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Inviáveis Preços

POR CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

CELSO VEGRO

EM 13/01/2015

5 MIN DE LEITURA

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Foto ilustrativa: Divulgação/WBC - Amanda Wilson
Foto ilustrativa: Divulgação/WBC - Amanda Wilson


Finaliza 2014 sob a cena da repentina queda nas cotações do Petróleo (rainha das commodities). Decisão da Opep em manter sua oferta ao redor dos 30 milhões de barris ao dia2  associada à súbita elevação da produção estadunidense3 , que já supera os 9 milhões de barris/dia numa clara estratégia de alcance da autossuficiência energética, acelerou a tendência de queda nas cotações do produto. Tal feito é resultado da difusão acelerada da tecnologia de fraturamento de rocha de xisto para a produção de hidrocarbonetos4 , processo custoso e ambientalmente bastante questionável, porém a pleno vapor naquele país.

Ademais, a economia global ainda não conseguiu trilhar nova rota de crescimento pós-ruptura de 2008. Estagnação europeia e japonesa, ligeiro crescimento da economia estadunidense – porém sem criação de empregos e a desaceleração chinesa, remetem a um contexto de redução da demanda por commodities em geral e petróleo em particular, desencadeando incremento de estoques e acentuando a baixa dos seus preços.

Concomitantemente, o conflito na província da Criméia e o movimento separatista em demais regiões ucranianas, desencadearam no Ocidente levantamento de sansões comerciais/econômicas contra a Federação Russa, grande exportador e petróleo e gás para a União Europeia. Aparentemente, assiste-se reedição da Guerra Fria – temática ainda controversa no debate, em que ao invés da exibição do poderio armamentista, passa-se na atualidade para a adoção de mecanismos de estrangulamento do mercado como: bloqueio ao acesso a fornecedores de gêneros de variadas naturezas, inclusive os de primeira necessidade; suspensão das aquisições de itens de fabricação russa e substituição de insumos oriundos daquele território. A queda nas cotações do petróleo contribui na aceleração da produção de crise fiscal na Federação, sendo provável que em algum momento demandará socorro financeiro das instituições responsáveis pela saúde econômica das nações (FMI, Banco Mundial, Banco dos BRICS).

A sinalização de que haverá elevação nas taxas de juros por parte do Federal Reserve (banco central estadunidense), estimula a indústria petroleira a incrementar sua produção (amortizar o endividamento antes da majoração dos juros) e, paralelamente, pressiona os armazenadores que ao arcar com maiores custos financeiros de estocagem, repassam-nos aos preços correntes, sendo esse movimento contraditório mais um fator de depressão no mercado do produto.

É sabido que o custo dos derivados do petróleo na matriz produtiva dos mais distintos segmentos é bastante significativo, estando a economia global a transitar pela vizinhança da deflação. A drástica redução nas cotações do petróleo, e seu repasse aos derivados, poderá lançar a economia global definitivamente na rota da deflação, produzindo a mais temível das doenças que a economia pode exibir. Trata-se, portanto, de espécie de jogo perde-perde com potencial de acelerar conflitos e o alastramento da desigualdade e da penúria das populações mais fragilizadas.

Aparentemente, o atual contexto possui capacidade potencial de promover ação disrruptora da atividade econômica a semelhança daquilo que se observou em 2008. Lançou-se sobre a dinâmica dos negócios um recrudescer da incerteza, acercando perigosamente o colapso.

Assim, o longo período de cotações do petróleo em altos patamares, permitiu a viabilização econômica/estratégica da tecnologia do fraturamento que desencadeou rearranjo da matriz econômica/organizacional global a partir da postura do cartel dos concorrentes. A destruição criativa far-se-á valer por meio de onda de Fusões & Aquisições (F&A) entre as empresas líderes, incrementando a concentração do capital e restringindo a margem de manobra para as nações adotarem medidas contra cíclicas, largamente empregadas entre 2009 e 2010.

Estabelecer patamar para as cotações do petróleo exige quadro normativo, ainda inexistente – cotações formadas pelo mercado, porém de elevado custo social, tendo em vista que os países encontram-se esgotados após a dinamização das despesas visando debelar a passada crise. A busca de tal novo arranjo, caso conduzido por fóruns de decisão supranacionais, também carece de mecanismos de financiamento do esforço, pois entre os países que compõem tais fóruns encontram-se aqueles que se beneficiam dos preços baixos (China, por exemplo).

A solução de mercado pautada pela reversão do ciclo econômico parece inadequada, na medida em que, desde 2008 espera-se tal inflexão, porém não ainda atingida. Mesmo a exceção representada pelos Estados Unidos é, aparentemente, insustentável, pois incrementou os níveis de desigualdade na sociedade civil abalando o espírito do “way of life”.

A concentração do capital como resultado da queda nas cotações do petróleo (e das demais commodities em função da tendência histórica de proporções de paridade entre elas) pode ensejar a construção de arquitetura capaz de administrar os preços, o que representaria solução de curto prazo para a crise. A aposta é arriscada na medida em que para se contrapor a um cartel se chancela a construção de outro.

Para o agronegócio brasileiro, os efeitos combinados de estresse econômico e geopolítico poderão promover, por hipótese, acirramento da competitividade nos mercados de commodities devido sua provável contração. Tal fenômeno pode ser benéfico, pois preços mais baixos exigiram maiores subsídios por parte de nossos concorrentes, conduzindo-os a um esgotamento da política de intervenção nos mercados. Os efeitos podem variar dependendo do atributo de elasticidade/inelasticidade de cada produto. Na agroenergia pode ser devastador, enquanto no café a demanda global permanece relativamente estável devido a sua conhecida inelasticidade.

Inicia-se 2015 sob a incerteza dos efeitos da chamada Petrorruptura 5 . A abrangência e profundidade das mudanças que induzidas pelo fenômeno serão ainda objeto de averiguação permanente. A instabilidade provocada pode redirecionar a dinâmica econômica produzindo crescimento mais baixo, demanda mais fraca e necessidade de adoção de inovações capazes de intensificar a tenacidade dos sistemas produtivos. No agronegócio café não será diferente.


Celso Luis Rodrigues Vegro
Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico VI
Instituto de Economia Agrícola
celvegro@iea.sp.gov.br
 
Notas
1- O autor agradece aos comentários e sugestões do Agente de Apoio a Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA Paulo Sérgio Caldeira Franco.

2- Isso sem mobilizar toda a capacidade ociosa da Arábia Saudita que permanece stand by para acirrar a guerra de preços se ela vier a se concretizar.
E também canadense, porém por meio da extração a partir de areias betuminosas, com custos ambientais igualmente elevadíssimos.
Os custos do fraturamento rondam os US$70/barril. Componente importante na matriz de formação desse custo consiste no pagamento de renda aos proprietários particulares das jazidas exploradas.

5- Detalhes em https://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=13551

CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

Eng. Agr., MS Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade. Pesquisador Científico VI do IEA-APTA/SAA-SP

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ALEXANDRE FRAGA DE OLIVEIRA

JARDIM ALEGRE - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 16/01/2015

Agradeço a resposta e a sugestão. Parabéns pelo trabalho.
CELSO LUIS RODRIGUES VEGRO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 14/01/2015

Prezado Alexandre Fraga

Seu questionamento é oportuno e merecer reflexão. Em primeiro lugar você em sua pergunta denuncia que compreende o argumento âncora do ensaio, ou seja, os preços são relativos. Posto isso, creio que sempre há espaço para rearranjos na composição das carteiras de investimento dos especuladores. Se assim não fosse, o café arábica não teria sido a melhor aplicação financeira em 2014, revelando que os investidores recompuseram suas carteiras para participar desse ganho.

A segurança alimentar e energética  situam-se dentre as principais preocupações de qualquer não ou bloco de nações. Aparentemente, ambas tem ganhado relevância em decorrência das mudanças climáticas já observadas. É possível que os próximos anos intensifiquem essa tendência sobrevalorando essas dinâmicas frente as seguranças financeiras e militar.

Gostaria de recomendar a leitura do trabalho anterior Petrorrupturas, pois esse que você comentou é uma complementação daquele.

Abçs

Celso Vegro
ALEXANDRE FRAGA DE OLIVEIRA

JARDIM ALEGRE - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 14/01/2015

Caro Celso, apreciei o artigo, mas gostaria de levantar uma questão. Será que não poderemos ver um rearranjo nas commodities, com as "alimentares" seguindo um ritmo próprio e ganhando destaque em relação às energéticas e metálicas? Não estaríamos entrando numa fase nova, onde água e alimento terão importância redobrada, promovendo inclusive acirramento de conflitos entre nações?

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