras aqui deixadas. Acredito que, na cafeicultura, por exemplo, a dispersão de conhecimento pode ser fomentada de "baixo para cima". Em outras palavras, os próprios produtores podem se organizar e criar modelos que considerem efetivos para compartilhar experiências. Há cooperativas que já fazem um bom trabalho na divulgação de informações. Nunca é tarde, porém, para testar novos formatos.



Atenciosamente



Bruno Miranda
BRUNO VARELLA MIRANDA

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 05/05/2015

Prezado Marcos,



Obrigado pelo comentário. O caso narrado no artigo talvez seja o exemplo mais bem acabado de transmissão de conhecimento para agricultores por meio de meios de comunicação de massa. No entanto, não é necessário um canal de TV para fazer isso. É possível pensarmos em projetos mais simples como rádios comunitárias, publicações feitas em parceria com os produtores rurais, etc.



Acredito que existe enorme espaço para o crescimento de projetos nesses moldes no Brasil. Quem sabe algo não seja pensado aí na Bahia!



Atenciosamente



Bruno Miranda
NISIO JOSE SOARES

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

EM 01/05/2015

Excelente informação! Uma obra que por si só, demonstra a força e utilidade da internet para a humanidade. Desperta a consciência para o mal uso que se faz de um bem da população (televisão) e propõe uma abordagem por meios educativos, interativos e que resultem em conhecimento e crescimento das pessoas. Esta informação deve ser repercutida por todos amantes do futuro com uma sociedade economicamente estável e solidária.
MARCOS PIMENTA

LUIS EDUARDO MAGALHÃES - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 01/05/2015

Bom dia!

Excelente artigo, concordando com o autor na questão que as televisões deveriam oferecer mais a nós telespectadores.

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